sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Canhões de Agosto, de Barbara W. Tuchman - Comentários



            Creio que este livro de Bárbara Tuchman é um exemplo excelente de como a história, a despeito de todas suas pretensões científicas, é uma atividade essencialmente literária. O historiador de sucesso é, em grande medida, um magnífico narrador. Uma boa narrativa, infelizmente, exige um roteiro bem definido; em outras palavras, certezas. Algo no estilo do “foi exatamente assim que as coisas aconteceram”.
            O historiador gosta de chamar a atenção para sua pesquisa documental sempre que quer realçar de onde emana a autoridade com que faz algumas declarações; Barbara não foge à regra: “todas as condições de tempo, pensamentos ou sentimentos e estados de espírito públicos ou particulares, das páginas seguintes, têm uma base documental”. É apenas lamentável que ela não seja tão franca em apresentar as escolhas que fez quando a documentação era omissa ou contraditória em algumas questões importantes.
            Não quero de forma alguma tirar o mérito da obra; “Canhões de Agosto” ganhou o Prêmio Pulitzer de 1962 e é seguramente uma das melhores obras sobre os momentos iniciais da Primeira Guerra Mundial; o único livro que se aproxima é “Agosto 1914”, de Soljenitzin, que trabalha com um recorte temporal e geográfico muito mais específico, da invasão da Prússia por forças russas no inicio do conflito, enquanto Bárbara cobre os acontecimentos das duas frentes.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Octávio Paz: produção cultural e trajetória política recente



            O escritor mexicano Octávio Paz (1914-1998) é considerado um dos maiores escritores do século XX e um dos maiores poetas de fala hispânica de todos os tempos; seus poemas tornaram-se conhecidos a partir da década de 1930, mesmo período em que iniciou sua militância política de esquerda: em 1937 foi um dos delegados mexicanos ao Congresso Antifascista realizado na Espanha republicana, em plena guerra civil.
            Adquiriu ambas, o amor pela literatura e a militância política, no berço: seu avô, Irineu Paz, intelectual liberal e novelista, era um apaixonado pela literatura clássica e moderna; seu pai, Octavio Paz Solórzano, foi advogado de Emiliano Zapata em plena Revolução Mexicana e mais tarde deputado. Formado em direito, em 1937, estudou nos Estados Unidos nos anos seguintes. Sua carreira diplomática começa em 1945, tendo trabalhado na França, Índia e Japão. Abandonou a carreira em 1968, em protesto pelo massacre de Tlatelolco, onde policiais mexicanos dispararam contra estudantes durante protestos.
            Recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1990; a temática social é muito forte em suas primeiras obras; ao longo da carreira passou a centralizar sua atenção sobre temas existencialistas, como a solidão.
            A decepção com a esquerda começa ainda nos anos da Guerra Civil Espanhola; em 1951 ele denuncia abertamente os crimes stalinistas e o processo logo caminha para uma ruptura completa com os intelectuais de esquerda, que ele passa a criticar de forma cada vez mais ácida. Identificado com as idéias da terceira via, a partir da década de 1970 define-se como um liberal.

sábado, 12 de julho de 2014

Disseminação de idéias no milieu esotérico: notas sobre a influência de Gurdjieff no Movimento Gnóstico de Samael Aun Weor




 Introdução

            O objetivo deste artigo é contribuir com o debate proposto pelo sociólogo italiano Pierluigi Zoccatelli, que analisa a influência das idéias do esoterista armênio George Ivanovitch Gurdjieff (1866-1949) sobre o Movimento Gnóstico fundado pelo colombiano Samael Aun Weor em 1949.

            O objetivo de nossa pesquisa é analisar estratégias discursivas de legitimação doutrinária e identitária no milieu do moderno esoterismo ocidental; interessam-nos em particular historicizar os processos de apropriação e construção de representações sociais a partir da metodologia proposta por Roger Chartier e Sandra Pesavento. A definição e delimitação do esoterismo como campo de estudo acadêmico é tema de um acesso debate dentro da Ciência das Religiões; optamos pelo estudo do esoterismo enquanto campo específico de pesquisa, a História do Esoterismo Ocidental, e em especial pela abordagem cultural proposta por historiadores do esoterismo como Kocku von Stuckrad, Willian Goodrick-Clark e Wouter Hanegraaf, que propõem um modelo de história religiosa que concebe a Europa como um espaço multirreligioso onde ocorre uma permanente dinâmica de inter-relação e influência mútua, e que consideram o esoterismo como elemento estrutural da cultura ocidental moderna (Stuckrad, Goodrick-Clark, Hanegraaf); a delimitação do objeto de estudo e a definição de sua identidade comum é feita a partir dos conceito de cultic milieu de Colin Campbell (Campbell, p. 122-123), e de “campo discursivo” de von Stuckrad, que basicamente versam sobre como os traços comuns da cosmovisão esotérica superam as barreiras institucionais e estimulam um intenso trânsito de idéias e uma profunda apropriação sincrética. (Stuckrad 2005, p. 3-11)