Introdução
Evoluindo dos relatos míticos e das epopéias homéricas, com relatos fantásticos que explicam o presente pela ação dos deuses num passado atemporal, a partir do século 6 a.c. os gregos desenvolvem uma atitude crítica em relação ao registro de acontecimentos, para distinguir entre fatos e fantasias.
Essa revolução no pensamento parece ser fruto do próprio desenvolvimento da polis: a adoção de leis para regular as relações nessa nova sociedade complexa criam um interesse natural pela evolução das dinâmicas políticas; e criam uma ruptura com a tradição, há uma procura por novos princípios de explanação e a dúvida surge como grande estímulo intelectual para as novas descobertas.
Xenófanes e Hecateu são exemplos dessa evolução; ao relatar fatos do passado registram suas dúvidas sobre os relatos divinos.
Heródoto (485 – 420 ac)
Declara que seu propósito é preservar a lembrança das grandes e maravilhosas ações de gregos e bárbaros. Mas seu método investigativo, fazendo viagens e buscando testemunhos dos acontecimentos históricos, permitiu fazer muito mais do que salvar fatos do esquecimento: ele dirige a investigação histórica no sentido da exploração do desconhecido e do já esquecido.
Seu trabalho concentrou-se no registro das guerras entre gregos e persas.
Características do método de Heródoto:
- Prioriza o registro sobre a crítica.
- Diferencia o que ele próprio viu do que ouviu de terceiros.
- Compara testemunhos e os classifica por grau de confiabilidade.
- O conceito de história é para ele muito amplo, abarcando não somente os aspectos político-militares, mas também descrições geo-etnográficas, mitológicas e religiosas.
Críticas:
- Não estabelece uma linha clara entre o que relata e o que julga verdadeiro.
- Acredita na intervenção divina nas questões humanas, o que afeta seu estudo das causalidades.
A despeito de ter sido muito respeitado na Antiguidade e receber de Cícero o título de Pai da História, seu estilo é mais elogiado do que seu rigor investigativo. Tucidides e diversos outros autores o criticam abertamente e chegam a taxa-lo de mentiroso.
Com o Renascimento e os descobrimentos marítimos os relatos de suas viagens despertaram grande interesse.
Hoje, com a visão de uma história cada vez mais extrapolítica e abrangente, Heródoto tornou-se ainda mais apreciado.
Tucidides (cerca 460 – 400 a.c.)
Concentrava-se na vida política; o restante é secundário. Considerava que o presente é a base para a compreensão do passado, e é o único tempo para o qual há informação confiável disponível. Ao contrário de Heródoto, estabelece para seus estudos um rigoroso recorte temporal e espacial.
Sua obra analisa as guerras do Peloponeso entre Atenas e Esparta.
Características do método de Tucídides:
· Rigor técnico: além da sóbria apresentação dos fatos, descreve de forma crítica as circunstâncias envolvidas, à procura das causas mais profundas de tudo.
· A causalidade não são as forças do destino, mas as paixões e interesses humanos; não há lugar para os deuses em sua obra.
· Narração concisa e desapaixonada, em ordem rigorosamente cronológica e destaque para os eventos mais importantes.
· Enfoque político; destaque para os aspectos militares e negociações políticas, reconstituindo até os discursos políticos dos líderes.
Críticas:
· Vê a história de forma linear: o passado é prelúdio do presente; Heródoto, ao contrário, confere importância própria ao passado.
· Ele se responsabiliza pelo que descreve, mas não indica com precisão suas fontes.
É muito respeitado na Antiguidade e seus textos considerados de grande confiabilidade, a despeito de haver muitas críticas a seu estilo como escritor. Tucidides volta a ser importante na 2ª. Metade do século 18, elogiado pela escola alemã que enfatiza a história política.
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