tag:blogger.com,1999:blog-4900832866892993352024-03-13T04:46:20.551-07:00História e AutoconhecimentoMarcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.comBlogger38125tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-2577917596097184682014-10-03T17:05:00.000-07:002014-10-03T17:05:13.816-07:00Canhões de Agosto, de Barbara W. Tuchman - Comentários<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Creio
que este livro de Bárbara Tuchman é um exemplo excelente de como a história, a
despeito de todas suas pretensões científicas, é uma atividade essencialmente
literária. O historiador de sucesso é, em grande medida, um magnífico narrador.
Uma boa narrativa, infelizmente, exige um roteiro bem definido; em outras
palavras, certezas. Algo no estilo do “foi exatamente assim que as coisas
aconteceram”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
historiador gosta de chamar a atenção para sua pesquisa documental sempre que
quer realçar de onde emana a autoridade com que faz algumas declarações;
Barbara não foge à regra: “todas as condições de tempo, pensamentos ou
sentimentos e estados de espírito públicos ou particulares, das páginas
seguintes, têm uma base documental”. É apenas lamentável que ela não seja tão
franca em apresentar as escolhas que fez quando a documentação era omissa ou
contraditória em algumas questões importantes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Não
quero de forma alguma tirar o mérito da obra; “Canhões de Agosto” ganhou o
Prêmio Pulitzer de 1962 e é seguramente uma das melhores obras sobre os
momentos iniciais da Primeira Guerra Mundial; o único livro que se aproxima é
“Agosto 1914”,
de Soljenitzin, que trabalha com um recorte temporal e geográfico muito mais
específico, da invasão da Prússia por forças russas no inicio do conflito,
enquanto Bárbara cobre os acontecimentos das duas frentes.</div>
<a name='more'></a><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
estratégia discursiva de Bárbara Tuchman pode ser resumida em fazer coro com a
versão largamente aceita sobre os fatos, embora ela busque demonstrar que faz
isso a partir de uma análise isenta dos fatos. Por exemplo, a ênfase está posta
nos planos alemães de violar a neutralidade da Bélgica, e na agressividade
alemã em episódios como a crise de Agadir, todos eles argumentos
muito comuns em narrativas sobre o cenário que conduz à guerra mundial.
Curiosamente, pouca atenção é dada à aliança ofensiva que os franceses
estabeleceram com o Império Russo; a autora segue o caminho tradicional: era a estratégia
mais eficiente para evitar uma nova invasão alemã, criando a certeza da
abertura de uma segunda frente. Bárbara prefere ignorar o fato de que os
franceses não ignoravam o fato de que a aliança russo-francesa praticamente
obrigava os alemães a tomar a ofensiva à menor ameaça de mobilização por parte
de seus vizinhos, como única forma de evitar um conflito prolongado onde seu país
seguramente seria derrotado. Mais: os franceses sabiam que os alemães estavam
planejando uma grande ofensiva para o intervalo de tempo necessário para os
russos mobilizarem suas tropas, e estavam investindo pesado em ferrovias russas
que pudessem reduzir esse tempo; isso evidentemente estava sendo interpretado
pelos alemães como uma ameaça.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Embora
seja evidente que os franceses façam planos para recuperar Estrasburgo, ela
prefere ver os franceses do inicio do século XX de forma simpática e bonachona;
estão ocupados em administrar seu papel de centro cultural do mundo e em
administrar seu vasto império colonial. Quando na verdade a única coisa que
dissuade os franceses de atacar é a evidente superioridade militar dos alemães;
se os alemães vivessem algum tipo de situação interior semelhante à dos russos
em 1905, não resta dúvida de que os franceses cruzariam a fronteira.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há
uma disparidade na forma como se pesam a violação da neutralidade belga, por
parte dos alemães, e a violação da soberania turca no episódio de apresamento
dos navios de guerra turcos que estavam sendo construídos em estaleiros
ingleses; as duas medidas são indicativos claros de uma visão européia: o
pragmatismo militar está acima de considerações diplomáticas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Por
outro lado, acredito que Bárbara trata com bastante equilíbrio a questão das
atrocidades cometidas por forças alemãs em território belga, desconstruindo
alguns mitos criados pela publicidade aliada: ainda que não se possa negar uma
política deliberada de terror contra populações civis, com a intenção de
solapar rapidamente a resistência inimiga, as ações decorrem em boa medida por
conta da inexperiência das tropas e um medo paranóico de ação de
franco-atiradores na retaguarda.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Finalmente,
Bárbara deixa evidente, ainda que procure minimizar isso em seu texto, que a
derrota alemã decorre de um enorme erro de avaliação por parte do comando alemão: crendo que as forças
francesas estavam derrotadas e debandando, enfraqueceram sua ala direita com o
envio de tropas para a Prússia e mantiveram tropas num ataque frontal pelo
centro. A tenaz que avançava pela direita só não foi detida antes do Marne por
conta da impressionante incapacidade de se coordenar uma contra-ofensiva entre
as forças franco-inglesas presentes na fronteira belgo-francesa. Não ouve um
“milagre do Marne”, uma vez que os franceses haviam então alcançado
superioridade numérica, suas linhas de suprimento haviam sido encurtadas e
estavam dispondo de tropas frescas, enquanto os alemães estavam em desvantagem
numérica, desgastados por horas de marchas forçadas (fruto da teimosia com que
von Kluck estava a dois dias desobedecendo ordens de fazer alto) e com suas
linhas de provisão excessivamente distendidas; na verdade, o milagre foi de
fato que os alemães conseguissem evitar ser completamente cercados e destruídos
no Marne, o que poderia ter conduzido a um rápido fim do conflito.</div>
Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-29461690601585897062014-09-25T15:38:00.000-07:002014-09-25T15:38:10.896-07:00Octávio Paz: produção cultural e trajetória política recente<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]--><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O escritor mexicano Octávio Paz
(1914-1998) é considerado um dos maiores escritores do século XX e um dos
maiores poetas de fala hispânica de todos os tempos; seus poemas tornaram-se
conhecidos a partir da década de 1930, mesmo período em que iniciou sua
militância política de esquerda: em 1937 foi um dos delegados mexicanos ao
Congresso Antifascista realizado na Espanha republicana, em plena guerra civil.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Adquiriu ambas, o amor pela
literatura e a militância política, no berço: seu avô, Irineu Paz, intelectual
liberal e novelista, era um apaixonado pela literatura clássica e moderna; seu
pai, Octavio Paz Solórzano, foi advogado de Emiliano Zapata em plena Revolução
Mexicana e mais tarde deputado. Formado em direito, em 1937, estudou nos
Estados Unidos nos anos seguintes. Sua carreira diplomática começa em 1945,
tendo trabalhado na França, Índia e Japão. Abandonou a carreira em 1968, em
protesto pelo massacre de Tlatelolco, onde policiais mexicanos dispararam
contra estudantes durante protestos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Recebeu o prêmio Nobel de Literatura
em 1990; a temática social é muito forte em suas primeiras obras; ao longo da
carreira passou a centralizar sua atenção sobre temas existencialistas, como a
solidão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A decepção com a esquerda começa
ainda nos anos da Guerra Civil Espanhola; em 1951 ele denuncia abertamente os
crimes stalinistas e o processo logo caminha para uma ruptura completa com os
intelectuais de esquerda, que ele passa a criticar de forma cada vez mais
ácida. Identificado com as idéias da terceira via, a partir da década de 1970
define-se como um liberal.</span></div>
<a name='more'></a><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sua obra literária possui diversas
facetas, mas sua reflexão política sem dúvida nenhuma é a que gerou maior
número de polêmicas: a crítica feroz que fazia ao autoritarismo do mundo
socialista e ao sistema político mexicano pós-revolucionário conhece uma
progressiva evolução na profundidade de análise ao longo dos anos 60 e inicio
de 70; muitos críticos avaliam que sua capacidade intelectual decresceu desde
então, chegando ao ponto mais baixo quando decidiu apoiar a candidatura de
Carlos Salinas à presidência, em 1988, e seu intenso programa de privatização
da economia mexicana.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O próprio Paz dedicou-se a um
trabalho autobiográfico extremamente crítico, em 1993; seu livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Itinerário</i> faz uma longa reconstrução
crítica de sua reflexão política: os anos de desencantamento com o socialismo
(1939-1959); seguem-se três décadas de crítica feroz à atuação da esquerda:
para ele a grande crítica ao comunismo </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">está baseada no fato de, ao instaurar em
termos filosóficos uma “lógica da história” como uma instância superior e
alheia à vontade e intenções dos homens, abriu a porta pra que na realidade
política concreta se cometessem as piores atrocidades contra os indivíduos,
existindo sempre a possibilidade de justifica-las acudindo ao chamado desse
futuro que, infalivelmente, haveria de alcançar-se”.</i> (LEDESMA, 279)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Paz admite que a queda do Muro de
Berlim e o repentino desmoronamento de todo o mundo socialista, a partir de
1989, o pegaram desprevenido, inclusive a derrota dos sandinistas nas eleições
de 1990. Paz admite sua surpresa: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">"Siempre creí que el sistema
totalitario burocrático que llamamos 'socialismo real' estaba condenado a
desaparecer. Pero en una conflagración; y temí que en su derrumbe arrasase a la
civilización entera. "La velocidad de los acontecimientos lo asombra:
"No preví que un hombre y un grupo, colocados precisamente en lo alto de
la pirámide burocrática, ante la descomposición del sistema, se atreverían a
emprender una transformación de la magnitud de ésta que presenciamos.</span></i><span style="font-family: Arial;">"(MONSIVAIS, p. 79)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sua análise das causas para o rápido
desmoronamento do sistema socialismo fez com que se enamorasse então do
discurso que apresentava as forças de mercado como o meio que alavancava o
avanço e a busca da igualdade e da liberdade. Chegou a escrever entusiasmado
sobre isso, em 1990. E nesse contexto abraçou o projeto de privatização de
Carlos Salinas, que enxergava então como a única forma de quebrar o controle
que políticos do PRIa exerciam sobre a economia mexicana; como declarou na
época:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Uno
de los rasgos que ha distinguido al PRI de otros partidos ha sido su inserción
en el Estado y, a través del Estado, en la economía: las poderosas empresas
estatales. Los miembros del PRI ejercen sucesiva o simultáneamente, funciones
políticas, económicas y administrativas en el gobierno. De paso: ésta es una de
las razones que explican la lentitud y la dificultad del proceso democrático en
México. Algo semejante, aunque en mayor escala sucede en los antiguos países
comunistas. Pues bien, las privatizaciones han desalojado a los políticos y los
burócratas de varios centros vitales de la economía mexicana. Así se ha
despejado, en parte, el camino a la democracia."</i>(Idem)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O namoro foi de curta duração; Paz
agora denuncia que as privatizações de Salinas produziram uma espiral espantosa
de corrupção no país e dirige suas críticas às filosofias que vêm no mercado a
solução de todos os males sociais:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">“Ayer dijimos el horror que sentíamos
ante lãs injustifcias del sistema totalitário comunista; com el mismo rigor
debemos ver ahora a lãs sociedades democráticas liberales. Su defensa, siempre
condicional y sujeta a caucion, debe continuar pero transformada em uma crítica
de sus instituiciones, su moral y sus práticas, sociales y políticas”</span></i><span style="font-family: Arial;"> (Itinerário, p. 124)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Concorda humildemente com algumas
das críticas que sempre recebeu da esquerda e até então havia negado e
desdenhado: enfocou suas baterias críticas fundamentalmente contra os problemas
do mundo socialista, e apenas com o fim deste passou a ver com o mesmo rigor as
sociedades democráticas liberais. Condena o discurso de “fim das utopias”, “fim
do socialismo”; para ele agora o que acabou foram os regimes opressores; o
verdadeiro socialismo precisa ser resgatado:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">“...no fue ni es utopia: es um ideal
respetable y em muchos aspectos admirable. Debemos rescatar lo que tengha de
rescatable. Y tiene muchas cosas rescatables”</span></i><span style="font-family: Arial;"> (idem, p. 193)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É um imenso périplo que retorna ao
ponto de partida: Paz surpreendeu a intelectualidade de esquerda em 1950 ao
dirigir uma crítica feroz ao regime estalinista; num artigo intitulado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Os campos de concentração soviéticos”</i>
ele afirmou que não se podiam confundir o fracasso das ditaduras burocráticas
que se auto-intitulavam socialistas com o próprio ideal socialista. O poeta,
clara e enfaticamente, assinala que os crimes destes regimes são exclusivamente
deles, não podem ser atribuídos às idéias socialistas. Quase meio século
depois, Paz retorna com intensidade ao mesmo discurso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">Chiapas 1994: a crítica da modernidade
ou a modernidade crítica.</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A publicação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Itinerário</i> ocorreu quase simultaneamente com a rebelião zapatista
de Chiapas. Octávio Paz envolveu-se então numa de suas últimas polêmicas: cinco
dias após o inicio da rebelião o escritor assinou um artigo chamado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“O nó de Chiapas”</i> em que fazia uma
análise feroz do movimento: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“No debe
olvidarse que lãs comunidades indígenas han sido enganadas por um grupo
irresponsable de demagogos”.</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sua opinião produziu uma chuva
furiosa de críticas, sobretudo partidas da intelectualidade mexicana, que Paz
desqualificou em outro artigo escrito dois meses depois: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">“Triunfo de la literatura: gracias a la
retórica y a su indudable talento teatral, el subcomandante Marcos há ganado la
batalla de la opinion. Em esto, no em uma pretendida ‘postmodernidad’, reside
el secreto de su popularidad entre los intelectuales y entre vários sectores de
la clase media de nuestra capital”.</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Dois anos depois sua opinião sobre
os neozapatistas havia mudado; num artigo de fevereiro de 1996 ele escreveu:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">“Coincido com Marcos em que, em esta
hora de México y del mundo, nos hace falta um proyecto nuevo. El mio es muy
vago pero incluye a todos, sin exceptuar a los excomulgados por uma u outra
inquisicion. Ademas, creo que esse proyecto no puede ser unicamente nacional”.</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Palavras de sua última aparição
pública, em dezembro de 1997:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">“Ahora se habla mucho de democracia em
México, solo que, em general, se la reduce a uma serie de ideas y de conceptos.
No, la democracia es tambén uma prática. A su vez, lãs práticas sociales, al
arraigarse, se convierten em hábitos y costumbres, em maneras de ser. Para que
la democracia funcione realmente debe haber sido previamente asimilada e
incorporada a nuestro ser mas intimo. La democracia debe transformarse em um a
vivencia. Esto es lo que, todavia no sucede em México”. </span></i><span style="font-family: Arial;">(LEDESMA, p. 286)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Bibliografia</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">LEDESMA,
Xavier R. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">El Siglo de um poeta: la
reflexion política de Octavio Paz</i>. In Estúdios sobre lãs Culturas
Contemporâneas, no. 22, diciembre 2005, pp. 275-290. Universidad Autônoma del
Estado de México.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-style: italic;">MONSIVAIS,
Carlos<i>. Adonde yo soy tú somos nosotros</i></span><span style="font-family: Arial;">, Octavio Paz: crónica de vida y obra. Mexico, 2000. Hoja Casa Editorial;
disponível em: <a href="http://www.excentricaonline.com/libros/escritores_more.php?id=6231_0_8_0_M">http://www.excentricaonline.com/libros/escritores_more.php?id=6231_0_8_0_M</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial;">PAZ, Octavio. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Itinerário</i>. México, 1994. F.C.E.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial; mso-ansi-language: EN-US;">___________. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The media spetacle comes to Mexico</i>. New
Perspectives Quarterly v11 (Spring 94) 59-60.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial;">SOLANO, Patrício. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Octavio Paz: el hombre y su obra</i>.
Disponível em: <a href="http://www.ensayistas.org/filosofos/mexico/paz/introd.htm">http://www.ensayistas.org/filosofos/mexico/paz/introd.htm</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-64971053080202919362014-07-12T13:07:00.003-07:002014-07-12T13:07:50.070-07:00Disseminação de idéias no milieu esotérico: notas sobre a influência de Gurdjieff no Movimento Gnóstico de Samael Aun Weor <!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]--><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>I<span style="mso-bidi-font-weight: normal;">ntrodução</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
objetivo deste artigo é contribuir com o debate proposto pelo sociólogo
italiano Pierluigi Zoccatelli, que analisa a influência das idéias do
esoterista armênio George Ivanovitch Gurdjieff (1866-1949) sobre o Movimento
Gnóstico fundado pelo colombiano Samael Aun Weor em 1949.</div>
<h1 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O objetivo de nossa pesquisa é
analisar estratégias discursivas de legitimação doutrinária e identitária no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">milieu</i> do moderno esoterismo ocidental;
interessam-nos em particular historicizar os processos de apropriação e
construção de representações sociais a partir da metodologia proposta por </span><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Roger Chartier e Sandra Pesavento. A definição e delimitação do
esoterismo como campo de estudo acadêmico é tema de um acesso debate dentro da
Ciência das Religiões; optamos pelo estudo do esoterismo enquanto campo
específico de pesquisa, a História do Esoterismo Ocidental, e em especial pela
abordagem cultural proposta por historiadores do esoterismo como Kocku von
Stuckrad, Willian Goodrick-Clark e Wouter Hanegraaf, que propõem um modelo de
história religiosa que concebe a Europa como um espaço multirreligioso onde
ocorre uma permanente dinâmica de inter-relação e influência mútua, e que
consideram o esoterismo como elemento estrutural da cultura ocidental moderna
(Stuckrad, Goodrick-Clark, Hanegraaf); a delimitação do objeto de estudo e a
definição de sua identidade comum é feita a partir dos conceito de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cultic milieu</i> de Colin Campbell
(Campbell, p. 122-123), e de “campo discursivo” de von Stuckrad, que
basicamente versam sobre como os traços comuns da cosmovisão esotérica superam
as barreiras institucionais e estimulam um intenso trânsito de idéias e uma
profunda apropriação sincrética. (Stuckrad 2005, p. 3-11) <a name='more'></a></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></b>O sociólogo italiano Perluigi
Zoccatelli realizou uma importante pesquisa sobre as idéias do ocultista
armênio <span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">George Ivanovich Gurdjieff
(1866-1949); num primeiro momento ele reflete sobre as possiveis influências
presentes no processo de formação de sua “Psicologia do Quarto Caminho”; em
seguida ele analisa o impacto que as idéias de Gurdjieff tiveram sobre o
esoterismo tradicional e sobre a nova onda de espiritualidade sincrética
conhecida como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Movimento Nova Era</i>, ou
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">New Age</i>. Num de seus artigos ele
analisa com muita propriedade como a cosmovisão de Gurdjieff e seu principal
discipulo, o físico e psicólogo P. D. Ouspensky (1878-1947), são apropriadas e
representadas na obra do esoterista colombiano Samael Aun Weor.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Zoccatelli
é um dos diretores do <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black;"><a href="http://it.wikipedia.org/wiki/CESNUR" title="CESNUR"><span style="color: black; text-decoration: none; text-underline: none;">Centro Studi Sulle
Nuove Religioni</span></a></span></i><span style="color: black;"> (CESNUR) e
membro de diversas associações de estudos acadêmicos do Esoterismo e de
Psicologia e Sociologia da Religião. Num artigo para a revista Aries ele
enumera as três razões que o levaram a estudar o tema: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.25pt;">
<span style="color: black;">(1)
Gurdjieff e Samael são duas figuras muito importantes para a compreensão do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">milieu</i> esotérico-ocultista
contemporâneo; ambos constituem a origem de uma complexa genealogia de grupos e
instituições que se difundiram a nível internacional e abarcam dezenas de
milhares de membros; nós acrescentaríamos que suas idéias não se restringiram
ao campo religioso, tendo exercido poderosa influência sobre a cultura e a
sociedade modernas, desde campos tão diversos como a educação, artes e
psicologia, até a formação de movimentos políticos. Zocatelli acredita que a
dinâmica dos grupos criados por ambos esoteristas se encaixa na categoria de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“hipertrofia da filiação”</i> proposta pelo
sociólogo Massimo Introvigne, mas que para afirmar isso faltam estudos mais
detalhados; os estudos sobre Gurdjieff ainda contêm uma série de lacunas
importantes, enquanto que sobre Samael há pouquíssimo material produzido até o
presente<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span></span></span></a>.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.25pt;">
<span style="color: black;">(2)
Zoccatelli considera que Samael e Gurdieff constituem dois exemplos interessantes
para validação do conceito hermenêutico-sociológico de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“carisma do livro”</i>, proposto pela norte-americana Jane
Willians-Hogan; a autora propõe a idéia analisando a obra de Emanuel Swedenborg
(1688-1772) e constatando como seus livros vão dar origem a uma pletora de
movimentos organizados que extrapolam completamente as intenções presumidas do
autor; o livro proporciona uma experiência íntima que ele resume da seguinte
forma:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.35pt;">
<span class="hps">É um</span><span class="hps"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"> fenômeno</span></span><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"> <span class="hps">de particular importância</span>,
<span class="hps">ao mesmo tempo</span> <span class="hps">universal</span>, <span class="hps">porque atrai</span> <span class="hps">a atenção para um</span> <span class="hps">nível de realidade mais profunda</span>, que desempenha <span class="hps">uma função</span> <span class="hps">unificadora e vai além de seus
conceitos culturais de pertencimento, e pessoal, na medida em que convida o
indivíduo a confrontar-se com sua própria vida e suas necessidades, na qual o
individuo encontra num livro uma resposta que parece apelar especificamente a
ele. (Zoccatelli 2005, p. 256)</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.25pt;">
<span class="hps"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">(3) Finalmente, Zocatelli admite que os
ensinamentos de Samael lhe trouxeram uma compreensão muito mais profunda sobre
o verdadeiro papel da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">magia sexual</i>
(ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">alquimia interna</i>) nos
ensinamentos do próprio Gurdjieff; ele destaca duas descobertas que ele procura
demonstrar ao longo do texto: a primeira, de que o entendimento tradicional de
que a questão sexual é meramente periférica e não prioritária no sistema de
trabalho interior gurdjieffiano é fruto de uma leitura superficial, e de que
uma leitura a partir da interpretação proposta por Samael demonstra que o tema
é parte do coração do Quarto Caminho, como Gurdjieff chama seu modelo de
trabalho interior, e não pode ser compreendido senão a partir da compreensão da
sexualidade como forma eminente de relação com o transcendente. A segunda é o
papel central que o pensamento de Gurdjieff desempenha na obra samaeliana:
Zocatelli argumenta que Krum-Heller forneceu a Samael o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">modus operandi</i> da magia sexual, mas que todo o suporte teórico que
sustenta a prática foi extraído quase literalmente da obra de Gurdjieff e seu
principal discípulo, Ouspensky (idem, p. 267).</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.25pt;">
<span class="hps"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Meu propósito é analisar o processo de
assimilação das idéias de Gurdjieff por Samael. Pretendo demonstrar que elas
não ocorrem desde a fundação do Movimento Gnóstico, como acredita Zocatelli
(idem, p. 272), mas são fruto de um longa transição do modelo rosacruz de
Krum-Heller até o sistema gurdjieffiano que dura pelo menos uma década.
Adicionalmente, vou apresentar a hipótese de que toda uma problemática surgida
ao longo dessa transição doutrinária constitui a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">causa causorum</i> do principal cisma dentro das instituições gnósticas
nos últimos anos de vida de Samael.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.25pt;">
<span class="hps"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">O iniciado rosacruz</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 26.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nosso
estudo de caso analisa exatamente um personagem situado na transição entre o
esoterismo tradicional e a Nova Era, o esoterista colombiano Victor Manuel
Gómez, auto-intitulado Samael Aun Weor; o movimento fundado por ele pode ser
definido como “fronteiriço” em diversos sentidos: temporalmente, pela
precocidade com que incorpora idéias que serão marcas identitárias do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Movimento Nova Era</i>, como a crença no
aparecimento de naves extraterrestres; Samael está situado num periodo de
transição entre as instituições esotéricas tradicionais formadas na segunda
metade do século XIX e a nova religiosidade de inspiração esotérica que vai se
disseminar com incrível velocidade a partir da década de 1960; geograficamente,
por nascer e se expandir na periferia do universo esotérico ocidental, cujo
centro tradicional de irradiação é a Europa; grupos esotéricos na América do
Sul com alguma expressividade somente são conhecidos a partir da 1920. Sua
ímpar situação temporal e geográfica o torna um elemento especialmente
interessante para fins de delimitação conceitual dos objetos em questão,
Esoterismo Ocidental e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Movimento Nova Era</i>
(Snoek, p. 9).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Victor
Manuel Gómez nasceu em Bogotá em 1917, numa família de classe média. A infância
de Victor foi marcada pela separação de seus pais; após uma curta e turbulenta
convivência com a madrasta passou a viver com a mãe, aos 12 anos; a partir de
então começou a ter contato com grupos espíritas. O contato com a literatura
espírita, sobretudo Kardec e Leon Denis, logo despertou seu interesse por temas
esotéricos; leu Blavatsky e aos 16 anos filiou-se à Sociedade Teosófica (ST); a
loja colombiana da ST havia sido fundada em 1921 e desde 1929 possuía um Centro
Juvenil em Bogotá; em 1934, com 17 anos de idade, tornou-se conferencista da
S.T. No ano seguinte filiou-se à FRA (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fraternitas
Rosicruciana Antiqua</i>), então dirigida por Israel Rojas<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[2]</span></span></span></span></a>. A
participação simultânea em diferentes escolas esotéricas era prática comum e
considerada ao mesmo tempo símbolo de status e de amplitude de visão
espiritual; o próprio fundador da FRA se orgulhava de sua ligação simultânea a
pelo menos meia dúzia de instituições da Maçonaria, Rosacrucianismo e Teosofia.<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[3]</span></span></span></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
Rosacruz Antiqua é uma clássica escola esotérica tradicional, com uma
importante especificidade: ela faz parte das escolas européias que incorporaram
ao seu repertório de práticas mágicas os exercícios sexuais de algumas escolas
tântricas da Índia, conhecidos como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sahaja
maithuna</i> (Krum-Heller 1929, p. 43); seu fundador, o médico e militar alemão
Arnold Krum-Heller, havia sido discípulo de Theodor Reuss, membro da
prestigiosa ordem hermética <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Golden Dawn</i>
e fundador da OTO (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ordo Templo Orientis</i>).
Krum-Heller teve entre seus colegas de estudos figuras como Spencer Lewis
(fundador da AMORC) e o famoso mago Aleister Crowley, um dos maiores ícones do
Ocultismo (cuja fama extrapolaria o universo ocultista e o tornaria um dos
símbolos da contracultura; idolatrado, entre outros, por bandas de hard rock
como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Black Sabbat</i>). Em 1910
Krum-Heller mudou-se para o México como delegado da Ordem Martinista e da OTO;
mais tarde fundou sua própria instituição, a FRA, e realizou um giro por
diversos paises sulamericanos para divulgar a instituição. A loja colombiana da
FRA foi fundada em 1927<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[4]</span></span></span></span></a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Victor
ingressou na FRA em 1935; teve um rápido progresso dentro da nova escola e logo
conquistou um cargo episcopal dentro de seu braço litúrgico, a Igreja Gnóstica.
Krum-Heller atribuía uma grande importância ao estudo dos textos gnósticos, em
especial o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pistis Sophia</i>, e isso
exerceu importante influência sobre as concepções esotéricas do próprio Victor.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Em
1938 o dirigente colombiano da FRA, Israel Rojas, apresentou um estudante
chamado Omar Cherenzi Lind à comunidade rosacruz como sendo um autêntico
iniciado vindo do Tibete.<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[5]</span></span></span></span></a>;
não demorou para que Israel Rojas se convencesse de que Cherenzi era o próprio <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Avatara</i> da futura Era de Aquário, como
anunciou publicamente<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[6]</span></span></span></span></a>.
Isso produziu um grande entusiasmo inicial e formou-se uma instituição
congregando estudantes das diferentes escolas rosacruzes e teosóficas, a
Universidade Espiritual da Colômbia. Em pouco tempo Israel Rojas e Cherenzi se
desentendem seriamente e começa uma violenta troca de acusações entre os dois
partidos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Victor se rebelou violentamente com o novo
estado de coisas e acabou se afastando da instituição; essa ocasião marca um
momento de profunda crise existencial em sua vida: o afastamento da FRA
coincide com o abandono dos estudos (seguindo os passos de Krum-Heller, estudou
medicina por dois anos em Bogotá) e com o fracasso de um casamento que durou
poucos meses. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No
periodo entre 1941 e 1947 Victor abandonou a capital e passou a viver uma vida
errante pelo interior colombiano, ganhando a vida como uma espécie de curandeiro.
Neste periodo conheceu a mulher que seria sua companheira pelo resto da vida,
Arnolda Garro.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Victor
deixou deste periodo relatos que lhe conferem um ar de epopéia mítica que
lembra em alguns momentos a história clássica da iluminação de Buda, que deixa
sua família abastada e parte para a floresta em busca de uma experiência direta
com o divino.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um
de seus relatos sobre os motivos que o levaram a se afastar da FRA:</div>
<div class="western" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 5.0pt; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">“Yo me convencí entonces que las teorías no
conducen al hombre a ninguna parte y que las escuelas de espiritualistas que
para ese tiempo había en Colombia, eran solo jaulas de loros que a ninguna
parte me conducirían.” (Weor 1950, p. 8)</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>E a descrição de sua epopéia
seguinte:</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 5.0pt; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">“Desilusionado, pues, de esas escuelas de
"sabihondos" me retiré al silencio y a la meditación, me consagré de
lleno al desarrollo de mis propios poderes internos a fin de adquirir el
conocimiento directo y librarme de tantas teorías y de tantos insultos
autoritarios. Y, al fin de muchos y terribles esfuerzos tuve la dicha, la
inmensa dicha de despertar sobre el altar de la Iniciación. Fue entonces cuando
me vine a dar cuenta exacta de que yo, Aun Weor, no necesitaba para nada de
aquellas escuelas porque yo había transitado en pasadas reencarnaciones por
todos los Misterios Menores y en Egipto durante la dinastía del faraón Kefren,
había llegado al grado de Hierofante de Misterios Menores.” </span>(idem, p. 9)</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sua
obra posterior menciona o encontro e convivência com médiuns, curandeiros e
bruxos em comunidades remotas da amazônia colombiana; também teria vivido em
comunidades indígenas, sobretudo entre os mamas (curandeiros) arahuacos. Passou
estes anos vivendo ele próprio como uma espécie de curandeiro, efetuando curas
e vendendo pomadas (DOSAMANTES, pp. 33-44)<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[7]</span></span></span></span></a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Esse
periodo marca o ponto de inflexão em sua vida: deixa de lado as teorias e se
dedica intensamente às práticas mágicas do repertório rosacruz; o resultado é
um progressivo processo de “iluminação”, que Victor atribui principalmente à
prática do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sahaja maithuna</i>. Transformado
internamente, ele se autodenomina <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aun
Weor</i>, “verbo divino” (Lopez Bellas, p. 652).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No
inicio de 1948, Victor (agora Aun Weor) retorna à cidade de Cienaga e procura
alguns de seus amigos da FRA, Julio Medina e Rafael Romero Cortês, para anunciar
sua missão enquanto iluminado. Suas obras posteriores, bem como o relato de
seus principais seguidores, apresentam uma versão teleológica de que Aun Weor
retorna do interior colombiano determinado a criar uma escola esotérica que
represente uma radical ruptura com as instituições existentes; seus escritos da
época, no entanto, sugerem muito mais a intenção de operar reformas
doutrinárias e administrativas dentro do próprio ambiente da FRA: é eloqüente,
nesse sentido, o fato de que, apesar de haver criado um círculo de estudos
esotéricos em abril de 1948, Aun Weor decide publicar sua primeira obra somente
após o falecimento de Krum-Heller, em maio de 1949. Suas duas primeiras obras, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Matrimônio Perfeito ou a Porta de Entrada
à Iniciação</i>, lançado em maio de 1950, e a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Revolução de Bel</i>, de outubro do mesmo ano, são claramente dirigidas
ao público rosacruz e possuem um propósito claro: combater as doutrinas
tântricas de Cherenzi.<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Resumindo
o conflito, Samael é adepto de exercícios sexuais onde existe a cópula, mas não
se chega ao orgasmo; a conjunção carnal (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">sahaja
maithuna</i>) serviria apenas para preparar a energia sexual para ser
canalizada internamente através de exercícios respiratórios (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">pranayamas</i>); Cherenzi, pelo contrário, é
adepto de sistemas que admitem o orgasmo; o sêmen retirado do órgão feminino é
considerado mágico e é reabsorvido, seja por meio de ingestão ritual ou
reinserido na uretra por meio de exercícios iogues (WEOR 1950, pp. 15-20, p.
45):</div>
<div class="western" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 5.0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">“La Iglesia Gnóstica» de Krumm Heller y «El Kundalini o Serpiente
Ígnea de nuestros mágicos poderes» de Omar Cherenzi Lind, son las dos antípodas
del Kundalini. La obra de Krumm Heller es una obra de magia blanca. La obra de
Cherenzi es una obra de magia negra.” </span>(idem, p. 18)</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
que a obra de Samael está documentando é um importante capítulo da evolução das
práticas sexuais tântricas no ocidente; trazidas inicialmente por estudiosos
ingleses das obras clássicas do misticismo hindu, estes exercícios logo
despertaram um imenso interesse nos círculos esotéricos europeus<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[8]</span></span></span></span></a>.</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Samael
se apresenta neste momento como um defensor do “sistema autêntico”, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sahaja maithuna</i> tal como ensinado pelo
fundador da Rosacruz Antigua. Krum-Heller menciona pudicamente a prática em
suas obras em latim: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">inmisio membri
virilis in vaginam sine ejaculatio seminis</i> (Krum-Heller 1926)<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[9]</span></span></span></span></a>;
as primeiras obras de Samael são em grande parte baseadas nos livros de
Krum-Heller, que ele cita com grande frequência e da qual extraiu idéias
importantes para a compreensão de seu sistema, como a expressão “seminizar o
cérebro”. A importância e o próprio <i style="mso-bidi-font-style: normal;">modus
operandi</i> da magia sexual não são unânimes entre os discípulos de
Krum-Heller, no entanto; seu próprio filho Parsival Krum-Heller, aceito por
parte da FRA como sucessor do fundador, vai defender um sistema misto em que o
casal deve manter normalmente o sexo comum e praticar os exercícios sem perda
seminal em ocasiões específicas, como parte da preparação de discípulos já em
avançados graus iniciáticos<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[10]</span></span></span></span></a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Cherenzi,
por sua vez, é adepto de algumas das experiências de magia sexual feitas por
Aleister Crowley e adotadas pela O.T.O.; a assim denominada magia sexual
thelemita preconiza a perda seminal (inclusive através da masturbação ou de
relação homossexual) e sua ingestão como parte de um ritual mágico, normalmente
em grupo (Koenig).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Havia
ainda um elemento complicador nesse debate: a relação amistosa entre
Krum-Heller e Crowley, observada em trocas de correspondência e citações
recíprocas, aparentemente indicando que as diferentes concepções sobre sexualidade
tântrica não constituam obstáculo significativo para o trabalho conjunto<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[11]</span></span></span></span></a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Aun
Weor dá uma nova dimensão à questão sexual em sua cosmovisão: a magia sexual
torna-se o eixo central de toda a doutrina:</div>
<div class="western" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 5.0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">“Después de meterme un millón de teorías en la cabeza llegué a la
conclusión de que yo había perdido el tiempo miserablemente, porque la
Iniciación no es cuestión de teorías ni de autoritarismos, ni de leer libros.
La Iniciación es únicamente cuestión de sacar el maximum de provecho de la
médula y del semen y para esto el único camino es "querer"
intensamente a la mujer –esposa–.” </span>(idem, p. 10)</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A transição</b></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Como
se pode constatar na leitura das obras iniciais de Samael, sua mensagem tem o
propósito inicial de defender o que ele considera a essência dos ensinamentos
rosacruzes de Krum-Heller, em especial a prática da magia sexual sem perda
seminal, que ele intitula de tantrismo branco (estabelecendo assim uma clara
distinção com os exercícios admitidos por Parsival e Cherenzi, classificamos de
tantrismos cinza e negro, respectivamente). O alvo de seu discurso é claramente
o universo de adeptos e simpatizantes do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">milieu
</i>esotérico colombiano; alguns são nominalmente citados no livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Revolução de Bel</i>: rosacruzes,
teósofos, maçons, estudantes da Universidade Espiritual e espiritualistas em
geral (Weor, 1950-b, pp. 81-113).</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Samael
não tem o propósito de criar uma nova escola; sua preocupação mais evidente é
de estimular uma reforma nas instituições existentes<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn12" name="_ftnref12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[12]</span></span></span></span></a>.
Sua produção bibliográfica inicial é destinada essencialmente a explicar os
ensinamentos de Krum-Heller, como podemos ver a seguir:</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Em
1950 ele escreveu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Matrimônio Perfeito
ou A Porta de Entrada à Iniciação</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
Revolução de Bel</i>, onde a temática principal é a denúncia dos ensinamentos
de magia sexual de Cherenzi e Parsival e a apresentação da magia sexual tal
como ensinada por Krum-Heller.</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sua
terceira obra, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Curso Zodiacal</i>, de
1951, é toda baseada no livro homônimo de Krum-Heller, de 1929, e são
absolutamente complementares.</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Seu
quarto livro, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Apuntes Secretos de um Guru</i>
(Apontamentos secretos de um guru), impressa em maio de 1952, traz a Missa
Gnóstica tal como consta na liturgia da Igreja Gnóstica estabelecida por
Krum-Heller.</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tratado de Medicina Oculta y Magia Prática</i>,
de 1952, é baseado essencialmente nas concepções de Krum-Heller sobre a
fisiologia humana; o esoterista alemão era médico e seus livros estão repletos
de teorias sobre biorritmo e cura de enfermidades através de exercícios
respiratórios, osmoterapia e medicina natural. Embora a obra contenha uma série
de receitas originais, aprendidas por Samael durante seu giro pela amazônia
colombiana, sua concepção de medicina e magia seguem essencialmente as idéias
do mestre alemão.</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No
periodo de 1952 a
1960 Samael publicou um total de 20 livros; muitos deles são pequenos livretos
de divulgação ou comentários sobre temas secundários que também interessam ao
esoterista, como a questão dos discos voadores; os livros doutrinários, no
entanto, permanecem sendo releituras do credo rosacruz, como é o caso de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Logos, Mantram, Teurgia</i>, de 1959, que
analisa <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Logos, Mantram, Magia</i> de
Krum-Heller, escrita em 1930. Samael também faz menção freqüente de outro
importante mestre da FRA, Jorge Adoum (1897-1958), também conhecido como Mago
Jefa.</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Em
1961, porém, Samael empreende uma longa revisão de seu primeiro livro, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Matrimônio Perfeito</i>, e faz publicar
uma edição “ampliada e corrigida”; o novo texto traz uma série de modificações,
não só de estilo, mas principalmente doutrinárias. Pela primeira vez é possível
perceber em sua obra o uso de idéias do universo ideológico de Gurdjieff, como
os sete centros da máquina humana (WEOR 1961, p. 71), a transmutação dos
hidrogênios, o exercício de recordação de si mesmo (idem, pp. 74-76) e o famoso
hidrogênio SI-12 resultante da prática de magia sexual (p. 94). A quarta
dimensão é explicada conforme o modelo apresentado pelo principal discípulo de
Gurdjieff, Ouspensky, que tem um trecho de seu livro citado literalmente:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">El
gran escritor Pedro Ouspensky, dijo: “En el mundo de las magnitudes infinitas y
variables, una magnitud puede no ser igual a sí misma; una parte puede ser
igual al todo; y de dos magnitudes iguales una puede ser infinitamente mayor
que la otra”.(p. </span>165)</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Uma
série importante de ideáis gurdjieffianas também é mencionada sem que haja
referências ao autor, como é o caso do “quarto caminho”, a expressão que resume
o método de Gurdjieff e identifica o principal movimento criado a partir de
seus ensinamentos, a Escola do Quarto Caminho:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">El
primer camino lo vivimos en la vida práctica aprendiendo a vivir rectamente. El
segundo camino reside en nuestra Iglesia. Esta tiene sus sacramentos, sus
rituales y su vida conventual. El tercer camino lo vivimos como ocultistas
prácticos. Tenemos nuestras prácticas esotéricas. Ejercicios especiales para el
desarrollo de las facultades latentes en el hombre. El cuarto camino, la Vía
del Hombre Astuto, la vivimos en la práctica dentro del más completo
equilibrio. Estudiamos la Alquimia y la Cábala. Trabajamos desintegrando el yo
psicológico. </span>(Weor 1961, p. 60)</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É o
inicio de uma guinada definitiva no corpo doutrinário: o universo mágico
rosacruz vai gradativamente ficar em segundo plano; sob os refletores vai
surgir toda uma noção de psicologia transformadora fortemente apoiada nas
idéias do Trabalho Interior da dupla Gurdjieff/Ouspensky.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>De
forma esquemática, poderíamos afirmar que a doutrina samaeliana da década de
1950 tem como pilares principais a Magia Sexual, as regras morais e éticas do
cristianismo e os exercícios mágicos e práticas litúrgicas rosacruzes. Em 1970,
quando sua doutrina já está consolidada, Samael resume seus ensinamentos no que
ele chama de Três Fatores de Revolução da Consciência; Zocatelli os descreve da
seguinte maneira:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<span class="hpsatn"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">(</span></i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">a) morte <span class="hps">do
universo</span> <span class="hps">interno</span> <span class="hps">negativo de </span><span class="hpsatn">cada um (o "</span>ego", <span class="hps">ou</span> <span class="hps">agregados</span> <span class="hps">artificiais</span> da psique <span class="hps">que impedem</span> <span class="hps">a manifestação do ser)</span> <span class="hpsatn">através da auto-</span>descoberta, a compreensão e a <span class="hps">desintegração de</span> <span class="hps">todos os agregados</span> <span class="hps">psicológicos (bloqueios, condicionamentos, identificações, medos,
etc.)</span> <span class="hps">que impedem</span> <span class="hps">a livre
circulação de energia</span> <span class="hps">e o despertar</span> <span class="hps">da</span> <span class="hpsatn">"</span>consciência objetiva",
<span class="hpsatn">(</span>b) <span class="hps">o nascimento</span> <span class="hps">dos corpos existenciais</span> <span class="hps">internos</span> <span class="hps">ou superiores</span> <span class="hpsatn">do Ser (</span>corpo <span class="hps">astral</span>, o corpo <span class="hps">mental, corpo causal</span>),
que <span class="hps">são essenciais</span> como veículos para as dimensões
superiores ao mundo fisico <span class="hps">,</span> <span class="hps">graças à</span>
<span class="hps">transmutação</span> <span class="hps">das energias</span> <span class="hpsatn">criativas (</span>através da prática do <span class="hps">"Arcano</span>
<span class="hps">AZF</span>", ou seja, <span class="hps">a prática de magia
sexual sem</span> <span class="hps">emissão de sêmen</span><span class="atn">,
resultando em "</span>cerebralização" <span class="hps">do semen e
“seminização” do cérebro, a fim de</span> <span class="hps">alcançar o
desenvolvimento</span> <span class="hps">total e</span> <span class="hps">regeneração,</span>
<span class="hps">despertar faculdades</span> <span class="hps">como a
clarividência</span>, <span class="hps">clariaudiência</span>, <span class="hps">intuição
e</span> <span class="hps">telepatia</span>; <span class="hps">(C)</span> <span class="hps">o</span> <span class="hps">sacrifício pela humanidade, que consiste na
divulgação do ensinamento gnóstico</span>. (Zoccatelli 2005, p. 264)</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
influência de Gurdjieff neste novo formato é evidente: o primeiro fator, a
Morte Psicológica, tem como ponto de partida práticas descritas por Ouspensky
em seu livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Em busca do milagroso:
fragmentos de um ensinamento desconhecido</i>; Samael divide a morte do ego em
três etapas: (1) auto-observação do ego, (2) compreensão do ego e (3)
eliminação mística do ego. A primeira etapa é baseada exclusivamente nos
exercícios de auto-observação da dupla Gurdjieff/Ouspensky; a compreensão
utiliza elementos das meditações ensinadas por Krishnamurti, e a eliminação
mística é um desenvolvimento da idéia de partes autônomas do ser que
encontramos em Gurdjieff, mas que são apropriadas por Samael de uma forma muito
original, formando o coração de um culto do Eterno Principio Feminino, a Deusa
ou Mãe Divina que lembra em diversos aspectos o culto mariano dentro do
catolicismo latinoamericano.</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
segundo fator, o Nascimento Alquímico, é a Magia Sexual como ensinada por
Krum-Heller acrescida de todo o suporte teórico de Gurdjieff sobre a fisiologia
das energias transmutadas dentro do organismo.</div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
apropriação de idéias de Gurdjieff por Samael vai produzir uma série de
críticas, vindas principalmente do próprio universo esotérico; é muito comum
encontrarmos na internet listas indicando as enormes passagens de livros de
Gurdjieff e principalmente de Ouspensky que são reproduzidas literalmente nas
obras de Samael como se fossem de sua autoria<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn13" name="_ftnref13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[13]</span></span></span></span></a>.
Samael se defende dizendo que sua missão é sintetizar as doutrinas existentes;
essa é a linha de defesa seguida por seus discípulos:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">La
gnosis misma es inseparable de él (o tertium organum), y aunque se acusa mucho
a Samael de tomar su doctrina psicológica de la escuela del cuarto camino a la
que pertenece esta cita, lo cierto es que él hace un revisionismo de lo que
cita, y se apoya en lo que cita para tratar de ir más lejos, desgraciadamente
pocos lo pueden seguir, y por eso tanto sabihondo lo acusa de plagio.
(Pujalte-a)</span></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">Su doctrina es una síntesis,
(Samael) muchas veces recopila páginas enteras de otros libros sin hacer mención
de donde los toma ni tan sólo distinguir el texto de lo escrito por él, eso
desconcierta tanto más cuando uno lee esa frase suya de que "no le gusta
adornarse con plumas ajenas", pero por muy sospechoso que eso nos pueda
parecer vista la cuestión desde su punto de vista, es trivial: la doctrina
gnóstica está muy clara: robarle el fuego al diablo, caminar de la oscuridad a
la luz por el sendero que transcurre entre el bien y el mal o dicho de otra
forma: usando la super-dinámica sexual. Es eso y nada más que eso, y todo lo
demás es prácticamente trivial. Como Avatara su tarea es sintetizar,
arbitrar, corregir y puntualizar, resumir la ingente cantidad de credos y
doctrinas orientándolas al gran arcano, a la magia sexual. Él no hace otra cosa
que dar una y otra vez la clave revestida de cada tradición esotérica para
llamar a sus filas a los que estudian tales corrientes. </span>(Pujalte-b)</div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Conclusão</b></div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Gostaria de encerrar este artigo com
duas considerações finais: a primeira delas é que Zoccatelli foi induzido ao erro
de acreditar que Samael é adepto dos conceitos de Gurdjieff desde 1950; na
bibliografia de seu artigo ele cita o livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Matrimônio Perfeito</i> publicado pela AGSACAC como sendo fiel reprodução da
1ª. edição colombiana de 1950. Na verdade as instituições gnósticas somente
publicam a edição revisada por Samael em 1961. A edição de 1950,
considerada “imperfeita” e desautorizada pelo autor, não voltou a ser
republicada ou traduzida<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn14" name="_ftnref14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[14]</span></span></span></span></a>.
Os outros livros publicados por Samael na década de 50 também passaram por correções
posteriores, seja feitas pelo próprio Samael, por seu secretário ou por alguns
de seus discípulos. À exceção de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Matrimônio Perfeito</i>, que Samael revisou
e seguiu reeditando como sendo um dos livros fundamentais de sua doutrina, o
restante de suas obras da década de 50 adquiriram um status secundário; Samael
se refere a elas como obras cheias de falhas escritas antes da encarnação de
seu Real Ser Interior.</div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A segunda consideração é a própria
razão de ser deste artigo: acreditamos que a transição ideológica que Samael
realiza na primeira década de seu ministério, do rosacrucianismo de Krum-Heller
para a psicologia revolucionária de Gurdjieff/Ouspensky constituirá peça
fundamental para a compreensão da dinâmica histórica das instituições gnósticas
fundadas por Samael Aun Weor, sobretudo após sua morte, em 1977. A síntese que Samael
opera entre elementos até então antagônicos (Gurdjieff é um crítico ferrenho do
rosacrucianismo e da teosofia) não foi integralmente assimilada por seus
principais discípulos e as diferentes instituições que compunham então o
universo samaeliano: Julio Medina Vizcaino (V.M. Gargha Kuichines), o mais
importante membro da FRA a aderir às fileiras gnósticas na década de 50,
tornara-se dirigente da Igreja Gnóstica a nível internacional e permanecera em
grande medida fiel ao ideário rosacruz, especialmente à sua tradição litúrgica.
A AGEACAC (Associação Gnóstica de Estudos Antropológicos – Ação Civil), fundada
no México, para onde Samael se mudara no ano de 1956, e onde se destacam
figuras como a esposa de Samael, Arnolda Garro de Gómez (Mestra Litelantes),
seu secretário Efrain Villegas Quintero e sua filha Hypatia Gomes Garro, vai
aderir integralmente à síntese rosacruz/Gurdjieff. Finalmente, o Movimento
Gnóstico Cristão Universal, fundado na Colômbia na década de 1960 e que a
partir de 1978 será comandado por Joaquim Amortegui Valbuena (V.M. Rabolu), é
radicalmente partidário da Psicologia Revolucionária<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn15" name="_ftnref15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[15]</span></span></span></span></a>.</div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Desde 1976 há na Colômbia uma
crescente animosidade entre os partidários de Julio Medina e Joaquim Amortegui.
O falecimento do Mestre Samael, em dezembro de 1977, sem que fosse indicado um
sucessor para liderar o conjunto das instituições gnósticas, abriu espaço para
uma guerra aberta entre as duas facções a partir de 1978, e de ambas contra as
instituições sediadas no México (Lopez Bellas, p. 815).</div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Enquanto as demais facções se
proclamam defensoras fiéis da doutrina samaeliana, Joaquim Amortegui opera uma
reforma radical que ele intitula de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nova
Ordem</i> e que varre de sua instituição todos os resquícios do
rosacrucianismo: a totalidade das práticas litúrgicas foram formalmente
proibidas; com exceção de cinco obras que ele declara fundamentais (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tratado de Psicologia Revolucionário</i>, de
1975; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Grande Rebelião</i>, de 1975; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">As Três Montanhas</i>, de 1972; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sim, há Inferno, Diabo e Karma</i>, de 1975,
e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Mistério do Áureo Florescer</i>, de
1971), e do livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Matrimônio Perfeito</i>,
que passou por um novo processo de revisão, todas as outras obras do Mestre
Samael foram proibidas (Jaramillo-b, p. 110).</div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O prólogo da nova edição de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Matrimônio Perfeito</i> traz a seguinte
mensagem:</div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
Na presente obra
foram corrigidos alguns erros de imprensa que vinham de edições anteriores,
para que chegue de forma mais nítida às mãos de nossos leitores. Também fizemos
certos esclarecimentos pela primeira vez, em algumas partes desta obra, com a
finalidade de não dar lugar a más interpretações e para que o estudantado
assimile o ensinamento da maneira mais correta. Destes esclarecimentos eu me
faço totalmente responsável ante as hierarquias e ante os homens”. (Rabolu,
WEOR 1991)</div>
<div class="MsoBodyText" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um discípulo da Nova Ordem do Mestre
Rabolu justifica da seguinte maneira a supressão dos livros:</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
O V.M. Samael foi despertando a sua
consciência gradativamente, como todo iniciado. Então é natural que seus
primeiros livros não apresentam o mesmo grau de consciência, que os
derradeiros. Dai havia muitos erros. Mas, como grande Maestro que é o V.M.
tinha a humildade de ir corrigindo os muitos erros que haviam nos primeiros
livros. Ele dizia que eram escrito como isca, para atrair os peixinhos, que
mais tarde poderiam receber a verdade sobre os Três Fatores de Revolução da
Consciência. (...) Nos momentos finais de sua vida, já na crise da morte, o
Maestro Samael pediu para que queimassem todos os seus livros, exatamente por
causa destes erros. Os seus discípulos imploram, por misericórdia, e o Mestre
permitiu-lhes deixar Cinco Livros, que intitulamos os Cinco livros Básicos da
Gnose: Tratado de Psicologia Revolucionária; A Grande Rebelião; As Três Montanhas;
Sim há Inferno, Sim há Diabo, Sim há Carma e O Mistério do Áureo Florescer.
(Mauricio da Silva, in: http://www.agsaw.com.br/livrosbasicos.htm)</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></b>A renovação que Rabolu opera nos
ensinamentos de Samael mestre permite traçar uma série de paralelos com processo
semelhante que ocorre entre Gurdjieff e seu principal discípulo, Ouspenky, que
submeteu os ensinamentos de seu mestre a um rigoroso filtro, e em seguida
construiu sua própria interpretação do que constitui de fato o Quarto Caminho<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftn16" name="_ftnref16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[16]</span></span></span></span></a>;
da mesma maneira a Nova Ordem de Rabolu, sob a alegação discursiva de estar
“protegendo a essência dos ensinamentos de Samael” (Rabolu, p. 1), vai na
prática realizar importantes mudanças de cunho ideológico e institucional e
criar de fato uma nova forma de gnosticismo que merece um estudo específico.<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Bibliografia</b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
BAKHTIN, Mikhail. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marxismo e Filosofia de Linguagem</i>. São Paulo: Hucitec, 1997.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
BIANCHI, U. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Religion et les religiona: saggi di metodologia della stória de lê
religioní</i>. Roma, LEIDEN, 1982.<br style="mso-special-character: line-break;" />
<br style="mso-special-character: line-break;" />
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
BURKE, Peter (org.). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A escrita da história: novas perspectivas</i>. São Paulo: 2011. Editora
Unesp.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
CAMPBELL, Colin. <span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">The Cult, the Cultic Milieu and Secularization,
in <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Sociological Yearbook of Religion in
Britain
5 </i>(1972), p. 119-136.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
CAMPOS, Marcelo L. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Usos da arqueologia no discurso religioso: Samael Aun Weor e o </i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">renascimento
do gnosticismo</i>. Anais da I Semana de Arqueologia do LAP-UNICAMP. Disponível
em:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><a href="http://www.nepam.unicamp.br/arqueologiapublica/revista/anais/antiguidade-aqueologia-e-poder/PDFs/arquivo8.pdf">http://www.nepam.unicamp.br/arqueologiapublica/revista/anais/antiguidade-aqueologia-e-poder/PDFs/arquivo8.pdf</a>
(consultado em 07/06/2013).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">CARF. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Diccionário Esotérico
Gnóstico</i>. La Coruña: 1984, Ediciones de Carf.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
CHARTIER, Roger. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">História Cultural: entre Práticas e Representações</i>. Algés,
Portugal. 2ª. edição. Tradução Maria Manuela Galhardo. DIFEL, 2002.</div>
<h2 style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-font-weight: bold;">DAWSON, Andy. </span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-weight: bold;">A </span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-ansi-language: EN-US;">P</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-weight: bold;">henomenological
Study of the Gnostic Church of Brazil</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-style: italic;">.</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-font-weight: bold;">
Fieldwork in Religion, Vol 2, No 1 (2006), Equinox Publishing.</span></h2>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">DOSAMANTES, J. Alfredo. </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Litelantes,
a Grande Estrela do Dragão</i>. Rio de Janeiro: 2009. IGLISAW. Disponivel em: <a href="http://www.iglisaw.com/docs/livros_portugues/LITELANTES%20A%20GRANDE%20ESTRELA%20DO%20DRAGAO.pdf">http://www.iglisaw.com/docs/livros_portugues/LITELANTES%20A%20GRANDE%20ESTRELA%20DO%20DRAGAO.pdf</a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">FAIVRE, Antoine. Ancient
and Medieval Sources of Modern Esoteric Movements, in: FAIVRE, NEEDLEMAN, <i>Modern
Esoteric Spirituality</i>. New York,
1993, Crossroad Press.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">_______________. <i>Access
to Western Esotericism </i>(Albany: State University of New York Press, 1994).
A translation of two works first published as <i>Accès de l’Esoterisme
occidental </i>(Paris: Gallimard, 1986) and <i>L’Esoterisme </i>(Paris: Presses
Universitaires de France, 1992).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
FAIRCLOUGH, Norman. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Discurso e mudança social</i>. Brasilia: Editora UnB, 2001.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
FILORAMO, Giovanni. <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">Che co'è religione.
Temi, metodi, problemi</span></i><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">. Torino, EINAUDI, 2004.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">HAMMER, Olav. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Claiming Knowledge:
strategies of epistemology from Theosophy to the New Age.</i> Leiden, 2004. Brill.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">HANEGRAAF, Wouter J. (1996). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">New
Age Religion and Western Culture: esotericism in the mirror of secular thought</i>.
Leiden, Brill.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">_____________________ (2006). FAIVRE, BROEK, BRACH. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dictionary of Gnosis & Western Esotericism.</i> Leiden, Brill.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">______________________(1998).
“On the Construction of ‘Esoteric Traditions,’”in <i>Western Esotericism and
the Science of Religion, </i>edited by Antoine Faivre and Wouter J. Hanegraaff
(Leuven: Peeters).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">JARAMILLO, Carolina M. Tamayo (a).<b> </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-weight: bold;">El Movimiento Gnóstico
Cristiano Universal de Colombia: um movimiento esotérico internacional nacido
en Colombia</span></i><b>. </b>Cuestiones Teológicas, Vol. 39, No. 92 (julio -
diciembre, 2012). Medellín, Facultad de Teología de la Universidad Pontificia
Bolivariana.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">_____________________________ (b). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gnosce
Te Ipsum: uma analisis antropologico de la Iglesia Cristiana Universal de
Colômbia desde la perspectiva de la Esoterologia.</i> Trabajo de Grado.
Universidad de Antioquia, Depto. de Antropología. Medellín, 2012.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">KIPPENBERG, Hans G. <i>Discovering
Religious History in the Modern Age. </i></span>Princeton, N.J.: Princeton
University Press, 2002.</div>
<h1 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">KOENIG,
P. R. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ordo Templi Orientis,
Espermo-Gnósticos</i>. Disponível em: <a href="http://www.parareligion.ch/spermo_p.htm">http://www.parareligion.ch/spermo_p.htm</a>.
Consultada em 14/05/2013.</span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
KRUM-HELLER, Arnold(1929). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Curso Zodiacal</i>. Disponivel em:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><a href="http://eruizf.com/biblioteca/r_c/arnold_krumm_heller/arnold_krumm_heller_curso_zodiacal.pdf">http://eruizf.com/biblioteca/r_c/arnold_krumm_heller/arnold_krumm_heller_curso_zodiacal.pdf</a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
_________________________ (1926). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Rosacruz: Novela de Ocultismo Iniciático</i>;
trechos selecionados disponíveis em: <a href="http://www.orkut.com/Main#CommMsgs?cmm=5570045&tid=5403408796709755781">http://www.orkut.com/Main#CommMsgs?cmm=5570045&tid=5403408796709755781</a>.
Consultado em: 14/05/2013.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
LE GOFF, Jacques. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A História Nova</i>. 5ª. Ed. São Paulo, MARTINS FONTES, 2005.<br style="mso-special-character: line-break;" />
<br style="mso-special-character: line-break;" />
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">LEVI, Eliphas. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Historia de la
Magia</i>. Buenos Aires: 1988, Editorial Kier.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">LÓPEZ BELLAS, José Álvaro. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Un
estudio de antropología social de las organizaciones, el caso del MGCU
(Movimiento Gnóstico Cristiano Universal)</i>. </span>Santiago de Compostela:
Universidade. Servizo de Publicacións e Intercambio Científico, 2008.</div>
<h1 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%;">MATA, Sérgio da. <i>História &
Religião</i>. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. </span><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;"></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
MASSENZIO, Marcello. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A História das Religiões na cultura moderna</i>. São Paulo, HEDRA,
2005.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
NEVES, Ana Isabel. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gnosticismo: Heresia ou Ortodoxia?</i> Disponível em: <span lang="EN-US" style="color: black; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-weight: bold;"><a href="http://www.gnose.org.br/conteudo.asp?id=17&texto=1713&tipomenu=h&titulo=Gnose"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">http://www.gnose.org.br/conteudo.asp?id=17&texto=1713&tipomenu=h&titulo=Gnose</span></a></span><span style="color: black; mso-bidi-font-weight: bold;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
OUSPENSKY, P. D. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Em busca do milagroso: fragmentos de um ensinamento desconhecido</i>.
São Paulo, Ed. Pensamento, 2010.</div>
<h1 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">PESAVENTO,
Sandra J. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">História & História
Cultural</i>. Belo Horizonte: Autentica, 2004.</span></h1>
<div style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;">
PUJALTE,
Francisco Caparros (a). <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">El Matrimonio Perfecto – <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Samael Aun Weor</span>, 1961.</span></i><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"> </span>Disponivel em: <a href="http://www.gnosis2002.com/revisiones/EMP.html">http://www.gnosis2002.com/revisiones/EMP.html</a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="color: black;">_________________________
(b). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Manual de Magia Práctica – <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Aun Weor</span>, 1953</i> Disponível em: </span><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><a href="http://www.gnosis2002.com/revisiones/MMP.htm"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">http://www.gnosis2002.com/revisiones/MMP.htm</span></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
RABOLU (1982). Ciencia Gnóstica.
Disponível em: <a href="http://www.gnosisonline.org/wp-content/uploads/2010/08/CIENCIA-GNOSTICA.pdf">http://www.gnosisonline.org/wp-content/uploads/2010/08/CIENCIA-GNOSTICA.pdf</a>
(consultado em 08/06/2013).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">STUCKRAD, Kocku V. (2005). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Western
Esotericism: a brief history of Secret Knowledge</i>. London, Equinox Publishing.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">SNOEK, J. A. M., <i>Initiations:
A Methodological Approach to the Application of Classification and Definition
Theory in the Study of Rituals , </i>Dutch Efficiency Bureau: Pijnacker 1987.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">TRUZZI, Marcello.
Definition and Dimensions of the Occult: Towards a Sociological Perspective, <i>On
the Margin of the Visible: Sociology, the Esoteric, and the Occult, </i>edited
by Edward Tiryakian ; New York:
John Wiley, 1974.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">VARGAS, Rafael;
CASAN, Javier. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gnosis: Tradicion y
Revelacion</i>. </span>Rafael Vargas, 2008. Disponível em: <a href="http://www.gnosistr.com/Libros/Gnosis-Tradition-Revelation.pdf">http://www.gnosistr.com/Libros/Gnosis-Tradition-Revelation.pdf</a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">VERSLUIS, Arthur. What
Is Esoteric? Methods in the Study of Western Esotericism, <i>Esoterica </i>4
(2002): 1–15, disponivel em: http://www.esoteric.msu.edu/volumeiv/methods.thm </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
VIZCAINO, Julio Medina. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Conhecimentos,
Episódios e História da Gnose na Era de Aquário</i>. Curitiba: FUNDASAW (ano
n/d). Disponível em: <a href="http://pt.scribd.com/doc/115547297/Conhecimentos-Episodios-e-Historia-da-Gnose-na-Era-de-Aquario-V-M-Gargha-Kuichines-FUNDASAW">http://pt.scribd.com/doc/115547297/Conhecimentos-Episodios-e-Historia-da-Gnose-na-Era-de-Aquario-V-M-Gargha-Kuichines-FUNDASAW</a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-bidi-font-style: italic;">WALDEMAR, Charles. <i>La Magia del Sexo</i>. México, DF: Editorial
Grijalbo, 1963.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">WAARDENBURG, J. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Significados religiosos: una introducción
sistemática a la ciencia de las religiones</i>. </span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">Colombia</span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">, BILBAO, 2001.<span style="mso-bidi-font-style: italic;"></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">WEBB, James. <i>The
Flight from Reason. </i>London:
Macdonald, 1971.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">WEBB, James. <i>The
Occult Establishmen.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i>Glasgow: Richard Drew,
1981.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">WEOR, Samael Aun (1950-a). </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">El</span></i><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Matrimonio
Perfecto o la Puerta de Entrada a la Iniciación</i>. </span>Bogotá. Disponivel
em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html">http://www.gnosis2002.com/tabla.html</a><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(consultado em 13/05/2013).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">_________________(1950-b). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">La
Revolucion de Bel</i>. </span>Disponivel em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html.%20%20Consultado%20em%2013/05/2013">http://www.gnosis2002.com/tabla.html.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: black; text-decoration: none; text-underline: none;">Consultado em 13/05/2013</span></a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
__________________ (1951) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Curso Zodiacal</i>. Disponivel em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html%20%20Consultado%20em%2013/05/2013">http://www.gnosis2002.com/tabla.html
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Consultado em 13/05/2013</a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
__________________ (1952-a) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Apuntes Secretos de um Guru. </i>Disponivel
em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html.%20%20Consultado%20em%2013/05/2013">http://www.gnosis2002.com/tabla.html.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: black; text-decoration: none; text-underline: none;">Consultado em 13/05/2013</span></a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
__________________ (1952-b) O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tratado de Medicina Oculta y Magia Prática..
</i>Disponivel em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html.%20%20Consultado%20em%2013/05/2013">http://www.gnosis2002.com/tabla.html.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: black; text-decoration: none; text-underline: none;">Consultado em 13/05/2013</span></a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
__________________ (1959) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Logos, Mantram, Teurgia.</i> Disponível em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html.%20%20Consultado%20em%2013/05/2013">http://www.gnosis2002.com/tabla.html.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: black; text-decoration: none; text-underline: none;">Consultado em 13/05/2013</span></a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
__________________(1975) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tratado de Psicologia Revolucionária</i>.
Disponível em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html">http://www.gnosis2002.com/tabla.html</a>
(consultado em 08/06/2013)</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
__________________(1975)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
Grande Rebelião</i>. Disponível em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html">http://www.gnosis2002.com/tabla.html</a>
(consultado em 08/06/2013)</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
__________________(1971) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Mistério do Áureo Florescer</i>.
Disponível em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html">http://www.gnosis2002.com/tabla.html</a>
(consultado em 08/06/2013)</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
__________________(1973)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sim, há
Inferno, Diabo e Karma</i>. Disponível em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html">http://www.gnosis2002.com/tabla.html</a>
(consultado em 08/06/2013)</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
__________________(1972<i style="mso-bidi-font-style: normal;">) As Três Montanhas</i>. Disponível em: <a href="http://www.gnosis2002.com/tabla.html">http://www.gnosis2002.com/tabla.html</a>
(consultado em 08/06/2013)</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
_________________<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(1991). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Matrimônio Perfeito</i>. São Paulo, MGCUBNO.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">WILLIAN, Michael Allen. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Rethinking Gnosticism: an argument for
dismantiling a dubious category</i>. </span>Princenton, 1996: Princenton
University Press.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
YATES, Frances<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. Giordano Bruno e a
Tradição Hermética</i>. São Paulo, 1987: Círculo do Livro.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">ZOCCATELLI,
PierLuigi (2000). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Il paradigma esoterico
e un modello di Applicazione. Note sul movimento gnostico di Samael Aun Peor</i>.
<span style="mso-bidi-font-style: italic;">La Critica Sociologica</span>, n° 135,
autunno 2000 (ottobre-dicembre), pp. 33-49.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">_____________________
(2005). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Note a margine dell´Influsso di
G.I. Gurdjieff su Samael Aun Weor</i>.<span style="mso-bidi-font-style: italic;">
Aries. Journal for the Study of Western Esotericism</span>, Brill Academic
Publishers, vol. 5, n. 2 (2005), pp. 255-275.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10.0pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span></span></span></span></a>
<span style="font-size: 10.0pt;">Além de dois artigos produzidos pelo próprio
Zoccatelli, a produção acadêmica sobre Samael Aun Weor e seu movimento se
resume basicamente a um artigo de Andy Dawson sobre a Igreja Gnóstica em
Curitiba, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Phenomenological Study of the Gnostic Church of Brazil</span></i><span style="mso-bidi-font-weight: bold;"> e a tese de Cristina Tamayo intitulada <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gnosce Te Ipsum: uma analisis antropologico
de la Iglesia Cristiana Universal de Colômbia desde la perspectiva de la
Esoterologia</i>, seguida de um artigo na Revista Cuestiones Teológicas
intitulado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">El Movimiento Gnóstico
Cristiano Universal de Colômbia: um movimiento esotérico internacional nacido
em Colômbia</i>. O Movimento Gnóstico também é tema de Massimo Introvigne no
livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Il Ritorno dello Gnosticismo</i>. O
trabalho mais completo sobre o assunto é do espanhol José Álvaro Lopez Bellas, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Un estúdio de Antropologia Social de las
organizaciones: el caso del MGCU (Movimiento Gnóstico Cristiano Universal)</i>,
de 2008, analisando a instituição fundada por um dos principais discípulos de
Samael, Joaquim Amortegui Valbuena (Mestre Rabolu). O primeiro texto brasileiro
sobre o assunto é de minha autoria,</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">
</b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Usos da arqueologia no discurso
religioso: Samael Aun Weor e o renascimento do gnosticismo</i><span style="mso-bidi-font-weight: bold;"> e foi apresentado na I Semana de Arqueologia
do LAP-UNICAMP, em 2013.</span></span></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[2]</span></span></span></span></a> Os
relatos autobiográficos de Samael e de seus principais discípulos são
analisados por Lopez Bellas, p. 645.
A vida de Samael também é descrita em ZOCCATELLI 2000 e
DOSAMANTES.</div>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[3]</span></span></span></span></a> Uma
lista parcial dos títulos de Krum-Heller pode ser vista em: https://sites.google.com/site/igeomtlaxcala/home/arnold-krumm---heller</div>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[4]</span></span></span></span></a> Um
interessante resumo histórico sobre a vida de Krum-Heller e a Fraternitas
Rosicruciana Antiqua pode ser vista em <a href="http://hermetic.com/sabazius/krumm.htm">http://hermetic.com/sabazius/krumm.htm</a>;
vide também <a href="http://fraargentina.host56.com/krummheller.htm">http://fraargentina.host56.com/krummheller.htm</a>.
Além de seu importante papel como líder esotérico Krum-Heller teve atuação
política durante a Revolução Mexicana de 1910 e em alguns episódios da
espionagem alemã no México durante a Primeira Guerra Mundial.</div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[5]</span></span></span></span></a>
Atitudes dessa natureza são próprias da cosmovisão esotérica da época e
relativamente comuns: figuras como Blavatsky e Rudolf Steiner, entre diversos
outros, citam relatos de encontros com figuras iluminadas de algum canto remoto
do Oriente; Charles Leadbeater, uma das principais figuras da ST, havia em 1908
apresentado um garoto hindu, Jiddu Krishnamurti, como o futuro líder espiritual
do mundo.</div>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[6]</span></span></span></span></a> As
aventuras de Omar Cherenzi, até ser desmascarado em 1947, na Europa, por um
professor que falava tibetano, são narradas em: <a href="http://lagnosisdevelada.com/fuentes-gnosticas/cherenzi-develado-t410.html">http://lagnosisdevelada.com/fuentes-gnosticas/cherenzi-develado-t410.html</a></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[7]</span></span></span></span></a><span style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"> </span><span lang="ES-TRAD" style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: ES-TRAD;">“Los indios Arhuacos de la Sierra Nevada de
Santa Marta, quemaron todo un pueblo llamado Dibuya, por medio de los
elementales del fuego, llamados "Animes" por ellos. En el pequeño
poblado de Santa Cruz de Mora, (Estado Mérida) conocí una anciana humilde, que
hizo maravillas con los elementales de la naturaleza. Dicha anciana cuando era
joven se casó con un indio. Su marido la llevó para la selva, y cuenta de esa
tribu, las cosas más "raras", dizque durante el día los indios
abandonaban su caserío, y por la noche llegaban todos con apariencia de
animales y ya dentro de sus ranchos, tomaban su figura humana.”(WEOR, 1950b, p.
49)</span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[8]</span></span></span></span></a> <span style="font-size: 10.0pt;">A apropriação de técnicas de magia sexual por
esoteristas europeus do século XIX é descrita por Hugh Urban em seu livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Magia Sexualis: <span style="mso-bidi-font-style: italic;">Sex, Magic, and Liberation in Modern Western Esotericism. </span></i><span style="mso-bidi-font-style: italic;">Los Angeles, University of Califórnia Press,
2006. Um panorama histórico também pode ser visto em WALDEMAR, Charles. <i>La
Magia del Sexo</i>. México, DF: Editorial Grijalbo, 1963.</span></span></div>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[9]</span></span></span></span></a> <i><span style="color: black;">“Se os Irmãos Rosa Cruz buscam obras gnósticas nas
bibliotecas, sempre que os encarregados de cuidar os livros não tenham seguido
o exemplo de São Jerônimo, de queimar tudo o que cheire a questões sexuais,
encontrarão verdadeiras maravilhas, como eu as encontrei, <b>pois os Gnósticos
foram os que me deram a chave da Magia Sexual</b>. Sei que alguns teósofos me
tem chamado de mago negro porque me ocupo destes estudos, mas nisto estão todos
de acordo que <b>quanto a magia sexual sou autoridade</b>, que me ocupei muitos
anos dessa disciplina, publicando há mais de vinte anos, meu primeiro livro “<b>Não
Fornicarás</b>”, que naquela época chamou muito a atenção. Hoje só se encontra
nas bibliotecas</span></i><span style="color: black; mso-bidi-font-style: italic;">”.(Krum-Heller,
Revista Rosa Cruz, Barcelona, junho de 1930, disponível em:
http://www.fravenezuela.com/maestro.htm)</span></div>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[10]</span></span></span></span></a>
Um adepto de Parsival, defendendo seu sistema, afirma: “a instrução sobre magia
sexual é feita de forma interna e no último grau devido à seriedade do tema e à
preparação que requer”. (http://lagnosisdevelada.com/fuentes-gnosticas/samael-y-la-orden-rosacruz-t141.html)</div>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[11]</span></span></span></span></a> <span style="font-size: 10.0pt;">No site brasileiro da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Astrum Argentum</i> (A.A.), uma das ordens ocultistas fundadas por
Crowley, encontramos a seguinte nota:</span> “<span style="font-size: 10.0pt;">Aos
que interessa encobrir a ligação de Crowley com a FRA, dizendo que esta ligação
jamais existiu, transcrevemos aqui as próprias palavras de Krumm-Heller em
“Logos Mantram e Magia” - Ed. </span><span lang="ES-TRAD" style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: ES-TRAD;">Kier S.A. - 1990: “Al iluminado maestro del
invisible cuyo nombre no se debe estampar, a los maestros Basilides, Perdurabo
y Recnartus...”. </span><span style="font-size: 10.0pt;">ora, Perdurabo não é
outro senão o próprio Crowley, que usou este moto mágico em sua passagem pela Golden
Dawn. Ao morrer, Krumm-Heller legou a FRA a seu filho Parzival Krumm-Heller.
Entretanto, o Ramo da FRA Brasileira negou-se a aceitar Parzival como líder
mundial da Ordem. Nisto seguiu a linha de pensamento de S.Clymer e Samael Aun
Weor.” (<a href="http://www.astrumargentum.org/arquivos/ht/ensaios/thor_1.htm">http://www.astrumargentum.org/arquivos/ht/ensaios/thor_1.htm</a>)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 10.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A mesma nota, referindo-se a Samael: “Era um dos
discípulos de Arnold Krumm-Heller (Huiracocha) que freneticamente combatia Thélema.
Chamava-se a si mesmo Buddha Maitreya, Kalki Avatara da Nova Era de Aquárius, e
fundou o Movimento Gnóstico Cristão Universal que, no Brasil, obteve muitos
seguidores. Seu livro “O Matrimonio Perfeito” foi bastante divulgado em nosso
país.<br />
Em outro de seus inúmeros livros, “Rosa Ignea”,(...) Samael Aun Weor declara o
seguinte a respeito de Parzival Krumm-Heller (pag.25): “... esta magia sexual
negativa, que ensina o traidor Parsival Krumm-Heller, e o sinistro Baal Omar
Cherenzi Lind.”</span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn12" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref12" name="_ftn12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[12]</span></span></span></span></a><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"> “Por aquella época el maestro
no tenía la intención de formar ninguna escuela, sino que predicaba <i>el
sendero del hogar doméstico</i>, y trataba de entregar todas las claves del
ocultismo en sus libros.” </span>(<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><a href="http://www.gnosis2002.com/revisiones/asg.htm"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">http://www.gnosis2002.com/revisiones/asg.htm</span></a></span>)
O comentário é referente à sua obra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Apuntes
secretos um guru</i>, de maio de 1952.</div>
</div>
<div id="ftn13" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref13" name="_ftn13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[13]</span></span></span></span></a>
Listas dessa natureza podem ser vistas, por exemplo, num dos mais acessados
sites de combate ao gnosticismo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">La
Gnosis Develada</i>, em: <a href="http://lagnosisdevelada.com/fuentes-gnosticas/los-plagios-de-samael-al-tertium-organum-de-ouspensky-t151.html">http://lagnosisdevelada.com/fuentes-gnosticas/los-plagios-de-samael-al-tertium-organum-de-ouspensky-t151.html</a>
e <a href="http://lagnosisdevelada.com/fuentes-gnosticas/plagios-de-samael-aun-weor-al-cuarto-camino-de-gurdieff-t106.html">http://lagnosisdevelada.com/fuentes-gnosticas/plagios-de-samael-aun-weor-al-cuarto-camino-de-gurdieff-t106.html</a>.
Uma descrição detalhada de passagens retiradas das obras de Gurdjieff/Ouspensky
também pode ser vista no Apêndice 1 da obra de Lopez Bellas, vol II., pp.
3-122.</div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn14" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref14" name="_ftn14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[14]</span></span></span></span></a> O
texto de 1950 somente tornou-se acessível recentemente, graças ao trabalho de
divulgação das primeiras obras de Samael empreendido por Francisco Caparros
Pujalte em seu site <a href="http://www.gnosis2002.com/">http://www.gnosis2002.com</a>
. </div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn15" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref15" name="_ftn15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[15]</span></span></span></span></a>
Cristina Tamayo Jaramillo descreve de forma resumida as diferenças estruturais
entre as três facções (Jaramillo-b, p. 254)</div>
</div>
<div id="ftn16" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=490083286689299335#_ftnref16" name="_ftn16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[16]</span></span></span></span></a> OUSPENSKY
2010; no último capítulo o autor faz um relato detalhado de suas desavenças com
Gurdjieff e de como começa a estruturar uma filosofia de trabalho interior
própria.</div>
</div>
</div>
Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-30953059840176473242013-06-30T07:43:00.000-07:002013-06-30T07:43:23.588-07:00Análise do Filme “O Patriota” como elemento do imaginário sobre a Revolução Americana<!--[if !mso]>
<style>
v\:* {behavior:url(#default#VML);}
o\:* {behavior:url(#default#VML);}
w\:* {behavior:url(#default#VML);}
.shape {behavior:url(#default#VML);}
</style>
<![endif]--><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]--><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Sinopse</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
filme "O Patriota" foi dirigido por Roland Emmerich e seu
roteiro foi escrito por Robert Rodat (que escreveu também o roteiro de "O
Resgate do Soldado Ryan"). Fazem parte do elenco os atores Mel Gibson e
Heath Ledger, dentre outros. O filme é ambientado na Carolina do Sul em 1776, e
o seu contexto histórico é a Revolução Americana. O pai, Benjamin Martin
(Mel Gibson) luta ao lado de seu filho idealista Gabriel (Heath Ledger), para
defender a sua família e a causa norte-americana (Independência das treze
colônias que estavam sob o domínio Britânico). Ex- combatente nas guerras
coloniais contra os franceses, agora com seus sete filhos, sofre com o conflito
espiritual e moral por ter cometido ações cruéis no passado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Benjamin Martin,
viúvo, vive com seus sete filhos (Gabriel, Thomas, Samuel, Nathan,
Margareth, Willian e Suzan) em uma fazenda na Carolina do Sul. Ele é
então convocado para ir a Filadélfia para um debate sobre a adesão da Carolina
do Sul à guerra com a Inglaterra; Benjamin se opõe ao conflito. Contudo, seu
filho Gabriel, profundamente idealista, ingressa no exército. Com o intuito de
proteger seu filho, acaba ingressando também. Sua fazenda foi transformada em
palco de guerra e nessas circunstâncias teve seu filho Thomas assassinado pelo
Coronel Willian Tavigton que servia o Rei George III da Inglaterra. Durante sua
jornada na guerra, buscou incessantemente vingança pela morte de seu filho,
travando uma batalha pessoal com o seu inimigo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Benjamin Martin organizou
uma milícia composta por colonos civis, escravos e fazendeiros que combateu ao
Sul dos EUA. Durante um dos conflitos seu filho mais velho é assassinado
também. Infeliz por não poder salvar seu próprio filho, decide sair da
guerra e voltar para casa. No entanto, ao ver a bandeira que seu filho tanto
lutou para honrar, decidiu retomar a luta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os milicianos
receberam apoio da França, representada no filme pelo personagem Jean Villeneuve. O
filme é inspirado numa concepção ufanista e ideológica do “nascimento da nação
americana”, aqui apresentada como o primeiro governo democrático do mundo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Análise</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
filme retrata uma situação claramente maniqueísta, tão ao gosto das produções
cinematográficas: é uma luta entre o bem e o mal, em nenhum momento paira
qualquer dúvida sobre quem são o mocinho e o vilão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
drama pessoal de Benjamin Martin (o personagem de Mel Gibson) representa o
universo de representações sobre a própria nação norte-americana no contexto
descrito: Benjamin vai à Filadélfia participar de um congresso que vai decidir
pela adesão da Carolina do Sul à guerra contra a Inglaterra; a despeito de sua
simpatia pelo movimento de independência, ele se opõe à guerra e entra em sério
conflito com seu filho Gabriel, que decide se alistar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
cena do congresso é significativa: apesar da imensa anglofobia que domina a
cidade (bonecos vestidos como soldados ingleses são vistos sendo queimados na
frente dos prédios públicos), a assembléia debate democraticamente a questão:
até mesmo um americano leal à coroa inglesa fala com inteira liberdade.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Quando
o representante do exército continental fala em lutar pela nação causa uma
curiosa confusão entre os assistentes, claramente identificados como cidadãos
da Carolina do Sul. “Que nação é essa?”, indagam. “Uma nação americana”,
responde um dos assistentes. “Somos cidadãos de uma nação americana, e nossos
direitos estão sendo ameaçados por um tirano a 3.000 milhas daqui”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
fala de Benjamin contrária à independência retrata o pensamento libertário da
época:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Porque se livrar de um tirano a 3.000 milhas daqui
para cair nas mãos de 3.00 tiranos a uma milha daqui? Legisladores eleitos
podem cercear os direitos de um homem tão facilmente quanto um rei.”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Benjamin
é contrário aos impostos ingleses e favorável ao “auto-governo das colônias”,
mas decididamente se opõe a uma guerra contra a Inglaterra. O representante do
exército declara: “Se nossos princípios exigem a independência, a guerra é o
único caminho”. Ao final, Benjamin esclarece sua oposição: seu papel como pai
(suas obrigações morais) se sobrepõe às suas obrigações como cidadão: “Sou pai,
não posso me dar ao luxo de ter princípios”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Seu
filho mais velho, Benjamin, contraria suas ordens e decide se alistar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
conflito Benjamin x Gabriel alegoriza a imensa divisão que havia entre os
próprios colonos americanos quanto à questão de combater contra a Inglaterra,
como aparece retratada no filme no resultado da votação pelo conflito: 28 votos
contra 12; Willi Adams avalia entre 80.000 e 100.000 o número de pessoas que
abandonaram as colônias rebeldes durante o conflito (Adams, p. 26); o texto de
Bernard Vincent informa que até 1775
a idéia de independência era tremendamente impopular e
“o homem que se pronunciasse a seu favor na presença de terceiros estaria se
arriscando” (Vincent, p. 50); o próprio Thomas Paine é adversário da idéia
nesse periodo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
primeira parte do filme retrata os americanos lutando à maneira européia e
sofrendo sucessivas derrotas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Passaram-se
dois anos e o conflito logo chega à propriedade de Benjamin, na Carolina do
Sul; suas terras são ocupadas pelo exército inglês; os britânicos se comportam
de forma desumana e na ocasião Gabriel é feito prisioneiro e outro filho de
Benjamin, Thomas, é assassinado pelo coronel Willian Tavigton. Diante de
tamanha violência Benjamin decide lutar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
invasão da propriedade de Benjamin e os excessos dos ingleses representam a
forma como os colonos visualizam a situação: os protestos pacíficos dos colonos
contra as taxações e um conjunto de medidas arbitrárias por parte do governo
britânico são reprimidas violentamente, como na ocasião do Massacre de Boston,
em 1770; diante da violência dos ingleses e do fracasso das negociações não
resta outro recurso que a rebelião armada; o recurso discurso é assim
apresentado por Willi Adams: “a revolução americana (...) é o último ato
desesperado de resistência de colonos explorados” (Adams, p. 15).</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
personagem Benjamin constitui uma clara representação idealizada do colono
norte-americano: ele é um pacífico agricultor devotado inteiramente à família;
seu comportamento está impregnado de um forte senso moral de dever; no filme
ele é um pai que educa sozinho seus sete filhos depois do falecimento de sua
esposa, Elizabeth. Seu elevado senso de moral e justiça é mostrado nas cenas
sobre sua propriedade: é um pai preocupado em educar seus filhos através do
exemplo; os negros vistos trabalhando em suas plantações sugerem que seja um
proprietário de escravos; mas quando as forças inglesas chegam e anunciam sua
liberdade, um deles logo esclarece que são trabalhadores livres assalariados. Benjamin
lembra exatamente a forma como Tocqueville representa o povo norte-americano em
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Democracia na América</i>: “(...) as
conquistas do americano se fazem com a charrua do agricultor, as do russo com a
espada do soldado” (Losurdo, p. 94).</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há
outra dimensão evidente no filme: a enorme importância de que se reveste a “religião
civil”, essa apropiração de valores protestantes que é tão singular na cultura
americana (Oliveira, p. 13), na formatação do comportamento social do colono; o
profundo senso moral da sociedade da época é retratado, por exemplo, na rígida
etiqueta social que impede a aproximação entre o viúvo Benjamin e sua cunhada
solteira, Charlote Seltton, a despeito da evidente “química” existente entre os
dois personagens; outro exemplo significativo está no noivado entre Gabriel e
Anne Howard: durante um intervalo nos combates Gabriel é hospedado na casa dos
pais da noiva; a condição para poder dormir na casa é que ele seja costurado
num saco que cobre todo seu corpo, para evitar qualquer contato físico entre os
noivos durante a noite!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Aqui
se abre uma dicotomia interessante: ao mesmo tempo em que Benjamin e sua
família representam uma espécie de inocente pureza cristã do colono americano,
impregnado de altos valores morais e senso de justiça, Benjamin também
representa um outro “eu” oculto, cuja lembrança é extremamente dolorosa. A
“sombra” de Benjamin está representada pelo periodo em que ele lutou lado a
lado com indígenas simpáticos à coroa inglesa contra os colonizadores franceses
e seus próprios aliados autóctones; aqui ele surge como o colono fronteiriço
que constitui uma síntese do que há de melhor nas duas culturas; ele assimila
toda a habilidade indígena em lidar com a natureza do novo continente, suas
capacidades guerreiras, e as combina harmoniosamente com a estratégia militar
européia e os valores morais cristãos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ele
é aqui o que Frederick Turner retrata como a transformação do europeu em
americano: </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“O
resultado é que, até à fronteira, a inteligência americana deve as suas
caracteristicas marcantes. Essa rudeza e força combinadas com a perspicácia e
curiosidade que são, por sua vez, prática inventiva da mente, rápida para
encontrar expedientes, que se agarram magistralmente às coisas materiais, sem
nada no campo artístico, mas poderosa para efetuar grandes fins (...)” (Turner,
in “o significado da fronteira na história americana”)</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Significativamente,
a despeito de utilizar magistralmente o fuzil, a arma preferida de Benjamin é
uma machadinha indígena que ele utiliza com grande violência, relíquia dos tempos
das guerras com os franceses; que nos remete ao texto de Guazzelli:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“O
modelo do ‘civilizador’ encontra em Boone a figura típica do fronteiriço, que
para superar os selvagens assemelha-se aos mesmos em hábitos, resistência às
adversidades do ambiente e exercendo a brutalidade quando necessário, cioso de
sua importância para o país (...). Daniel Boone, além de tudo, foi um destacado
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">partisan</i> durante a Revolução
Americana: o homem da fronteira era também um dos fundadores da nação
americana”. (Guazzelli, p. 130)</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Enquanto
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">frontiersman</i>, Benjamin é superior ao
europeu. Três figuras européias da trama retratam isso com clareza: a primeira
delas é o coronel William Tavington, responsável pela morte de dois filhos de
Benjamin. Tavington é apresentado como um carreirista interesseiro, cruel e
sádico; é desprovido de valores éticos; num dos momentos mais dramáticos da
trama ele aprisiona famílias de colonos dentro de uma igreja e incendeia o
prédio. A representação é evidente: o inglês não tem respeito nem pela vida
humana nem pela religião, ambas tão caras ao colono.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Enquanto
Benjamin coleciona vitórias militares a partir de estratagemas criativos (um
deles inclui uma troca de bonecos de feno vestidos como soldados ingleses por
combatentes da milícia), Tavington somente sabe lutar com extrema brutalidade e
covardia, expressa pela absoluta vantagem de recursos militares de que dispõe.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
superior de Tavington, general Lord Charles Cornwallis, é representado como um
aristocrata; fiel à sua origem nobre, Cornwallis também possui senso de justiça
e de ética militar; se opõe aos excessos de Tavington, argumentando de forma
pragmática: “esses colonos são nossos irmãos; depois que o conflito terminar
restabeleceremos o comércio com eles”; mas, ao contrário de Benjamin, que mesmo
nos momentos mais difíceis coloca seus valores morais acima das questões
militares, o orgulho do lorde inglês fala mais forte que seus valores: diante
da humilhação de ser repetidamente vencido por um bando de colonos ignorantes,
Cornwallis dá carta branca para que Tavington use táticas genocidas contra os
americanos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
terceiro europeu é aliado dos americanos, o francês Jean Villeneuve; o filme é
mais benevolente com ele, e o personagem inspira simpatia pela maneira
atrapalhada como é representado; mas a mensagem é clara: Villeneuve conhece
apenas a forma européia de fazer guerra, que no contexto é muito inferior às
estratégias de guerrilha indígena conduzidas por Benjamin. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Patriota</i>, a despeito disso, faz enormes progressos ao retratar o
apoio francês ao movimento norte-americano; diversos outros filmes retratam o
conflito como uma luta exclusivamente entre os colonos americanos e a maior
potência militar da época.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há
outros dois personagens que merecem destaque: o primeiro é um escravo, Occam,
que foi oferecido por seu proprietário para lutar na guerra de independência;
seu proprietário assim o define: “ele não é experto, mas é forte como um touro”.
Occam é discriminado por um colono branco a quem ele vai salvar a vida durante
uma retirada; o colono então vai passar a tratá-lo como um igual. Inicialmente
obrigado por seu proprietário a lutar, Occam passa a desenvolver um espírito
patriótico quando fica sabendo de um decreto de George Washington que ordena a
libertação dos escravos que lutem no exército continental.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Tal
como Benjamin, Houcar alegoriza no filme uma dinâmica da própria nação: o
processo de incorporação do negro à nação americana. A ele pertence a mensagem
de esperança, no final da história; ele aparece à frente de um grupo de homens
brancos que constroem a nova casa de Benjamin; em nome do grupo ele diz:
“Gabriel disse que se vencermos essa guerra poderemos construir um mundo novo.
Decidimos começar aqui mesmo”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O filme
está, evidentemente, representando o mito ideal do nascimento da “nação da
liberdade” que é tão caro aos norte-americanos; essa assimilação é na verdade muito
posterior à própria Guerra Civil, quase um século depois.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
outro personagem é o americano que havia se declarado leal à Coroa no inicio do
filme; agora alistado no exército inglês como o capitão Wilkins; ele aparece no
filme sendo discriminado por oficiais ingleses; Tavington se refere a ele como
“mais um da colônia”. No afã de conquistar a confiança dos ingleses ele vai
comandar a operação mais infame da película, queimando civis presos numa
igreja. Wilkins é aqui a alegoria do traidor; tendo traído a sua pátria, perde
seu norte, perde progressivamente todos seus valores morais.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Finalmente,
Gabriel pode ser interpretado como uma alegoria da pureza de ideais da nova
nação; sua atuação mais significativa ao longo do filme se dá quando ele
recupera uma bandeira norte-americana abandonada no campo de batalha; ele se
ocupa de costurar todos seus remendos nos intervalos das batalhas, enquanto faz
preleções apaixonadas sobre a nova nação que vai surgir para personagens como
Houcar; quando ele é morto Benjamin pensa em abandonar a luta, desanimado. Mas
a visão da bandeira restaurada por Gabriel lhe dá forças para voltar ao
combate; Benjamin, que até então faz uma luta por vingança, agora luta pelos
novos ideais representados pela bandeira; o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">frontiersman</i>,
o americano mais autêntico, adotou agora de corpo e alma os ideais da nova
nação americana.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Bibliografia</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">ADAMS, Willi. Revolucion y fundacion del
estado nacional, 1763-1815.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
GUAZZELLI, César A. B. Fronteiras
americanas na primeira metade do século XIX: o triunfo das representações nos
Estados Unidos da América.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
LOSURDO, Domenico. Democracia ou
Bonapartismo: triunfo e decadência do sufrágio universal.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
OLIVEIRA, Lucia. Americanos:
representações da identidade nacional no Brasil e nos EUA.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
TURNER, Frederick J. O
Significado da fronteira na historia americana, 1893.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
VINCENT, Bernard. Thomas Paine: o
revolucionário da liberdade.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com29tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-78138314104386174482012-06-16T13:28:00.001-07:002012-06-16T18:53:39.937-07:00A respeito de um dragão no berço de uma criança<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-XK73U83cWYE/T9zsPRVqwfI/AAAAAAAAAOk/F0WnusbpHGE/s1600/afonso+pedro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-XK73U83cWYE/T9zsPRVqwfI/AAAAAAAAAOk/F0WnusbpHGE/s1600/afonso+pedro.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Ano passado tivemos o prazer de
receber o historiador Ilmar Rohloff Matos, autor de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tempo Saquarema</i>, por ocasião de nossa semana de História; num dado
momento de sua exposição, enumerando alguns conselhos aos futuros historiadores
que o ouviam, ele declarou: “não basta debruçar-se sobre fontes; o historiador
deve viajar até o local dos fatos, tomar contato com o ambiente que presenciou
os acontecimentos”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Concordo integralmente com ele;
parece que poucas coisas têm tamanha força de colocar um historiador em
comunicação com suas musas inspiradoras como essa presença física no lugar do
objeto estudado. A cultura material é na verdade um imenso arquivo de
informações sobre sua época aguardando para ser acessado e estabelecer um novo
diálogo com o presente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Nossa recente viagem ao centro
histórico de Petrópolis foi particularmente rica em “acessos” e “diálogos”. O
patrimônio observado é tão vasto que transcende nossa capacidade de assimilação.
Confesso que algumas conexões só puderam ser estabelecidas vários dias após o
regresso; há uma em especial que gostaria de compartilhar com os leitores: por
conta do enorme movimento do feriado, nosso grupo foi forçado a fazer um giro
acelerado pelo interior do Museu Imperial. Passamos pelos diferentes salas
literalmente à toque de caixa, quase sem tempo de assimilar o deslumbramento
produzido por peças tão maravilhosas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Não foram os grandes ícones do
acervo, como as jóias, o cetro e a coroa imperial cravejada de diamantes, no
entanto, que me instigaram o espírito; minha atenção foi despertada, na
verdade, por dois magníficos berços expostos numa modesta sala do museu; os
berços, ovalados, eram sustentados por uma magnífica estrutura, creio que de madeira
entalhada; são muito parecidos, a não ser por pequenos elementos decorativos;
um destes detalhes específicos é a figura de um dragão alado. No primeiro berço
ele é visto apoiado nos pés do berço; no segundo ele encima todo o conjunto,
como se seu papel ali fosse velar o tempo todo por seu ocupante.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A guia nos informou que se tratava
dos berços utilizados pelos dois pequenos príncipes imperiais, Afonso Pedro
(1845-1847) e Pedro Afonso (1848-1850). Curioso, indaguei a ela a razão do
dragão; ouvi em resposta que era um símbolo do poder imperial, associado desde
o início da vida à figura do herdeiro da coroa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Isso foi tudo. O passeio continuou
pelo museu, e seguiram-se dias atarefados percorrendo o centro histórico da
cidade. Foi apenas com o esforço de redigir um relatório do passeio, já em
casa, que aquele par de berços começou a se revelar; as imagens eram tão
insistentes que uma colega espiritualista seguramente veria algum tipo de
comunicação mediúnica no que ocorria.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Houve uma resistência inicial de
minha parte nisso tudo. Estava trabalhando num texto que interpretava
Petrópolis a partir de uma leitura política e ideológica; pedras e construções
expressando o imaginário político, religioso e social. Não havia lugar ali para
aquele incômodo par de berços!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Bom. O fato é que o texto não saía;
havia empacado feito um burrico manhoso. Algo que parecia inicialmente tão
fácil convertera-se numa batalha de titãs! Deixei então a mesa de trabalho e
fui caminhar um pouco, isso sempre me ajuda a clarear as idéias. Nada como
caminhar tranquilamente por uma praça tranqüila para restabelecer o contato com
a inspiração; isso seguramente vai parecer estranho, mas me ocorreu que o texto
estava parado por conta dos berços; algo ali pedia de alguma forma para se
expressar. Então propus um acordo a estes <i style="mso-bidi-font-style: normal;">manes</i>
literários: se eu conseguisse concluir meu texto histórico, reservaria um texto
literário para eles.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Feliz solução! As idéias voltaram a
se encadear e pude então expressar uma humilde reflexão sobre o imaginário político
das construções de Petrópolis. Salvo o arquivo, e cansado pelo esforço feito,
não conseguia, contudo, deixar o computador: meus dedos estavam curiosamente
prontos para redigir um novo texto que me chegava à mente aos borbotões, feito
uma enxurrada de idéias.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> É, talvez minha amiga tenha alguma
razão. Aquilo que captei na aura dos berços e que pedia para se expressar era
uma espécie de desabafo, um “por para fora”, o compartilhar de um tremendo
drama humano.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Dom
Pedro II não teve o que chamaríamos de uma vida privada feliz; perdeu a mãe
pouco depois de nascer, em 1825. Ele então se encheu de afetos pela madrasta,
que partiu para a Europa com a renúncia do pai, em 1831. Permaneceu sozinho no
Brasil, rodeado de pessoas desconhecidas e pelas intrigas da corte; desprovido
de vida familiar e afeto. Alçado precocemente à liderança do país, em 1841
(tinha então 15 anos de idade), foi literalmente enganado e casado por
procuração com uma princesa italiana que ele nunca vira antes, em 1843.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Esse doloroso calvário pessoal
conheceu, afinal, um pequeno momento luminoso. Foi então que nasceu Afonso
Pedro, em 1845; o sisudo imperador transfigura-se, soluça de alegria e carrega
o rebento com orgulho em seus braços. Acompanha-lhe o desenvolvimento e faz
menção constante do filho em suas cartas para Portugal; não que despreze as
filhas, muito pelo contrário, mas temos que ver a coisa toda a partir do
horizonte de seu tempo: o filho varão representa a continuidade da dinastia!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Então, com pouco mais de dois anos,
Afonso Pedro contraiu febre amarela e morreu; o episódio é narrado pelo
imperador numa carta à madrasta:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Arial;"> "Com a mais pungente dor,
participo-lhe que meu caro Afonsinho, seu afilhado, morreu desgraçadamente de
convulsões, que lhe duraram cinco horas sem interrupção, no dia 4 do passado, e
que há poucos dias Isabelinha se achou no perigo dum forte ataque de convulsões
que muito me assustou".</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O choque foi tremendo, avassalador.
Dom Pedro manteve um retrato do pequeno infante em sua mesa de trabalho até o
dia em que foi expulso do Brasil, após o golpe republicano.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O ano de 1848 trouxe, todavia, um
novo rastro de luz; nascia então o príncipe Pedro Afonso. A inversão dos nomes
é homenagem evidente ao falecido principezinho!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Não ficou clara para mim a
disposição dos berços, a quem exatamente pertenciam cada um; prefiro acreditar
numa ordem cronológica: o mais próximo da entrada é o do primeiro infante,
Afonso Pedro; o segundo berço, evidentemente, corresponderia a Pedro Afonso.
Isso também faria sentido por conta da disposição dos dragões: no primeiro
berço ele está apoiado num dos pés, discretamente; no segundo berço, porém, ele
domina todo o conjunto, observa atentamente tudo que ocorre no móvel. É como se
a vigilância houvesse sido redobrada: este haverá de vingar!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Os esforços foram baldados, todavia:
Pedro Afonso faleceu com pouco mais de um ano de idade, vítima de febres...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O dragão simboliza a própria
dinastia dos Bragança; aparece originalmente nos brasões na cor verde, com as
asas abertas, a Serpe Alada! Assim pode ser vista na base do cetro dourado de
Dom Pedro. Os jornais da época diziam que o ramo brasileiro da dinastia também
era vítima da “sina dos poucos varões” que a tempos acometia o tronco português.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O desabafo que senti naquele contato
com as peças parecia vir exatamente desse impotente dragão que agora guarda um
berço vazio; um misto de decepção e ironia, na verdade; a voz é ácida: “Veja
você”, ele diz; tantas análises estruturais, tanto falatório sobre questões
sociais e econômicas, o papel dos militares, o papel dos eruditos, e não
conseguem se dar conta de algo tão simples, tão humano: o que pôs fim ao
Império Brasileiro é o mesmo elemento que acabou com tantas poderosas dinastias
no passado, que é a força e ao mesmo tempo o elo mais frágil do sistema
monárquico! O príncipe herdeiro morreu! A continuidade natural foi negada aos
Bragança no Brasil!”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> “Digam o que quiserem os adeptos das
explicações estruturais, mas para o povo brasileiro em pleno século XIX
permanecia viva a idéia do imperador como símbolo vivo e encarnação do Estado;
tivesse vingado um dos rebentos de Dom Pedro, a ele se estenderiam naturalmente
o respeito e o amor intenso que o velho imperador gozava junto a seus súditos.
Entraríamos em pleno século XX e sabe Deus quantos Pedros ainda cingiriam uma
coroa em terras brasileiras!”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O discurso do pequeno dragão evoca
imediatamente uma outra obra de Petrópolis. Numa pequena praça da Rua do
Imperador, Dom Pedro II foi retratado numa estátua de bronze. Está sentado numa
cadeira, já bastante idoso; tem um livro na mão esquerda e a cabeça apoiada na
mão direita, pensativo. O rosto expressa preocupação, dúvidas. Na ocasião da
excursão alguém brincou: “ele está se perguntando como vai salvar o Império”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Eu havia concordado, naquele momento,
parecia fazer sentido (admitindo-se que o artista de fato o está representando
enquanto imperador; a idade avançada pode também sugerir o exílio).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Agora, pensando no que me diz o
dragão bragantino, sou tentado a imaginar que aquela expressão carregada é
muito mais de resignação; é como se ele pensasse: “não há mais o que fazer;
todas minhas esperanças estiveram depositadas naquele berço. Foi uma perda
irreparável; estou agora velho e alquebrado, cansado. Não há ao meu lado o
príncipe que me apoiaria e daria esperanças; um estrangeiro jamais será aceito
pelo povo. Já nada mais me interessa, e minha inércia é a única força que
alimenta os golpistas; bastaria um único gesto firme para que voltassem
correndo para seus buracos. Mas para quê isso agora, se a monarquia não tem
futuro?”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O dragão deixou sua ironia mais
ácida para o final: “Você esteve pesquisando símbolos republicanos; pois bem,
aqui está um que retrataria à perfeição seu triunfo: dois pequenos caixões de
cores brancas, pequenos, com o brasão imperial na tampa. Viva a República!”</span></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-34350164247255695352012-06-16T13:23:00.000-07:002012-06-16T13:23:21.146-07:00Petrópolis: o universo de representações como retrato vivo da evolução política brasileira<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-RvcqCNV4058/T9zq_hN_exI/AAAAAAAAAOc/CxXiRsXARs8/s1600/petropolis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-RvcqCNV4058/T9zq_hN_exI/AAAAAAAAAOc/CxXiRsXARs8/s1600/petropolis.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A visita a Petrópolis nos abriu as
portas para um grande universo de leituras sobre o Brasil, a formação de sua
identidade e a evolução político-social. Interessaram-nos particularmente as
diversas leituras possíveis a partir do rico conjunto arquitetônico do centro
histórico petropolitano, e de como ele retrata o universo de representações de
momentos significativos da trajetória política do país, a começar pelo império.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Petrópolis foi planejada para
abrigar o Palácio Imperial de Verão. O projeto urbanístico da nova cidade nos
informa ricamente sobre como o próprio Império Brasileiro via a si mesmo: basicamente
como uma instituição européia em terras tropicais; a residência de verão é uma
tradição muito comum entre as monarquias européias. Magníficos palácios foram
construídos com essa finalidade, como o Nymphemburg de Munique, o Sanssouci
(feito construir por Frederico o Grande, rei da Prússia), o Palácio Schonbrunn
(residência de verão da familia imperial austríaca, em Viena) e o Royal
Pavillion (Brighton, Inglaterra), entre tantos outros; a própria família real
portuguesa passava o verão no Palácio de Queluz. Petrópolis é uma reprodução
dos hábitos das famílias reinantes européias. O próprio clima ameno da Serra da
Estrela nos remete de imediato ao clima europeu.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O palácio de verão atende ainda
outras demandas específicas do funcionamento das monarquias européias do
período: o retiro sazonal da família imperial para uma cidade retirada onde a
monarquia é a líder incontestável é uma forma de preservar a independência do
monarca em relação às forças políticas e econômicas que se tornam cada vez mais
preponderantes na agitação da metrópole. Não é de se estranhar que em momentos
de crise diversos reis e imperadores tenham buscado refúgio em seus palácios de
verão; os reis franceses chegaram ao extremo de deixar a capital em definitivo,
mudando-se para Versalhes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A legitimidade do regime foi, na
prática, conferida com a aclamação popular por ocasião de momentos como a
Independência e a Maioridade (TORRES). Mas não podemos desprezar os elementos
do imaginário que conferem autoridade efetiva ao regime. As referências
arquitetônicas à Europa são, nesse sentido, parte expressa de um discurso de
legitimação: é a ligação de sangue com as grandes casas reinantes da Europa que
confere legitimidade à família imperial brasileira. As construções remetem
diretamente aos símbolos da cultura européia de então, onde as monarquias
buscam estabelecer alguma forma de identidade com o Império Romano: os motivos
greco-romanos, como colunas e obeliscos; o frontispício clássico das
edificações, as estátuas e bustos de personalidades. A Europa é o berço e
bastião da cultura clássica, a luz civilizadora que se espalha pelo mundo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A arquitetura retrata também outro
importante elemento de legitimação monárquica: a religião católica, religião
oficial do Império (art. 5º. Da Constituição de 1824; cf. EMMERICK). É
significativo, nesse sentido, que a despeito de o palácio imperial e as
construções dos barões se estenderem generosamente no sentido horizontal,
enquanto símbolos de poder terreno, apenas a Catedral de São Pedro tem o
monopólio de expandir-se verticalmente, em direção aos céus, marcando
claramente seu status privilegiado de poder espiritual.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A distribuição espacial da cidade
retrata as dinâmicas próprias do funcionamento de uma monarquia: o palácio
imperial é rodeado pelos edifícios públicos que dão suporte ao funcionamento do
governo e principalmente pelas residências das figuras de destaque da Corte; a
posição das construções e sua suntuosidade possuem basicamente uma função de
ostentação do status que seu proprietário possui dentro da corte imperial.
Muito mais que um caráter funcional e utilitário, estas construções atendem a
uma necessidade propagandística, são concebidas para “serem vistas”, para
alardear tanto o poder econômico quanto o prestígio e/ou proximidade que o
proprietário goza junto ao imperador.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A própria família imperial, nesse
sentido, preocupa-se em construir obras simbólicas: a suntuosidade da Catedral dedicada
ao padroeiro da monarquia reafirma o comprometimento da instituição com o poder
espiritual; o Palácio de Cristal, baseado nos palácios de cristal de Londres e
do Porto, procura demonstrar a sensibilidade artística e a modernidade cultural
da família imperial.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Na seqüência vêm o golpe republicano
e os governos oligárquicos da Velha República; a família imperial é expulsa do
país; a arquitetura de Petrópolis retrata o discurso de ruptura do novo sistema
político: o desprezo pela monarquia é visível no abandono em que são lançadas
construções como o Palácio de Cristal ou a interrupção das obras da Catedral;
algumas edificações, como o Palácio Amarelo ou a Casa do Barão do Rio Negro
foram parcialmente descaracterizadas e adornadas com símbolos republicanos,
como o barrete frígio (frisos do plenário da Câmara Municipal, no Palácio
Amarelo) ou o busto feminino da Liberdade e o brasão de armas republicano de
cinco pontas (frente da Casa do Barão do Rio Negro). Os elementos da cultura
clássica greco-romana são reapropriados (Grécia e Roma são agora o berço do
modelo republicano), bem como elementos do próprio simbolismo monárquico
brasileiro, como a representação do Cruzeiro do Sul (agora simbolizando
exclusivamente a independência do país). A Rua do Imperador torna-se Avenida
Quinze de Novembro; a Rua da imperatriz será agora a Avenida Sete de Setembro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os elementos de continuidade,
todavia, também podem ser identificados: é significativo que as obras da
Catedral de São Pedro tenham sido retomadas e concluídas ainda durante a Velha
República; a despeito do discurso laico, a Igreja Católica seguiu exercendo um
papel de grande influência na política nacional. Reproduzindo a tradição
monárquica numa escala ampliada, o governo estadual do Rio de Janeiro buscou refúgio
na cidade, entre 1894 e 1903, devido à agitação que havia na capital por conta
da Revolta da Armada. À exceção de Floriano Peixoto, todos os presidentes
veraneiam na cidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um segundo momento de ruptura ocorre
a partir de 1930, com Getúlio Vargas. O sistema político oligárquico entra em
crise e há enorme pressão sobre do estado por reformas; o novo sistema
republicano, centralista e modernizador, vai buscar sua legitimidade numa
experiência centralista anterior; o Império deixa de ser estigmatizado e passa
por um intenso processo de idealização, como o período mágico que produziu a
independência do país, manteve sua unidade, combateu seu maior inimigo externo
e lhe conferiu um longo período de progresso e estabilidade. Pedro II surge
agora como o líder paternalista que amava imensamente seu país. Os restos
mortais da família imperial, trazidos de volta ao Brasil, são solenemente
instalados no Mausoléu Imperial (no interior da catedral), inaugurado
pessoalmente por Getúlio Vargas; o Palácio Imperial é transformado em museu e
parte do rico acervo de uso pessoal da família imperial é recuperado e
preservado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Durante o Estado Novo Getúlio passa
longos períodos na cidade, acompanhado da família. Os hábitos do ditador trazem
à Petrópolis a nova corte do regime: figuras políticas como Amaral Peixoto,
João Goulart, Celina e Moreira Franco passam a freqüentar a região com
frequência (MONTEIRO), e são seguramente um dos motivos que levaram o
empresário Joaquim Rolla a investir na cidade e construir o magnífico
Cassino-Hotel Quitandinha, em 1944. Como comenta brilhantemente o professor
Pedro durante o passeio, enquanto Dom Pedro quis reproduzir a Europa em
Petrópolis, Joaquim Rolla tentou construir aqui uma nova Las Vegas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Finalmente, nossa atenção se volta para
o presente da cidade. É extraordinário ver um acervo patrimonial tão vasto e bem
conservado no Brasil, mas ao mesmo tempo é preocupante esse processo em que os
monumentos históricos passam a ser explorados como um produto vendido aos
turistas, por diversas razões: a primeira delas é que o “produto” é moldado
para atender o público que o consome, e esse processo compromete a análise
crítica do acervo; como se verifica facilmente nas falas do guia turístico que
nos acompanhou, a ênfase é normalmente posta na idealização do passado,
sobretudo do passado imperial; os “personagens-produtos” são essencialmente
bons, e sua bondade transparece em atitudes como a da princesa Isabel de
convidar um negro liberto para dançar, ou de Getúlio Vargas caminhando tranquilamente
pelas ruas e cumprimentando os passantes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ao mesmo tempo o excesso de
holofotes postos sobre grandes personalidades, como o imperador ou o inventor
Santos Dumont, obscurecem toda a sociedade que está à sua volta, e todas as
dinâmicas sociais que dão vida a um determinado período (exceção notável, nesse
sentido, é a Casa do Colono, que busca retratar o modo de vida dos imigrantes
alemães que construíram a cidade; uma única foto ali preservada, mostrando um
garoto negro caçando junto com uma família alemã, é um retrato eloqüente das
contradições sociais do periodo).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Porfim, a demanda por novos
“produtos” vai criando uma memória artificial da cidade: a presença da Casa
Encantada, por exemplo, serve de desculpa para a construção de uma gigantesca
réplica do “14 Bis” (cuja reprodução em miniatura é um dos artigos mais comuns
nas lojas de lembrancinhas) ou um monumento homenageando os “heróis da aviação
brasileira” na Praça da Liberdade, ou uma estátua de Santos Dumont no Museu de
Cera. Uma construção que abrigou uma grande tecelagem no final do século XIX,
um dos marcos da industrialização da região, está abandonado e desmoronando,
enquanto um gigantesco “Museu da Cerveja” é patrocinado por uma fabricante
local que faz um marketing pesado associando o nome da cidade ao seu produto. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É um problema comum a qualquer
grande destino turístico de caráter histórico, como Roma ou as Muralhas da
China; nossa preocupação é que isso não ocorra no uso pedagógico ou na produção
acadêmica sobre o patrimônio material da cidade: cercear o estudo
histórico-social crítico em nome de uma “defesa do turismo” seria um crime. Um
exemplo gritante está nos recentes desastres naturais que atingiram a região:
longe de silenciar sobre o ocorrido, é imperativo estudar os processos que
levam à ocupação desordenada do solo urbano, ou as dinâmicas sociais que
conduzem ao poder administrações municipais tão empenhadas em desviar verbas
emergenciais quanto em fazer vistas grossas às suas tarefas de fiscalização e
prevenção.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>São estudos dessa natureza que
produzem conscientização e mudança de paradigmas. Nenhum silêncio complacente
vai fazer isso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">BIBLIOGRAFIA</span></b></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: Arial; mso-bidi-font-weight: bold;">EMMERICK,
Rulian. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">As relações Igreja/Estado no
Direito Constitucional Brasileiro. Um esboço para pensar o lugar das religiões
no espaço público na contemporaneidade</i>. REVISTA LATINOAMERICANA n.5 - 2010
- pp.144-172</span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">MONTEIRO Ruy. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A República em Petrópolis, Política e Eleições Municipais, 1916-1996</i>.
Petrópolis: Ed. Gráfica Serrana, 1997.<span style="color: black;"></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="reference-text"><span style="font-family: Arial;">TORRES, João Camillo de
Oliveira. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A democracia coroada</i>. 2.
ed. Petrópolis: Vozes, 1964, p.81</span></span><span style="color: black; font-family: Arial; mso-bidi-font-weight: bold;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-57337242991422399462012-06-16T13:15:00.001-07:002012-06-16T13:19:47.206-07:00Correlações entre a Revolução Cubana e Populismo<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-43cWuFqkOfE/T9zqKS9z66I/AAAAAAAAAOU/2mHZc8glXEs/s1600/getulio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-43cWuFqkOfE/T9zqKS9z66I/AAAAAAAAAOU/2mHZc8glXEs/s1600/getulio.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-4HDsLOlt9qM/T9zqEAokHpI/AAAAAAAAAOM/KBWUnkVYds4/s1600/cuba.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-4HDsLOlt9qM/T9zqEAokHpI/AAAAAAAAAOM/KBWUnkVYds4/s1600/cuba.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A primeira dificuldade para
estabelecer correlações entre o populismo e a Revolução Cubana reside da
definição do primeiro conceito; como esclarece com muita consistência o texto
de Maria Helena R. Capelato, populismo é um assunto que comporta visões muito
distintas e recortes temporais e geográficos diversos. O curso apresentou nesse
sentido um estudo de caso a partir dos governos que sucederam a Revolução
Mexicana e o peronismo na Argentina; a partir deste estudo é possível
afirmarmos em relação ao populismo:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> São experiências político-sociais
que se opõem aos governos oligárquicos, ao ideário liberal imposto pelas
oligarquias agro-exportadoras; surgem num contexto de ascensão de novos agentes
sociais: a burguesia e as classes trabalhadoras, que lutam por participação no
jogo político. A chamada “crise dos arranjos oligárquicos” tem basicamente dois
componentes distintos: a incapacidade demonstrada pelos governos oligárquicos
em absorver politicamente as novas massas urbanas, e as constantes crises
econômicas derivadas do modelo de economia agro-exportadora atrelada à economia
mundial e de filosofia liberal de não-intervencionismo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O populismo seria, portanto, o
resultado de pressões por maior participação política da burguesia e de
centralização para acelerar a implantação de reformas que permitissem a
consolidação do capitalismo (capitalismo tardio). O Estado torna-se o grande
árbitro das questões sociais, que são estabelecidas de cima para baixo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> É preciso lembrar que a expressão
“populismo” surgiu num contexto de crítica às ditaduras personalistas do
periodo, apresentadas como autoritárias e com poder baseado num sistema de
manipulação das massas, cooptação da intelectualidade, censura dos meios de
informação e aparelhamento dos movimentos sindicais. A historiografia recente,
no entanto, tem lançado um novo olhar sobre estes governos: Maria Capelato
destaca o intenso processo de negociação entre movimentos operários e os
governos cardenista, peronista e varguista, onde os trabalhadores organizados
surgem não como a massa manipulada normalmente estereotipada, mas como agentes
políticos interessados que fazem opções pragmáticas deliberadas, cedendo em
relação ao status de liberdade política (que sempre foi uma palavra vazia nos
governos oligárquicos) em troca da concessão concreta de direitos de cidadania
e de progresso na legislação trabalhista (CAPELATO, p. 152); Francisco Weffort
também caminha nessa direção, analisando a idéia de manipulação das massas no
varguismo:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">“...E ai nos
defrontamos com um outro limite fundamental da manipulação, que não teria sido
possível se os interesses reais das
classes populares não tivessem sido atendidos em alguma medida, sem o que não
teria persistido o apoio que prestavam a lideres originários de outras classes
sociais.”</span></i></span><span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> (WEFFORT)</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> O
populismo, portanto, se consolida atravéz de compromissos assumidos com
diversos agentes sociais: ao mesmo tempo em que é apoiado pela burguesia, por
conta das políticas desenvolvimentistas de industrialização, nacionalização de
empresas e substituição de importações, recebe o apoio das classes
trabalhadoras ao implantar uma legislação trabalhista e regularizar a ação dos
sindicatos. O discurso antiimperialista e nacionalista garante o apoio dos movimentos
de esquerda.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> A
primeira relação que podemos estabelecer entre populismo e a Revolução Cubana é
a de que ambos estão inseridos num processo estrutural que ocorre em toda a
América Latina de contestação das idéias liberais. Esse processo reproduz a
contestação do liberalismo que ocorria na própria Europa, com teses da esquerda
e da direita favoráveis à construção de um estado centralizador capaz de
dirigir o desenvolvimento econômico e intervir nos conflitos sociais e
políticos (CAPELATTO, p. 128).</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> Todos
estes movimentos tiveram inicialmente um discurso reformista de modernização e
contestação dos governos oligárquicos. O próprio Che Guevara declara:</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Al fin y al cabo Fidel Castro era um
aspirante a diputado por um partido burguês, tan burguês e tan respetable como
podia ser el partido radical em la Argentina; que seguia lãs huellas de um
líder desaparecido, Eduardo Chibas, de unas características que pudieramos
hallar parecidas a las del mismo Irigoyen...”</i> (GUEVARA, p. 414)</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> Os
movimentos evoluem de forma similar; tendo iniciado como movimentos
político-partidários, são os vícios do jogo político das oligarquias que vão
fazer com que estes movimentos radicalizem o discurso e partam para a luta
armada (Revolução Mexicana, Revolução de 1930 no Brasil, golpe militar de 1943
na Argentina, Revolução Cubana em 1959). No entanto, com a ascensão ao poder,
ocorre uma distinção clara entre os dois movimentos: os movimentos estudados
contêm muitas especificidades, mas nos governos populistas a retórica revolucionária
vai ficar restrita ao discurso; muito mais que um governo institucional, há um
governo baseado na figura do líder supremo “em contato direto com as massas”.
Ocorre a centralização do estado e a modernização da economia, mas atendendo
basicamente uma agenda reformista de consolidação do capitalismo. Apenas o
regime cubano vai optar por romper radicalmente com o modelo econômico e social
e abraçar as idéias socialistas. Che chega a mencionar isso como elemento que
atrasou a reação anti-revolucionária: as forças conservadoras estavam
habituadas a movimentos com discursos incendiários que sentavam-se à mesa para
negociar assim que chegavam ao poder:</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Nunca lês pasó pó la cabeza que lo que
Fidel Castro y nuestro movimiento dijeran tan ingênua y drasticamente fuera la
verdad de lo que pensábamos hacer (...) traicionamos la imagem que ellos se
hicieron de nosotros”. </i>(GUEVARA, p. 415).</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> Florestan
Fernandes atribui o radicalismo cubano às especificidades históricas da ilha: a
independência tardia em relação à Espanha e a imediata submissão à esfera de
influência norte-americana impediram a formação de uma burguesia que investisse
na construção de um projeto nacional de caráter liberal; o atrelamento da
burguesia local aos interesses de uma potência estrangeira criou a situação
incomum de caber às camadas populares a luta nacionalista, e impediu o que
ocorria nos demais estados do continente, onde as <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“revoluções nacionais vitoriosas eram lideradas e freadas pelos
estamentos privilegiados dominantes”</i>; enquanto no continente os novos
governos limitam-se a uma agenda reformista que privilegia interesses e valores
sociais burgueses e à construção de um aparelho estatal nacional, Cuba embarca
“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">na construção de uma ordem social
inteiramente nova e socialista” </i>(FERNANDES, p. 12 e 56-59).</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> O
texto de Florestan permite ainda uma reflexão comparativa com as idéias de
Maria Capelato: enquanto a historiografia que se seguiu à queda dos regimes
militares (fins de 1970 e início de 1980) realçava os regimes populistas da
década de 1930 como os artífices do legado autoritário que desembocaria nas
ditaduras, com seu discurso antiliberal e suas idéias direitistas de um regime
autoritário que fosse capaz de impedir o avanço do comunismo, a
intelectualidade do mesmo período saúda a Revolução Cubana como o fenômeno
político mais original e esperançoso do continente, como uma antevisão do
futuro comum:</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Ela não é uma revolução dos “outros” – uma
revolução dos cubanos. É o nosso quinhão da história coetânea e contemporânea.
Cuba vive, no presente, o nosso futuro de outra maneira”.</i> (idem, p. 07).</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> E,
como tal, a intelectiualidade é profundamente tolerante com os eventuais
excessos do regime cubano:</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Cuba foi o país no qual as condições
difíceis se mostraram do modo mais difícil. Não podemos ignorar os fatos e, se
há algo admirável com relação a Cuba, é a forma pela qual a revolução procurou
subjugar e ultrapassar os fatos mais duros e adversos. Não se deve ignorar
isso, se se quiser compreender, amar e servir à revolução cubana”.</i> (idem,
p. 06)</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> Como
destaca Maria Capelato, a historiografia do final do século passa a ver o
populismo com outros olhos, enfatizando o apoio que os líderes populistas
tinham dos movimentos esquerdistas e suas relações com as classes
trabalhadoras, e o processo em que as intervenções do Estado e as novas formas
de controle social logram atender interesses populares, principalmente na forma
de direitos, cidadania e conquistas salariais (o salário real dos trabalhadores
industriais, na Argentina peronista, cresceu 53% no periodo de 1946 a 1949). Nessa
releitura o movimento sindical e os trabalhadores deixam de ser vistos como a
massa manipulada e tornam-se agentes políticos ativos interessados num projeto
pragmático; as reformas sociais do periodo populista e a maior
representatividade política conquistada pelas classes trabalhadoras são na
verdade um processo de democratização quando comparadas aos governos
oligárquicos anteriores.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> Cuba,
por outro lado (e isso é uma análise própria), segue no caminho inverso: o
fascínio com a retórica socialista pertence ao passado; o regime cubano
funcionou de fato como um regime tremendamente personalista similar às críticas
mais ferrenhas feitas aos lideres populistas. A burguesia servil aos interesses
norte-americanos cedeu lugar a uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nomeklatura</i>
cubana, uma elite de funcionários públicos de altos escalões cheios de
privilégios. Os socialistas cubanos foram incapazes de formar uma nova classe
de dirigentes, e o velho Fidel é substituído no comando pelo próprio irmão, num
cenário onde claramente o espaço democrático é muito restrito.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> Há ainda outra relação interessante entre a
Revolução Cubana e o populismo: ambos guardam íntima relação com o processo de
intensa industrialização do continente; ambos experimentam processos de
nacionalização de indústrias e políticas estatais de incentivo à substituição
de importações; as semelhanças terminam aí: enquanto no continente a ação estatal cria as condições estruturais
para que a iniciativa privada realize a industrialização (principalmente
financiada por grupos estrangeiros), Cuba vai optar por um processo de
estatização da economia.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="apple-style-span"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">Bibliografia</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">CAPELATTO,
Maria H. R. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Populismo latino-americano em
discusssão</i>; in FERREIRA, J. (org.). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
populismo e sua história</i>. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">FERNANDES,
Florestan. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Da guerrilha ao socialismo: a
revolução cubana</i>. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;">GUEVARA, E. C. Latianoamérica: la revolucion
necessária y otros escritos. Cuba :1960.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">SAINT-PIERRE,
Hector L. A Política Armada: fundamentos da Guerra revolucionária. São Paulo:
Ed. Unesp, 1999.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="font-family: Arial;">WEFFORT, Francisco. </span></span><i><span style="font-family: Arial;">O populismo na política brasileira</span></i><span style="font-family: Arial;">. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-31851394369468930562012-06-16T13:13:00.000-07:002012-06-16T13:13:18.831-07:00Nação e Identidade: evolução do discurso nacionalista na América Latina<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Claudia
Wasserman faz uma análise historiográfica da evolução do discurso nacionalista
e identitário na América Latina, buscando compreender em que condições esse
discurso é produzido e quais suas repercussões.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A autora verifica que desde as lutas
de independência, no inicio do século XIX, os líderes políticos e a
intelectualidade das terras centro e sul-americanas estão entusiasmados com
modelos teóricos vindos da Europa e com o sistema republicano norte-americano.
O paradigma europeu é evidente nos escritos de Simon Bolívar (como no exemplo
analisado em sala de aula, citando Montesquieu num trecho de “Cartas da
Jamaica”), San Martin, Hidalgo e tantos outros. A partir daí cria-se, segundo
Claudia Wasserman, o primeiro grande problema do novo discurso identitário: a
fascinação pelo discurso europeu é excessivamente subjetiva e idealizada; não
há uma percepção da realidade a partir da observação atenta e descompromissada,
mas uma interpretação romântica da realidade a partir de modelos ideais; isso
vai criar, por exemplo, a convicção de que havia no subcontinente a
preexistência de uma comunidade nacional culturalmente identificada anterior à
luta pela emancipação, e fazer com que se ignore o intenso processo de pulverização
do poder central (localismo) e ruralização que se aprofundam a partir das
reformas bourbônicas e vai tornar cada vez mais difícil a aproximação entre as
diversas regiões, ou a constituição de uma unidade administrativa estável nas
antigas unidades coloniais espanholas (WASSERMAN, p. 102-106).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os sonhos de produzir uma sociedade
a partir de um projeto liberal, que fosse republicana, democrática,
igualitária, racional, industriosa, aberta à inovação e ao progresso resultaram,
cinquenta anos depois, em sociedades <i style="mso-bidi-font-style: normal;">oligárquicas,
dominadas por caciques, morosa, cada vez mais desconjuntada, introvertida,
sacudida pela inovação e pelas mudanças produtivas, mas sempre manietada por
suas tradições coloniais</i> (CAMIN, p. 14).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Isso vai produzir um discurso historiográfico
e político que busca identificar as causas do “fracasso”; são freqüentes as
concepções de nações incompletas e revoluções inacabadas. Há intensa <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">frustração</b> pela não implantação de
modelos pré-determinados (situação impossível, uma vez que os construtores das
nacionalidades européias são burgueses, enquanto nas Américas a emancipação é
liderada por latifundiários rurais). Amparados no cientificismo então em voga
na Europa, terra, clima e raça serão consideradas como chaves interpretativas
das “deformações, desvios e incompletudes” do processo de construção da nação,
dando origem a propostas de “branqueamento” da população (imigração de europeus
e extermínio dos indígenas) e de rompimento e repúdio aos valores ibéricos
(WASSERMAN, p. 106).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Embora esse discurso determinista
sobreviva até época recente, a partir das enormes transformações que ocorrem na
sociedade no final do século XIX e inicio do XX surgirá uma nova interpretação
historiográfica focada na questão política. Esse novo discurso é concomitante
com o período de consolidação de uma aristocracia fundiária baseada em
monoculturas para exportação; em defesa de seus interesses, essas oligarquias
fundaram as bases institucionais dos estados políticos latino-americanos,
eliminando localismos caudilhescos e centralizando a administração. Predominam
então os discursos positivistas de manutenção da ordem; apenas a “ordem
positiva” vai criar as condições necessárias para o progresso; é nesse ambiente
que frutifica o arielismo, com suas idéias de “emancipação mental” e libertação
de modelos estrangeiros (RODÓ, p. 300).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O discurso positivista se propõe a
demonstrar “cientificamente” que os povos latino-americanos eram incapazes de
realizar princípios liberais e democráticos e justificar os governos oligárquicos
como uma necessidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>As intensas transformações deste
periodo são o tema do texto de José Luis Romero. O que acontece na América
Latina é reflexo da Revolução Industrial em andamento na Europa: os centros
industriais são repentinamente assaltados por uma demanda cada vez maior por
matérias-primas e pela necessidade de abrir mercados consumidores para seus
produtos. Essa dinâmica vai atingir a América Latina exatamente nas cidades que
se integram à economia mundial: inicialmente as grandes cidades portuárias, e
em seguida as regiões produtoras que vão se integrando à rede de ferrovias que
se espalham pelo continente. O rápido crescimento dessas cidades vai produzir
uma transformação radical da sociedade: as novas oportunidades atraem
habitantes das áreas rurais e imigrantes estrangeiros em grande quantidade;
surge um espaço de grande mobilidade social que altera o sistema tradicional de
relações sociais (ROMERO, p. 295). Parte do velho patriciado rural soube se
adaptar aos novos tempos, aliar-se ao capital estrangeiro e ingressar no novo
mundo industrial-financeiro; mas o que garantiu a grande dinâmica do processo
foi uma classe de pessoas de poucas posses porém livres das limitações dos
hábitos tradicionais e que rapidamente se adaptaram ao novo ambiente
empreendedor; partindo do pequeno comércio e da prestação de serviços elas
foram enxergando as oportunidades oferecidas pelas novas demandas e em pouco
tempo constituíram grandes fortunas. Entrava em cena a burguesia urbana; dona
do mundo dos negócios, ela logo disputaria com as antigas oligarquias o
controle político.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É nas cidades que vai tomar forma
outro importante agente social: o proletariado industrial. Reunidos em grandes
grupos nesse novo ambiente coletivo da fábrica, onde prevaleciam relações
sociais despersonalizadas (diferente da relação patriarcal predominante no meio
rural), eles logo vão construir uma identidade de classe e se organizar para
defender seus interesses (ROMERO, p. 307).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nesse ambiente de intensa circulação
de idéias e mobilidade social nasce uma nova cultura urbana; os hábitos
cotidianos se modificam, a ocupação dos espaços se transforma. A burguesia e o
proletariado se organizam politicamente e exigem o direito de intervir na vida
política do país.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A contestação do sistema oligárquico
é a tônica do novo discurso historiográfico e político; a crítica da
intelectualidade latino-americana é agora contra o modelo de capitalismo
implantado pelas oligarquias exportadoras (que cria uma relação de dependência
e vulnerabilidade às oscilações dos centros produtores estrangeiros) e pela
clausura política por eles imposta (WASSERMAN, p. 112).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A Revolução Mexicana é um retrato
vivo desse momento de contestação do modelo republicano oligárquico, analisado
no texto de Hector Aguilar Camin/ Lorenzo Meyer: as décadas de dominação do
porfirismo são um exemplo clássico do estado a serviço de grandes
latifundiários exportadores. Longe de ser um período de crise, é um periodo de
intenso desenvolvimento econômico, que vai produzir dois reflexos distintos:</span></div>
<ul style="margin-top: 0cm;" type="disc">
<li class="MsoNormal" style="mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Vai acentuar os
problemas sociais, na medida em que a expansão dos latifúndios acaba com
as pequenas propriedades comunitárias, o rápido surto de crescimento
provoca uma inflação que corrói o salário dos trabalhadores e a
valorização das terras provocada pela chegada das ferrovias produz uma
onde de desapropriação de terras camponesas.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">O monopólio do
poder exercido pela oligarquia ligada a Porfírio Diaz impede a
participação política e a ascensão social da nova burguesia urbana e de
setores conservadores que foram alijados do poder.</span></li>
</ul>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A contestação ao regime parte de
setores conservadores da sociedade, grandes famílias patriarcais e a classe
média burguesa que pressionam por maior participação política. È a
intransigência do regime porfirista que vai levar à radicalização do movimento.
Como analisa brilhantemente Adolfo Gilly, é uma revolução burguesa que vai
mobilizar as massas para ter seu apoio (GILLY, p. 40).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Estruturalmente a Revolução Mexicana
ocorre num período de transição entre dois modelos: a república oligárquica,
organizada para atender as demandas dos grandes latifúndios exportadores que
estavam se expandindo às custas do sistema indígena de propriedade coletiva das
terras (CAMIN, p. 16); e a república burguesa que é necessária para atender as
demandas da nova classe de industriais que controla a economia (GILLY, p. 27).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nesse sentido, embora cheia de
especificidades (como a prematura organização política dos camponeses em grupos
como os zapatistas, muito anterior à organização do proletariado urbano), a
Revolução Mexicana representa um processo de contestação dos governos oligárquicos
e sua progressiva substituição por governos burgueses que ocorrerá em toda
América Latina.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Estes novos governos trazem um
discurso vigorosamente nacionalista e de valorização dos aspectos identitários
(WASSERMAN, p. 113). A vida política deslocou-se da reunião de algumas famílias
para a praça pública; a entrada das massas na arena política não significou, no
entanto, democracia: os novos governos são autocráticos e ditatoriais, mas
apoiados em amplo apoio popular, sobretudo das classes urbanas, conquistado por
meio de concessões sociais e de políticas estatais paternalistas (ROMERO, p.
327).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O triunfo da burguesia traz consigo
uma nova mentalidade amparada numa filosofia do progresso<i style="mso-bidi-font-style: normal;">; tudo que se opunha ao desenvolvimento linear e acelerado do mundo
urbano e europeizado era condenável</i> (ROMERO, p. 344). A ascensão social não
é mais determinada pelo sangue, mas pelo êxito econômico. Tudo isso abre um
fosso enorme entre o mundo urbano e o mundo rural, ainda controlado pelos
latifundiários, sem mobilidade social e firmemente identificado com os valores
tradicionais do catolicismo; sobretudo à medida que o controle político e
econômico se desloca do campo para a cidade (ROMERO, p. 334).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Na década de 1930 a cidade se afirma cada
vez mais como um espaço de pluralidade; deixou de ser um conjunto integrado,
como o da sociedade colonial, e afirma-se cada vez mais como uma justaposição
de grupos de diferentes mentalidades; a nova sociedade multitudinária quebra o
velho sistema de normas e valores. As tensões daí decorrentes vão produzir
comparações com a Babel bíblica; é no ambiente urbano que o papel feminino na
sociedade é contestado, numa revisão constante do sistema de normas sociais
(ROMERO, p. 351).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O discurso historiográfico reflete
estas transformações e o pluralismo: o marximo é incorporado como modelo
explicativo e como instrumento de luta política (ao mesmo tempo em que revive o
hábito de importar modelos prontos) e se fortalece a defesa da aproximação
entre os países latino-americanos, que vai desembocar em iniciativas como a
criação da CEPAL.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">CAMIN,
Hector Aguilar. MEYER, Lorenzo. À sombra da Revolução Mexicana: história
mexicana contemporânea, 1910-1989.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">GILLY,
Adolfo /outros autores. Interpretaciones de la revolucion mexicana.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">RODÓ,
José Enrique. Ariel (fragmento)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">ROMERO,
José Luiz. América Latina: as cidades e as idéias</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">WASSERMAN,
Claudia. Percurso Intelectual e Historiográfico da Questão Nacional e Identitária
na América Latina: as condições de produção e o processo de repercussão do
conhecimento histórico</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-12043278506235514972012-06-16T13:09:00.003-07:002012-06-16T13:09:40.719-07:00Isis no mundo romano: uma breve síntese historiográfica<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-9gjBH0hpnBg/T9zmUIf3MfI/AAAAAAAAAOA/RphxVBQ0n9k/s1600/isis.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-9gjBH0hpnBg/T9zmUIf3MfI/AAAAAAAAAOA/RphxVBQ0n9k/s400/isis.JPG" width="300" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A proposta do tema é refletir sobre
a religiosidade no mundo romano a partir das novas concepções historiográficas,
da ênfase no caráter multicultural do Império.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A historiografia sobre o Império Romano
mudou de foco nas últimas décadas: a idéia de uma imposição unilateral de
valores culturais a partir do centro (romanização) foi substituída pela
percepção de que as trocas culturais entre Roma e as regiões periféricas do
império se davam numa via de mão dupla; a constatação de que as províncias não
eram tão “romanas” quanto se pensava anteriormente logo levou à percepção de
que a própria cultura romana foi profundamente influenciada pelas culturas
estrangeiras, alterando sua própria identidade cultural; compreender como as
influências estrangeiras mudaram a identidade cultural romana tornou-se
imperativo para a compreensão da identidade dessa nova sociedade cosmopolita
que é gestada no Mediterrâneo (para um debate sobre Romanização ver Woolf 1998;
MacMullan 2000 e Hingley 2005)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O papel da influência grega nesse
contexto é bastante conhecido; a fusão cultural é tão intensa que os estudiosos
preferem falar em termos de mundo greco-romano (Guarinello 2010), mas está cada
vez mais evidente que o Egito teve um papel de grande destaque dentro da
cultura romana; a intensidade da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Egiptomania</i>
romana é revelada pela grande quantidade de achados arqueológicos e pelas
inúmeras referências literárias.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A deusa Isis sempre foi, direta ou
indiretamente, central para o estudo das influências egípcias no mundo romano.
O novo paradigma destes estudos </span><span class="hpsatn"><span lang="PT" style="font-family: Arial;">(</span></span><span lang="PT" style="font-family: Arial;">Takács <span class="hps">1995;</span>
<span class="hps">Versluys</span> <span class="hps">2002;</span> <span class="hps">Elsner</span>
<span class="hps">2006) revela que Isis transcende o aspecto religioso e faz
parte de um processo cultural de interação muito mais amplo, colaborando, por exemplo,
na construção da ideologia imperial de Augusto </span><span class="hpsatn">(</span>Versluys
<span class="hps">2002;</span> <span class="hps">Nilo em</span> <span class="hps">Tiber</span>);
é necessário, portanto, compreeender toda uma dinâmica que determina a escolha
pelos elementos a ser apropriados, como são apropriados e o real significado
dos novos elementos construídos, da ressignificação.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial;"> O
culto de Isis experimentou uma notável expansão dentro do mundo romano,
atingindo os pontos mais distantes do império e penetrando profundamente em
todos segmentos da sociedade romana, desde a pessoa do próprio imperador e seu
séquito, passando pelas elites, como o demonstram a presença de inúmeras
capelas particulares dedicadas ao culto de Isis nas propriedades
aristocráticas, em Pompéia e diversas cidades romanas e chegando às classes
populares, sobretudo aos escravos (WITT, p.60) .</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial;"> A
historiografia dos cultos egípcios no periodo romano é relativamente recente. O
estudo da religião egípcia desperta grande interesse na Europa a partir da
expedição de Napoleão ao Egito (1798) e experifmenta grande impulso a partir da
decifração dos hieróglifos (1822); o foco dos estudos, no entanto, é a antiga
civilização egípcia, desde as origens até o fim do Novo Império. Sobretudo a
partir da helenização (305 aC)
há um entendimento de que a cultura egípcia perde a originalidade e torna-se
decadente. Nesse contexto a expansão dos cultos egípcios pelo mundo romano é
vista como parte do processo de “decadência moral” experimentada pelo império;
o estigma negativo que paira sobre os cultos egípcios tem duas origens
fundamentais: a tradição histórica cristã (que gira em torno de como o
cristianismo derrotou as superstições vigentes na época romana e produziu uma
revolução moral a partir daí) e a idealização que os autores iluministas fazem
da cultura romana, “pura” no periodo republicano e progressivamente
“corrompida” na fase imperial com a chegada dos cultos orientais (Gibon, p.
35).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial;"> O
estudo metodológico do sincretismo religioso no Império Romano inicia a partir
de 1906 com o historiador e arqueólogo belga </span><span style="font-family: Arial;">Franz-Valéry-Marie Cumont, autor do clássico </span><i><span style="font-family: Arial;">Les religions orientales dans le paganisme romain. </span></i><span style="font-family: Arial;">Cumont, no entanto,
considera o processo de penetração e assimilação de cultos como o mitraísmo, o
judaísmo e os cultos egípcios como uma unidade cultural (religiões orientais)
em que as particularidades de cada culto são pouco importantes; o próprio fato
de uma mesma pessoa atuar ao mesmo tempo como sacerdote de Isis e de Mitra é
citado como prova disso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> As
especificidades dos cultos egípcios no mundo romano passam a ser destacadas a
partir da reunião metódica de fontes; em 1922 Theodor Hopfner publicou uma
gigantesca coletânea de fontes primárias sobre os cultos egípcios, <i>Fontes
Historiae Religionis Aegypticae</i>; e em 1940 um estudo comentado do Isis e
Osíris de Plutarco. Reginald E. Witt publica a partir de 1971 uma série de
trabalhos sobre o culto de Isis, em especial <i>Isis in the Graeco-Roman World</i>.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;"> Autores como Witt, Tran Tam Tinh e
Françoise Dunand chamam a atenção para a intensidade da penetração de elementos
da cultura egípcia no mundo greco-romano, algo ignorado até então. O grande
volume de estudos leva à realização da 1ª. Conferência Internacional de Estudos
Isíacos (1997, Poitiers, França), evento que ocorre com regularidade desde
então (2ª. Em 2002, Lyon; 3ª. Em 2005, Leiden; 4ª. Em 2008, Lyege). A nova
geração de estudiosos (Laurent Bricaul, Miguel Versluys e Paul Meyboom) analisa
o culto de Isis não apenas do ponto de vista religioso, mas sobretudo como
chave interpretativa do intenso processo de apropriação de valores culturais
egípcios no mundo romano; a representação da deusa Isis surge não apenas em
contextos de culto religioso, mas também como motivo cultural e estilístico que
remetem ao imaginário sobre o Egito. Essa interação cultural alcança grande
amplitude e influencia comportamentos sociais e a própria dinâmica política.
Isis está presente, por exemplo, na construção da ideologia imperial de
Augusto; sua associação à figura do imperador (<i>Isis Augusta</i>) é uma clara
apropriação do papel original de Isis no contexto egípcio, como protetora do
faraó (encarnação e/ou representante de seu filho sagrado, Hórus). Essa
poderosa inter-relação Isis/Egito vai levar à proposta de padronizar
metodologias de estudo e as terminologias utilizadas (MALAISE</span><span style="font-family: Arial;">, 2005).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;"> Paralelamente a essa inserção de
motivos egípcios na cultura greco-romana ocorre o movimento contrário: o culto
isíaco se apropria de elementos próprios da cultura das regiões onde se
estabelece; isso afeta não só as representações estéticas, mas sobretudo o
próprio corpo doutrinário do culto; um destes temas, em particular, se tornaria
um dos principais motivos representados nas pinturas murais dos templos de
Isis, atrás apenas do motivo principal, a morte e ressurreição de Osíris: o
mito de Io.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;"> Io é uma princesa grega que desperta
a paixão de Zeus; isso atrai a ira de Hera, sua esposa, que a transforma em uma
vaca, e sua implacável perseguição a obriga a cruzar os mares e se refugiar no
Egito. Cansada de seus sofrimentos, Io suplica a Zeus pela morte. Este,
comovido, restitui-lhe a condição humana. O mito, narrado por autores como
Esquilo e Ovídio, tem imensa popularidade no mundo grego; em sua honra são
nomeados o mar Jônico (mar de Io) e o estreito de Bósforo (que significa “pata
de vaca”, em referência ao estado animal de Io). O exílio de Io no Egito produz
uma imediata associação com Isis. Na reapropriação do mito observada nas
pinturas dos templos é a própria deusa Isis quem, comovida com os sofrimentos
de Io, lhe restitui a condição humana. As lamentações de Io são frequentemente
associadas aos próprios lamentos de dor de Isis durante a peregrinação para
operar a ressurreição de seu marido, e conduz a uma mensagem de profundo
significado para o culto: Isis, devido ao próprio sofrimento que experimentou,
é especialmente inclinada a sensibilizar-se com o sofrimento humano (BRENCK,
2009); este seria um dos elementos que explicaria a rápida expansão do culto
pelo mundo mediterrânico. As representações murais sobre o lamento de Io e o
sofrimento de Isis em ambientes domésticos e públicos são muito comuns na
Grécia e Roma dos séculos seguintes, a ponto de poderem ter influenciado a
forma como Paulo e seus seguidores apresentam na Grécia o sofrimento de Jesus,
realizando seus discursos em ambientes decorados com estes motivos (BALCH,
2003).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;"> A epopéia de Io também serviu de
inspiração para um dos textos de apologia de Isis mais conhecidos na literatura
romana, o romance Metamorfoses (O Asno de Ouro), de Lucius Apuleio, escrito na
segunda metade do século II dC; o mote é praticamente o mesmo: o personagem
Lucius é transformado num asno por poderes mágicos; nesse estado passa por uma
série de desventuras até que decide apelar a Isis para recuperar sua condição
humana.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;"> O interesse moderno pelo culto de
Isis cresceu a partir da sugestão de alguns estudiosos, sobretudo R. E. Witt,
de que o culto isíaco sofreu um enorme processo de apropriação por parte do
cristianismo, numa escala talvez muito maior do que a sugerida anteriormente,
principalmente quando se fala das origens da Mariolatria; o assunto tornou-se
ainda mais instigante quando escavações arqueológicas recentes na Campânia e
diversas regiões da Europa sugerem uma enorme sobrevida do culto em pleno
período cristão, e um recurso à violência em grande escala para destruir os
locais públicos de culto à deusa (BRICAULT, 2007).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b><span style="font-family: Arial;">Bibliografia</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">BAAREN, DRIJVERS. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Religion, Culture and Methodology</i>. London, 1973.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">BALCH, David L.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b><span class="ft01"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Suffering of Isis/Io and Paul's Portrait of Christ Crucified (Gal.
3:1): Frescoes in Pompeian and Roman Houses and in the Temple
of Isis in Pompeii</i>, in </span><span class="ft02">The
Journal of Religion, </span><span class="ft01">Vol. 83, No. 1 (Jan., 2003),
pp. 24-55. The University
of Chicago Press. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="ft01"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">BARTHES, R. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Elements de Semiologie</i>. Paris, 1964.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="ft01"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">BEARD, Mary. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pompeii</i><i style="mso-bidi-font-style: normal;">: the life of a roman town</i>. London, Profilebooks,
2008.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">BLANC, Nicole; ERISTOV, H.;
FINCKER, Myrian. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Reflection dans lê
temple d´Isis a Pompei</i>; in Revue Archeologique, 2000, no. 2<span class="ft01"></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="ft01"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">BRENT, Allen. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The imperial cult and the development of
Church order</i>. </span></span><span class="ft01"><span style="font-family: Arial;">Leiden,
Brill, 1999.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">BURKE, Peter. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Testemunha
Ocular</i>. Bauru, SP: EDUSC, 2004.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">___________ . <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Variedades
de História Cultural</i>, RJ: Civilização Brasileira, 2006.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">BRENCK,
Frederick. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Great Royal Spouse who
protects her brother Osiris: Isis in the Isaeum at Pompeii</i>. In CASADIO
2009. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">BRICAULT, L.; VERSLUYS, M.J.; MEYBOOM, P.G.P. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nile into Tiber. Egypt in the Roman world.
Proceedings of the IIIrd international conference of Isis
studies.</i> (Leiden 2007)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">BROWN, Peter. <i>The World of
Late Antiquity</i>. London:
WW Norton, 1989.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">CASADIO,
Giovanni; JOHNSTON, P.A<b>. </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mystic
cults in Magna Graecia.</i> Austin. University Texas Press. 2009.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">CHUVIN,
Pierre. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Chronique des derniers paiens</i>.
Paris, Fayard, 1990.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">CUMONT,
Franz. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">After Life in Roman Paganism</i>.
Yale Press, 1922.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">DIELEMAN,
Jacco<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. Priests, Tongues, and Rites</i>. Leiden, Brill, 2005.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">DOWDEN,
Ken. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">European Paganism</i>. </span><span style="font-family: Arial;">London, Routledge, 2000.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">ELIADE, Mircea. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Sagrado e o Profano</i>. Lisboa, Edição Livros do Brasil,1972.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">_____________. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">História
das Crenças e das idéias religiosas</i>. </span><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">Rio de Janeiro</span><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">: Zahar, 1972.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">ELSNER, J. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Classicism in Roman Art</i>,
in: J.I. Porter (ed.), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Classical Pasts.
The classical traditions of Greece
and Rome </i>(Princeton
2006).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">FERRETI, Sylvia. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cassier,
Panofsky, Warburg: Simbol, Art and History</i>. N. Haven, Yale Press, 1989.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="ft01"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">FRANGOULIDIS, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Witches, Isis
and Narrative: approaches to magic in Apuleius Metamorphoses</i>. Berlin: Walter de
Gruyter, 2008.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="ft01"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">FREDE, M.;
ATHANASSIADI, P. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pagan Monotheism in Late
Antiquity</i>. Oxford,
Clarendon Press, 1999.</span></span></div>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">FORREST, Isidora. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Isis</i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"> Magic: Cultivating a Relationship With the
Goddess of 10,000 Names</i> (St. Paul-USA, 2004)</span></h1>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">GONÇALVES,
Ana T.M.; NETO, Ivan V. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Religião e magia
na Antiguidade Tardia: do helenismo ao neoplatonismo de Jâmblico de Cálcis</i>;
in <i>Dimensões</i>, vol. 25, 2010, p. 4-17. </span></div>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">GIBBON, Edward. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The History of the Decline and Fall of the
Roman Empire</i>, Volume 1 (London,
1846).</span></h1>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">GUARINELLO, Luiz N. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ordem,
integração e fronteiras no Império Romano: um ensaio</i>. </span><span lang="EN-US" style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">In: Mare Nostrum, v. 1, pp.
113-127, 2010.</span></h1>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">HINGLEY, R., <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Globalizing Roman
culture. Unity, diversity and empire</i> (London 2005).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">KOCKELMANN, Holger. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Praising the
Goddess</i>. Berlim, Walter de Gruyter, 2008.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="ft01"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">KLEINER, Fred. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A History of Roman Art</i>. London: Enhanced Edition,
2010.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="ft01"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">LAVAN, L.;
MULRYAN, M. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The archaelogy of Late
Antique Paganism</i>. Leiden,
Brill, 2009.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="ft01"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">LIMBERS, V. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Divine Heiress: the Virgin Mary and the
creation of Christian Constantinople</i>. London,
Routledge, 1994.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">MACMULLAN, R., <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Romanization in the
time of Augustus</i> (New Haven 2000)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;">MALAISE,
Michel. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pour une terminologie et une
analyse des cultes isiaques</i>, Bruxelles, 2005.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;">MANGUEL,
Alberto. Lendo Imagens. SP, Cia. Letras, 2001.</span><span style="font-family: Arial;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;">MARROU, Henri-Irenée. <i>¿Decadencia
romana o Antiguedad Tardia? Siglos III-VI</i>. Madrid: Rialp, 1980.</span></div>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">MONAGHAN, Patricia. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Encyclopedia of Goddesses and Heroines</i>, vol I.
(Sta. Barbara-USA, 2010). Greenwoold Publ.</span></h1>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">MONNIER, Marc. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Wonders of Pompeii</i>. N. York,
Bibliobazaar, 2007.</span></h1>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">MUERDOCK, D.M. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Christ in Egypt: The Horus-Jesus connection</i>.
NY, Stellar House, 2011.</span></h1>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">REED, E.C. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Circle</i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"> of Isis:
ancient Egyptian magick for modern witches</i>. N. Jersey, New Page, 2002.</span></h1>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">RUBENSTEIN, R.E. When Jesus
became God. Orlando, Harcourt Brace, 1999.</span></h1>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="ft01"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">STADTER, Philip A.
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Plutarch and the Historical tradition</i>.
New York:
Routledge, 1995.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">TAKACS, S. A., <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Isis and Sarapis in
the Roman World</i> (Leiden
1995)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">TATE,
Karen. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sacred Places of Goddess: 108
destinations</i>. San Francisco,
EUA. CCCPublishing. 2006.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">TERRIN,
Aldo Natale. </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">Introdução ao Estudo
Comparado das Religiões</span></i><span style="font-family: Arial;">. São Paulo: Paulinas, 2003.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;">TINH, Tram Ta. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Essai sur le culte d’Isis à Pompéi</i>
(Paris 1964)</span></div>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; font-weight: normal;">___________. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lê mythe d´Io: les
transformations d´Io dans l´iconographie et la literature grecques, in
Iconographie Classique et Identites Regionales</i>, Bulletin de Correspondence
Helenique, Supplement, no. 14 (Paris, École Française d´Athens, 1986), pp. 3 –
23.</span></h1>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Arial;">VEYNE, Paul. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O indivíduo atingido no coração pelo poder</i>.
</span><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">In:
VEYNE, P. et al. </span><i><span style="font-family: Arial;">Indivíduo e Poder</span></i><span style="font-family: Arial;">. Lisboa: Setenta, 1987.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">VERSLUYS, M. J. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cultural
innovation in a cosmopolitan society: Egypt in the Roman world</i>. </span><span style="font-family: Arial;">Disponível em: <a href="http://media.leidenuniv.nl/legacy/summary-vidi-egypt-in-the-roman-world.pdf">http://media.leidenuniv.nl/legacy/summary-vidi-egypt-in-the-roman-world.pdf</a>
(consultado em 21/04/2012).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">_______________, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aegyptiaca
Romana. Nilotic Scenes and the Roman Views of Egypt </i>(Leiden 2002)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">_______________, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aegyptiaca
Romana. The widening debate</i>, in BRICAULT 2007, p. 1-14.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">VERSNEL, H.S. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Isis, Dyonisos,
Hermes: three studies in Henotheism</i>. Leiden,
Brill, 1990.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">WALTER, E.J. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Attic graves reliefs
that represent women in the dress of Isis</i>.
N. Jersey, 1988.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">WITT,
R. E. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Isis in the Graeco-Roman World</i>.
London, Thames &Hudson,
1971.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">WOOLF, G. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Becoming Roman. The
origins of provincial civilization in Gaul</i> (Cambridge 1998)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Arial;">_______________________________________________________________</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-68943001410123598512012-06-16T13:09:00.002-07:002012-06-16T13:09:30.222-07:00O Feudalismo: um horizonte teórico (sinopse), de Alain Guerreau<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<span style="font-family: Arial;"></span><span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"></span>O objetivo do texto é elaborar um
esquema do funcionamento-evolução do feudalismo na Europa.</span>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há quatro eixos para reflexão:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<ul style="margin-top: 0cm;" type="disc">
<li class="MsoNormal" style="mso-list: l0 level1 lfo2; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">A relação
senhores/camponeses.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="mso-list: l0 level1 lfo2; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">O parentesco
artificial, complementar à primeira relação.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="mso-list: l0 level1 lfo2; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">As coações
materiais do sistema (sobretudo o modo de ocupação do solo), determinantes
do seu tamanho e das articulações internas.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="mso-list: l0 level1 lfo2; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Análise da única
instituição que foi do tamanho do sistema: a Igreja, síntese e pedra
angular de todo sistema.</span></li>
</ul>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 53.25pt; mso-list: l1 level1 lfo1; tab-stops: list 53.25pt; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<b><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"><span style="mso-list: Ignore;">1-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Arial;">A relação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">dominium</i></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.25pt;">
<span style="font-family: Arial;"> É uma relação de poder (sobre a terra e sobre os
homens), não de direito (este supõe uma estrutura estatal). Não há conotação
econômica no emprego das palavras, mas religiosa (“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">dominus</i>”, senhor, figura essencialmente no vocabulário eclesiástico).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.25pt;">
<span style="font-family: Arial;">Não há um termo exclusivo para designar os
“camponeses”; eles são designados de acordo com o grau de fixação à terra (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">agricolae, villani, vicini, coloni</i>,
etc.); a ligação dos homens ao solo é o principal elemento das relações de
produção feudais. A oposição marxista senhores x camponeses é simplista; a
relação é muito mais complexa, polimorfa e plurifuncional, com várias feacetas
(econômica, política, parental, religiosa, etc.)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 53.25pt; mso-list: l1 level1 lfo1; tab-stops: list 53.25pt; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<b><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"><span style="mso-list: Ignore;">2-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Arial;">Parentescos artificiais</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.25pt;">
<span style="font-family: Arial;"> O parentesco não tem nada de natural, varia de acordo
com a sociedade. O termo medieval “família” pode significar o “conjunto de
servos dependentes de um senhor”, um casal ou o conjunto de monges de um
mosteiro, entre muitos outros significados.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A sociedade feudal é baseada na
exogamia, e como tal estabelece relações de reciprocidade entre diferentes
grupos que pode incluir ajuda material ou militar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É muito importante a figura do
“padrinho de batismo” (parentesco espiritual), a ponto de chegar a adotar o
apadrinhado como filho. São igualmente importantes outras formas de parentesco
artificial, como o pertencimento a uma confraria ou fraternidade. O
pseudoparentesco, base da estrutura eclesiástica, é mais importante que o
parentesco biológico no contexto da sociedade feudal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 53.25pt; mso-list: l1 level1 lfo1; tab-stops: list 53.25pt; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<b><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"><span style="mso-list: Ignore;">3-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Arial;">O sistema feudal como ecossistema</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> <span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Uma das condicionantes mais
importantes da agricultura reside nas vicissitudes climáticas, sobretudo o
inverno; a ponto de serem as condicionantes das coações sociais (decisões como
o que e onde plantar; o que e onde armazenar, etc.).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Além da taxação sobre os produtores
diretos, há duas formas de acumular riquezas: a pilhagem e o comércio. O
comércio envolve grande risco, implica na entrega de parte dos lucros aos
aristocratas e é contraditório com as bases do sistema feudal (tanto que a ascensão
dos comerciantes a uma posição predominante será condição prévia para a
implantação de um novo sistema econômico). A guerra, no entanto, é o principal
fator de coesão do sistema feudal; a expedição militar é o meio por excelência
de tornar efetivos os laços hierárquicos e horizontais. Conquistas territoriais
permitem recompensar dependentes fiéis com terras e posições na hierarquia que
vão reforçar as estruturas de poder; essas relações são suplementadas com
alianças matrimoniais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 53.25pt; mso-list: l1 level1 lfo1; tab-stops: list 53.25pt; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<b><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"><span style="mso-list: Ignore;">4-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Arial;">A dominação da Igreja</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> <span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A Igreja é o cimento que une todas
as partes do sistema feudal. Ela exerce controle sobre do tempo, os espaços, os
laços de parentesco, o sistema de ensino, os hospitais; isso sem falar na
sagração dos reis. Liturgia, teologia e arquitetura religiosa contribuem para a
obra de sacralização do sistema feudal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Todos os aspectos do sistema feudal
europeu são dominados pela Igreja: ao controlar o ensino e o parentesco ela
controla sua reprodução; ao estabelecer os fundamentos da relação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">dominium</i>, controla as relações de
produção.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><b>Esboço da dinâmica feudal</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os francos chegam à Gália como
resultado da desagregação do sistema romano: desaparecem o comércio, a
autoridade pública, o país fragmenta-se em vários domínios.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A partir de Clóvis prevalece a organização
baseada nos princípios tribais germânicos. É a 1ª. lógica feudal: grandes
domínios quase autônomos, nas mãos de aristocratas agrupados em confederações
muito frouxas baseadas em relações de fidelidade e parentesco.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É o estreitamento dos laços com a
Igreja que vai conferir uma certa coerência ao conjunto. A exogamia vai tornar
a sociedade mais homogênea.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O constante retalhamento dos
domínios vai produzir uma anarquia interna que trará duas conseqüências: o
fortalecimento da Igreja (que chega ao auge do poder no século XII) e da coesão
da aristocracia, que vão levar a partir do século XIII ao nascimento do Estado
feudal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O feudo, nesse sentido, é uma forma
transitória dentro do grande movimento que leva à constituição das monarquias.
O novo estado vai produzir conflitos entre os feudos e as novas oligarquias
urbanas; a dinâmica própria dos senhores feudais será transmitida aos novos
estados, que vivem em guerras (Guerra dos 100 anos, etc.).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Estabelecidos os grandes domínios
feudais, afirma-se a paróquia como marca do novo quadro social espacial; ela
será também a célula base da nova estrutura estatal. Do século XIII ao XVIII há
um movimento de integração crescente que vai fazer amadurecer as contradições,
levar ao desaparecimento das relação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">dominium</i>
e o aparecimento de mecanismos políticos e de uma forma de estado dominada por
uma classe definida por características econômicas.</span></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-12275858893904859042012-03-27T10:43:00.000-07:002012-03-27T10:43:09.350-07:00Exposição no MASP: ROMA - A VIDA E OS IMPERADORES<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-6WU1KQBLU2E/T3H70hGV5hI/AAAAAAAAALo/gPBTwg427pU/s1600/300px-Statue-Augustus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-6WU1KQBLU2E/T3H70hGV5hI/AAAAAAAAALo/gPBTwg427pU/s320/300px-Statue-Augustus.jpg" width="213" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Até 22 de abril. Confira programação de palestras e horário de funcionamento no site:<br />
<a href="http://masp.art.br/masp2010/exposicoes_integra.php?id=108&periodo_menu=cartaz">http://masp.art.br/masp2010/exposicoes_integra.php?id=108&periodo_menu=cartaz</a><br />Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-51710349425925062902012-02-24T07:51:00.002-08:002012-02-24T07:52:13.479-08:00A crise do moderno conceito de História<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">Gostaria de compartilhar com os leitores do blog um interessante artigo do professor Artur Vitorino; ele versa sobre a crise de paradigma que vivemos hoje, quando tudo tornou-se história e todos os referenciais são questionados; de como isso afeta o ensino de história e, o que acredito ser o maior merito do artigo, uma alternativa de solução, a "educação patrimonial ético-humanista".</span></div>
<div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">
O link:</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300713435_ARQUIVO_Anpuh_2011_Texto_Ensino_de_Historia_e_Educacao_Patrimonial.pdf" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">Anpuh_2011_Texto_Ensino_de_Historia_e_Educacao_Patrimonial.pdf</a></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-17840601244261579542012-02-22T04:15:00.001-08:002012-02-22T04:16:54.464-08:00O Império Romano e sua religiosidade: o exemplo do culto de Isis<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-R6qjLw89IhA/T0TcG3eJ4SI/AAAAAAAAALQ/wFjkB5uyw90/s1600/isis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-R6qjLw89IhA/T0TcG3eJ4SI/AAAAAAAAALQ/wFjkB5uyw90/s400/isis.jpg" width="152" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Estátua romana de Isis</td></tr>
</tbody></table>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial;">Sinopse do artigo de Ana Carolina C. Alonso, in NEArco</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial;"> Longe de estar focado na expansão
territorial, como tradicionalmente se apresenta (a maior expansão ocorreu
durante a República), a grande missão do Império foi desenvolver a máquina
administrativa, consolidar e manter o território unido.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial;"> Um império tão vasto e com tamanha
diversidade cultural exigiu relações de poder que atendessem ao mesmo tempo a
elite do império e as necessidades provinciais.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial;">Isso
produziu uma flexibilização do que significava “ser romano”; a condição de
cidadão, por exemplo, foi progressivamente estendida aos habitantes das
províncias, até que se tornou universal (para todos os habitantes livres) em
212 dC. Há igualmente um esforço em integrar símbolos e signos locais à cultura
romana. É claro que esse processo tem, além da intencionalidade política e/ou
social, um grau expressivo de desdobramentos espontâneos que perfazem o fluxo
da história; além disso, a apropriação cultural ocorre de forma bidirecional.
Essa percepção alterou significativamente a idéia de romanização; a
bidirecionalidade é particularmente perceptível na presença de elementos
característicos das províncias nos vestígios materiais da urbe,a despeito da
relação assimétrica entre a urbe e a periferia.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial;"> Nesse sentido, uma parte fundamental
da formação da identidade romana se dava através da religião; a relação ser
humano/divindade é intrinsecamente ligada às relações sociais; termos como <i>religio</i> e <i>supestitio</i> vão ter seus significados seguindo paralelamente com as
mudanças sociais de identidade.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial;"> Vários elementos vão atuar como
veículo de penetração dos cutlos orientais na sociedade romana: a presença dos
escravos, que permanecem fiéis às suas crenças nativas; a permanência das
legiões romanas nas províncias por longos períodos e a circulação dos
comerciantes, que facilitam o fluxo cultural dentro do império.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial;"> O culto de Isis é distinto de outros
cultos praticados em Roma; não é correto considerar as religiões orientais que
chegam à Roma como um grupo padronizado com as mesmas características; elas
são específicas entre si e diferentes quanto a seus elementos constitutivos.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial;"> Da mesma forma, ao penetrar na urbe
e ser ali praticado, o culto passa a se diferenciar substancialmente de seu
ancestral oriental.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial;"> Um dos diferenciais entre a
religiosidade egípcia e a romana é a noção de templo; para os egípcios o templo
é permanentemente sagrado por ser residência de um deus; o povo não adentra
todas as dependências do templo, muitas delas são fechadas e de uso exclusivo
dos sacerdotes. Rituais constantes são oficiados para conservar os princípios
divinos do lugar, e a adoção destes rituais também é uma novidade entre os
romanos; os detalhes ritualísticos são descritos por Apuleio e Plutarco,
importantes fontes que documentam o entusiasmo que o culto isíaco produziu em
Roma.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-63896786878599951112012-02-20T13:08:00.000-08:002012-02-20T13:13:13.852-08:00Influência do Egito antigo na África<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-family: Arial;"> </span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-PJ1l1r_kizE/T0KzeSAXLcI/AAAAAAAAAKw/aj-myDDXYHE/s1600/egito+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-PJ1l1r_kizE/T0KzeSAXLcI/AAAAAAAAAKw/aj-myDDXYHE/s400/egito+1.jpg" width="397" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-family: Arial;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Nos últimos cinqüenta anos a historiografia caminhou
no sentido de reintegrar o Egito antigo ao continente africano; novos estudos
reforçaram a idéia de desenvolvimento endógeno da civilização egípcia, ao
contrário da idéia tradicional de que os egípcios haviam sido decisivamente
influenciados pelos povos da Ásia Menor; isso é sugerido, entre outros
elementos, pela lenta evolução local das representações simbólicas que vão
levar à escrita hieroglífica; esse processo è anterior ao surgimento da escrita
entre os mesopotâmicos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Muito se tem escrito sobre a influência que os
egípcios exerceram sobre as civilizações do mundo mediterrânico e da Ásia
Menor, seja no campo cultural ou nas relações políticas e comerciais. Nas últimas
décadas os estudiosos têm lançado um pouco de luz sobre o até agora pouco
conhecido universo das relações entre os antigos egípcios e as civilizações
africanas. Há dois eixos principais de contato: à Oeste, com os povos errantes
do Saara líbio, e no sul, com as civilizações nilóticas da Núbia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-f1EIJxYUdF8/T0Kz-hSuLOI/AAAAAAAAAK4/ihDh0Ap86X4/s1600/nubia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="253" src="http://3.bp.blogspot.com/-f1EIJxYUdF8/T0Kz-hSuLOI/AAAAAAAAAK4/ihDh0Ap86X4/s400/nubia.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Pirâmides em Méroe, Núbia</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">A região conhecida como Núbia estende-se de Cartum
até Assua e recebeu este nome devido às minas de ouro. A Núbia tem vestígios de
civilizações tão antigas quanto o Egito e que estariam realizando uma troca
contínua de influências; os egípcios vão controlar a região por volta de 1500 aC, mas a Núbia vai
voltar a se tornar independente e lá vai se formar o reino de Cuxe, ou Cushita,
com capital em Napata. No século VIII aC são os cuxitas que vão controlar parte
do Egito, chegando até Elefantina e Tebas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">A partir do século III aC a capital do reino foi
transferida para Meróe, mais ao sul; o reino meroíta chegou a controlar todo o
Egito, e uma dinastia de faraós núbios foi estabelecida pouco antes da invasão
assíria, em 671 aC.
Os reinos núbios são citados na Bíblia e por autores gregos e romanos, como
Diodoro Sículo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Os meroítas desenvolveram uma escrita própria a
partir dos hieróglifos egípcios, ainda não decifrada; há em Meróe pirâmides e
templos que indicam claramente a influência da arquitetura e da religiosidade
egípcias. O reino de Meróe teria se desenvolvido como um importante eixo de
rotas comerciais da antiguidade, funcionando como importante ponto de encontro
entre o Egito, ao norte, com o reino de Axum, ao sul, os portos do Mar Vermelho
ao leste e os povos subsaarianos a oeste. A atual Etiópia, colonizada
inicialmente pelos árabes, recebe desde cedo influência meroítica e egípcia; o
reino de Axum, formado no 1º. Século dC, vai conquistar a região de Meróe a partir
do século IV. Os portos do mar Vermelho são freqüentados por navios egípcios
com destino ao Punt, normalmente situado na região da atual Somália; expedições
ao Punt em busca de produtos como marfim, incenso, mirra e perfumes são
relatadas nos períodos dos faraós Sahuré (2487 – 2475 aC), Hatshepsut (séc.
XV aC) e Ramsés III (1194 – 1163
aC). Portanto, a cultura egípcia (sua escrita, estilo
arquitetônico, organização política, religiosidade) chega à Núbia e Etiópia
desde remota antiguidade; as relações comerciais vão chegar até o Chifre da
África.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">O ponto mais polêmico do alcance da influência
egípcia na África está a oeste do eixo meroítico: rotas comerciais ligando a
região da Nigéria à Núbia são consideradas prováveis desde os tempos dos
ptolomeus e certas a partir da época cristã. Contatos anteriores são ainda
hipotéticos, faltam evidências arqueológicas; peças egípcias encontradas em
regiões remotas da África, como uma estatueta de Osíris encontrada no Congo,
são ainda absolutamente inconclusivas; há ainda muita especulação sobre a
questão da origem dos diferentes centros de metalurgia do ferro na África; em
Méroe, por exemplo, o ferro é trabalhado desde o século IV aC; também é
sugerida uma possível origem nigeriana para o estanho utilizado no antigo Egito.
Teses difusionistas sugerem uma origem egípcia para o apoio de cabeça utilizado
pelos povos do ocidente africano.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">É igualmente certo que as regiões onde hoje ficam
Daomé, Gana e Nigéria abrigaram civilizações muito antigas e ainda pouco
estudadas, embora o que seja conhecido até agora sugira um alto grau de
desenvolvimento espontâneo; a chamada cultura Nok, por exemplo, floresceu entre
500 aC
e 300 dC e conheceu a metalurgia de ferro; suas peças de terracota indicam uma
cultura com alto grau de originalidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Há ainda o intenso debate acerca das possibilidades
de a religiosidade egípcia haver influenciado as culturas locais: diversas
similaridades entre os cultos, inclusive entre expressões religiosas (Obeah,
por exemplo, viria do egípcio Ob ou Aub) são sugeridas como provas por alguns.
O que pode se afirmar com seguranças é que povos nômades como os blêmios eram
comprovadamente seguidores de Isis, vivendo no oeste da Núbia do século V dC;
ignora-se o que ocorre com esse povo depois; isso basta para que alguns sugiram
uma migração para o oeste. Esse tipo de esforço é recebido com profundo
ceticismo no mundo acadêmico, mas demonstra um intenso esforço cultural de
estabelecer uma ponte entre os cultos do ocidente africano e o Egito; pois o
Egito fascina os povos desde remota antiguidade, e nós podemos assistir um
processo similar ocorrido na época clássica, um esforço em associar deuses
gregos e romanos ao panteão egípcio, e assim se beneficiar de sua respeitável
antiguidade. Esse esforço é hoje particularmente intenso entre algumas linhas
de cultos afro-brasileiros, e uma das associações mais comuns é de Yemanjá como
uma releitura africana de Isis.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-j_9h5NbXBqc/T0K1lwpTl5I/AAAAAAAAALI/yJMmsBoLuOI/s1600/isis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="144" src="http://1.bp.blogspot.com/-j_9h5NbXBqc/T0K1lwpTl5I/AAAAAAAAALI/yJMmsBoLuOI/s200/isis.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-lfRFj5bdSe0/T0K1jEASr5I/AAAAAAAAALA/x9xVS4AXFhg/s1600/iemanja.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="http://2.bp.blogspot.com/-lfRFj5bdSe0/T0K1jEASr5I/AAAAAAAAALA/x9xVS4AXFhg/s200/iemanja.jpg" width="161" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial;"> <span style="font-size: large;">Fenômeno semelhante ocorre, de forma documentada, no
segundo eixo de irradiação egípcia, a partir do Saara e do litoral
mediterrânico, atingindo povos nômades do deserto como os garamantes; os
contatos com os cartagineses, por exemplo, vão produzir um deus púnico
claramente identificado com o deus egípcio Amon; trata-se de Baal Hammon.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">É interessante observar que há outros períodos mais
recentes em que o Egito vai atuar novamente como um importante centro de
irradiação de influência, sobretudo em direção à África, e razões pelas quais
isso é tão pouco sabido hoje. Por exemplo, o Egito foi um dos mais importantes
centros de difusão do cristianismo e de desenvolvimento da mística e do
pensamento cristãos nos quatro primeiros séculos de nossa era. Alexandria era
um dos bispados mais influentes do Império Romano, não só pela importância da
cidade, mas devido a homens como Santo Atanásio (295 – 373 dC), um dos maiores
defensores da ortodoxia contra a poderosa heresia ariana; são também do Egito
figuras de peso como Orígenes, Clemente, são Cirilo e tantos outros. É em
terras egípcias que figuras como santo Antão vão dar origem ao extraordinário
movimento do monaquismo cristão, talvez uma das mais identitárias
características da religiosidade cristã.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Vão pesar contra o Egito, no entanto, primeiro o fato
de ser um importante centro de pensamento gnóstico, mais tarde ferozmente
combatido por Roma. E sobretudo a controvérsia em torno da natureza de Cristo
que vai levar ao rompimento com Roma a partir do Concilio de Calcedônia (451
dC); o cisma egípcio fez com que as terras do Nilo desaparecessem do horizonte
cristão; Roma e Constantinopla se apresentam a partir daí como únicos centros
cristãos. Toda a epopéia de disseminação do cristianismo em sua forma
monofisita pelas terras da Núbia e da Etiópia (cristianizada a partir do século
IV pelo bispo Frumêncio) é praticamente ignorada pelo mundo ocidental.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Aqui, novamente, há controvérsias sobre o real
alcance do cristianismo egípcio à oeste: é certo que os reinos núbios de
Makuria e Alodia foram cristianizados; seus vizinhos à oeste, vivendo numa
imensa região em torno do lago Chade eram os zaghawas, onde vai se formar o
Império Kanem (700 – 1376); a difusão do cristianismo entre os zaghawas é
provável, embora não haja evidências concretas. Admitida essa possibilidade,
porém (é certo que efetuavam trocas comerciais entre si), abre-se um curioso
leque de possibilidades: Kanem tinha contato, a oeste, com haussás, iorubas e
nagôs; que poderiam, portanto, ter tido algum tipo de remota notícia do
cristianismo a partir de comerciantes núbios ou zaghawas. Se tal ocorreu, no
entanto, não deixou traços culturais perceptíveis.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Finalmente, o Egito serviu ainda como cabeça de ponte
para a expansão árabe pela África do Norte e Península Ibérica, no século VII. O
Cairo vai se tornar sede do califado fatímida e um dos mais importantes centros
culturais do mundo árabe. A partir do Egito o islamismo vai se expandir pela
Núbia (séc. X) e levar à formação do Império Fungi, no século XVI, levando à
islamização do Sudão e Chade atuais. As areias que cercam o Nilo foram um dos
berços de um original sincretismo entre o monaquismo cristão e as idéias
muçulmanas, o sufismo, que vai se espalhar pelo mundo árabe e estimular um
grande renascimento cultural e místico entre os séculos XIII e XVI.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">Definitivamente, África e Egito não podem ser estudados
separadamente; apenas uma perspectiva ampla permite entender toda essa riqueza
de contribuições recíprocas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><b><span style="font-family: Arial;">Bibliografia</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">KI-ZERBO, Joseph. <i>História
Geral da África</i>, vol I. Brasília. UNESCO. 2010</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">MOKTHAR, Gamal. <i>História
Geral da África</i>, vol II. Brasília. UNESCO. 2010</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">EL FASI, Mohammed. <i>História Geral da África</i>, vol III. Brasília. UNESCO. 2010</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: large;">NIANE, Djibril Tansir. <i>História Geral da África</i>, vol IV. Brasília. UNESCO. 2010</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-63251703986024554392012-01-13T07:37:00.000-08:002012-01-13T07:37:22.885-08:00Sinopse - "A Escravidão na África: uma história de suas transformações", de Paul E. Lovejoy<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-XCzVwx0JXoY/TxBPORk57RI/AAAAAAAAAKY/OuZm6-LBTy0/s1600/A+Escravid%25C3%25A3o+na+%25C3%2581frica+-+Uma+Hist%25C3%25B3ria+de+suas+Transforma%25C3%25A7%25C3%25B5es.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-XCzVwx0JXoY/TxBPORk57RI/AAAAAAAAAKY/OuZm6-LBTy0/s320/A+Escravid%25C3%25A3o+na+%25C3%2581frica+-+Uma+Hist%25C3%25B3ria+de+suas+Transforma%25C3%25A7%25C3%25B5es.jpg" width="221" /></a></div>
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Os parenteses indicam o número da página; a referência é a edição de 2002 da Civilização Brasileira, Rio de Janeiro RJ.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Lovejoy admite uma relação causal entre o tráfico atlântico e o subdesenvolvimento africano (20); seu foco, no entanto, é a interação entre as forças locais e os elementos externos, e como essas relações afetaram o curso da história. O assunto é controverso, vai desde os autores que consideram que o tráfico de escravos era excessivamente marginal para afetar de forma significativa a economia africana (Eltis) até autores que consideram que a escravidão modifica completamente o quadro econômico (Manning); Inikori considera que não havia escravidão propriamente dita na África, enquanto Thornton busca demonstrar que o tráfico atlântico se desenvolve sobre um sistema já previamente disponível. Analisa ainda a especificidade da escravidão na África, transformada em modo de produção, articulando mecanismo de escravização, tráfico de escravos e utilização dos mesmos (22).</span><br />
<br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> A escravidão na África tem três etapas de desenvolvimento: de 1350 a 1600 (onde prevalece o tráfico transaariano), 1600 a 1800 (tráfico atlântico) e 1800 a 1900 (ocupação imperialista da África); nesse processo o escravismo se torna fundamental para a economia política africana, ocupando uma área geográfica cada vez maior e transformando completamente a ordem social, econômica e política, sempre sob a pressão do comércio exterior (29).</span><br />
<br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Definição: forma de exploração onde o escravo é concebido como propriedade e como tal desprovido de herança social; o senhor dispõe livremente de sua força de trabalho e sua sexualidade e do direito de coerção; como propriedade podia ser comprado e vendido, com eventuais restrições da moral religiosa à separação de famílias, sobretudo crianças (30). A escravidão é via de regra aceitável quando imposta ao estrangeiro, ao alienígena, ao diferente; seja por não pertencer ao mesmo grupo religioso, seja por pertencer a outra raça ou falar outro idioma (32). Além da capacidade de trabalho (fator econômico), a posse sexual é outro elemento significativo na escravidão: daí que os escravos mais caros são eunucos (castrados) e mulheres de beleza incomum (35).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> A escravidão podia ocorrer incidentalmente numa determinada sociedade, sendo demograficamente pouco significativa e de pouca monta, não tendo influência sobre a estrutura da sociedade ou o funcionamento da economia. Em outras sociedades ela é institucionalizada, desempenha um papel essencial na economia e afeta a organização da própria sociedade, que se organiza para oferecer os escravos que atendam à demanda, por meio de comércio ou escravização (39). É o modo de produção escravista, onde a sociedade organiza um sistema integrado de escravização, tráfico de escravos e utilização interna dos cativos.</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> A África não possui sociedades baseadas na escravidão antes da presença árabe-européia; as estruturas sociais são baseadas na etnia e no parentesco, com poder político baseado na gerontocracia (os mais velhos controlam o acesso às mulheres); a economia, de pequena escala (doméstica) era organizada por faixa etária e sexo (não há classes sociais); a escravidão é apenas uma de várias relações de dependência, como o penhor (escravidão temporária para saldar dívidas, ou como garantia), a limitação de direitos aos mais jovens, o concubinato e o casamento (44). O casamento com escravas era muito comum e mecanismo de assimilação, integração às relações familiares; o comércio de escravos é eventual, seu destino natural é a assimilação na família de seus proprietários. Nessas sociedades a escravidão atendia também requisitos religiosos, na forma de oferecer vítimas para sacrifícios rituais (46).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> O mundo islâmico é formado igualmente por sociedades que enfatizam o parentesco e a dependência pessoal; o uso do escravo é apenas adaptado à nova religião e à complexidade das novas estruturas estatais, o que define novos usos para o escravo, como componente de exércitos ou da burocracia estatal. A assimilação segue sendo grande, embora haja uma estrutura organizada que permite compra e venda de escravos numa vasta rede internacional (47). Apesar de seu uso em grande escala em diferentes atividades econômicas, o escravo não é a principal relação de produção, o que faz o autor entender que não havia uma sociedade escravista institucionalizada entre os árabes (50).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> O comércio transatlântico é diferente; envolve um assombroso deslocamento de populações: de 400.000 escravos no período 1450-1600 para 3.460.000 em 1801-1900, totalizando 11.313.000 escravos entre 1450 e 1900! (51). A escravidão deixa de ser uma característica marginal da sociedade e torna-se uma instituição de grande importância, com a adoção de uma ideologia européia que incentiva o aumento da escala de produção de bens; a antiga escravidão baseada no parentesco e linhagem cede lugar ao escravismo em grande escala nas plantations (53)</span><br />
<br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Ralph Austen estima o tráfico de escravos da África para o mundo árabe no período 650-1600: rotas transaarianas (4,8 milhão) e Mar Vermelho / África Oriental (2,4 milhão); havia seis rotas principais pelo Saara; partindo do Marrocos, Líbia e Egito, faziam contato com os impérios do Mali e Songai, o Benim, Bornu (Lago Chade), Darfur e Sudão (62). As nações africanas eram autônomas; a adoção de idéias e práticas islâmicas ocorreu gradualmente durante muitos séculos e sujeita à interpretação do contexto local (64). A instabilidade das nações africanas tem algumas causas estruturais: baseados em cidades fortificadas, sua capacidade de escravização diminui à medida que as regiões vizinhas se exaurem ou suas populações fogem para áreas mais distantes; a procura por escravos em áreas distantes cria inevitavelmente conflitos com outros estados em busca de escravos; embora estes estados tivessem vantagens militares contra seus vizinhos do sul, por disporem de cavalos para guerrear, eram indefesos aos ataques de nômades do deserto com tropas de camelos; fatores ecológicos eram ainda determinantes: secas periódicas afetavam severamente a savana setentrional, forçando migrações para o sul (65). Todos esses fatores vão determinar os ciclos históricos de expansão dos impérios, decadência e desmoronamento.</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> A entrada dos portugueses no comércio escravista africano inicialmente reproduz o modelo do comércio árabe transaariano: os escravos enviados à Portugal destinam-se ao uso doméstico, como na maioria dos paises islâmicos; em seguida vinham os escravos destinados às culturas de cana de açúcar no Mediterrâneo (também atendidas pelo Saara) e em seguida em Madeira, Canárias e Cabo Verde; os portugueses atuavam como intermediários no comércio local de escravos, comprando e revendendo na própria África; finalmente, os próprios produtos que os lusitanos oferecem são similares aos ofertados pelas caravanas, sobretudo cavalos (74). Já existe um uso extensivo de escravos em grandes propriedades agrícolas em Songai no século XVI, ao longo do rio Níger, comparadas por alguns historiadores às plantantions americanas (70), bem como um grande demanda por escravos para trabalho nas minas de ouro e de sal.</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> O Reino do Congo não participava do tráfico pelo Saara; são os portugueses que vão inaugurar ali o tráfico de escravos em larga escala; a venda de escravos vai ser monopólio do rei congolês; o esforço para modernizar a nação seguindo o modelo europeu vai levar à formação de grandes propriedades agrícolas com trabalho escravo, produzindo principalmente painço para consumo da nobreza local (81). Em outras palavras, o uso do escravo nas nações costeiras da África foi sendo modificado pelo contato com os europeus; o papel marginal do escravo na sociedade, produto incidental dos conflitos entre os grupos familiares, cedeu lugar a um comércio regular de exportação, de troca de seres humanos por mercadorias importadas (85).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> A exportação de escravos vai afetar as sociedades africanas com intensidade freqüente a partir de 1600; os métodos de escravização são modificados e uma infra-estrutura comercial é desenvolvida para atender a demanda, ao mesmo tempo em que aumenta a utilização interna de escravos (89). As rotas árabes (Saara e Mar Vermelho) ainda respondem pela maior parte do comércio de escravos (cerca de 70%); o tráfico atlântico vai saltar de 30% em 1500-1600 (328.000 escravos) para 60% em 1600-1700 (1.348.000) e 82% em 1700-1800 (seis milhões) (90). Enquanto os portugueses controlam o tráfico nos séculos XVI e XVII, os ingleses serão responsáveis por quase metade de todo tráfico atlântico no século XVIII (92). A enorme demanda vai fazer o preço médio dos escravos quintuplicar no período de 1663 a 1773, o que vai produzir um efeito cascata: o aumento do preço vai funcionar como estimulante adicional para o aumento do tráfico de escravos (97). A região de Angola vai ser a maior fornecedora de escravos do tráfico atlântico; entre 1600 e 1800 ela vai responder por 30% de todos os escravos africanos exportados (98). No período 1600-1800 cerca de 10 milhões de escravos foram exportados (3 milhões pelas vias árabes, 7 pelo Atlântico), o que produziu impactos na demografia do continente; Thornton revela que na Angola de 1770 havia mais de 2 mulheres para cada homem (114). O aumento espantoso nas exportações de escravos no período pressupõe o aumento da violência política; o período vai assistir à fragmentação dos grandes estados centralizados africanos. Não só a presença européia, mas a expansão marroquina sobre Songai e a jihad árabe contra a Etiópia são parte deste contexto (120). As nações africanas, como Oió (1650) e Axante (1700), são muito mais fracas que suas antecessoras (121). Esse período assiste uma série de novas dinâmicas: as guerras constantes e a fragmentação política vão fazer o soldado se projetar socialmente como figura central; os principais avanços tecnológicos ocorrem na forma de guerrear e na organização militar; ao contrário das guerras européias, os conflitos africanos não dão origem a grandes estados, mas à escravização de grandes contigentes populacionais; ao mesmo tempo, a adoção de culturas vindas da América e a formação de grandes propriedades agrícolas aumentam a produção de alimentos e permitem o aumento da população, o que mantém os níveis populacionais a despeito do tráfico cada vez mais intenso. A partir do século XVII a região do antigo império islâmico no norte da África também vai viver um proceso de fragmentação política e guerras constantes. A combinação de guerras constantes e secas periódicas impediam a estabilidade política e o crescimento econômico e facilitavam o trabalho do tráfico (122); desde o século XVI a história tem registros de gigantescas secas durando 5, 7 e até 20 anos em regiões como o Lago Chade, Níger, Sudão e Senegambia; essas secas produziam grandes movimentações de populações que ficavam mais vulneráveis à escravização. Entre os séculos XVII e XVIII os estados muçulmanos desenvolvem ações militares contra seus vizinhos do sul com o objetivo de capturar escravos; Bornu torna-se um califado aliado do Império Otomano, e Senar destrói os estados cristãos no vale superior do Nilo; os novos estados de Darfur e Uadai avançam ente o lago Chade e o Nilo; a captura de escravos é a segunda maior fonte de renda do sultão de Darfur. As guerras constantes dentro do mundo islâmico também vão levar à escravização em massa de populações muçulmanas, atividade condenada pelas leis corânicas e realizada eventualmente até então (128)</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> A desintegração do reino do Congo na segunda metade do XVII é responsável pelo aumento expressivo da escravização na África Centro-Oriental; a partir daí expedições portuguesas passaram a prear escravos no interior, superados apenas pela nobreza dos imbangalas, que passaram a viver do tráfico (129). O surgimento dos “senhores da guerra”, líderes tribais com exércitos próprios e autônomos, que viviam da prática de expedições de saque e captura de escravos para revendê-los aos europeus vai progressivamente desestabilizar toda a região até a bacia do Zambeze, no final do XVII, onde também estão se expandindo as rotas de tráfico europeu do Indico (132).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> A expansão de Oió, na região da Senegâmbia, a partir de 1650, vai levar à escravização em massa de populações iorubas e hauçás. Axante vai ser o estado dominante da região a partir de 1700, organizado numa federação de senhores da guerra apoiados numa poderosa classe sacerdotal.</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Em resumo, a dinâmica da captura de escravos nos séculos XVII e XVIII segue o seguinte padrão: começa com guerras de capturas promovidas por estados centralizados; a busca por escravos em regiões cada vez mais distantes produz conflitos entre os próprios estados centralizados; os conflitos freqüentes vão enfraquecer os estados e promover a fragmentação; a partir daí populações até então protegidas vão ser escravizadas em massa pelos senhores da guerra. Finalmente, como se vê entre os axantes, medidas punitivas contra criminosos, bruxaria, diferenças políticas ou sequestros vão fornecer escravos no interior das próprias sociedades (141), o que vai produzir uma imensa erosão dos costumes e aumento da insegurança (142). O relato de um ibo do rio Níger, Olaudah Equiano, de 1756, dá noção da situação: filho de um traficante de escravos especializado em capturar criminosos de sua própria tribo, vai ser ele próprio seqüestrado e vendido, primeiro a um ferreiro local e depois aos europeus (144). No mundo árabe isso vai criar um novo comércio lucrativo: o seqüestro de filhos da nobreza e sua devolução mediante resgate (145).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Ao mesmo tempo em que há uma progressiva fragmentação política do continente, as imensas redes comerciais que atendem o mercado externo vão se estruturando cada vez mais e se integrando ao sistema de mercado, envolvendo os órgãos governamentais, os comerciantes estrangeiros e os senhores locais. O tráfico é normalmente monopólio estatal; apenas a fragmentação vai transferir a iniciativa da captura para grupos de traficantes e comerciantes, muitas vezes a nobreza local, o que vai gerar uma imensa concorrência; a captura praticada diretamente por europeus é rara, sendo mais comum em Angola por parte dos portugueses (157).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Salvo nas regiões produtoras de ouro e sal, o escravo é o principal item de exportação; os principais produtos africanos são sal, têxteis, tabaco, gado, peixe seco, nozes de cola, jóias e metais preciosos (167). Dos árabes e europeus os africanos compravam têxteis, cobre, cavalos e caurins; do mercado atlântico vinham também moedas de prata, barras de ferro, bronze e cobre, além de armas de fogo (cerca de 180.000 armas foram importadas por ano na costa ocidental no século XVIII, p. 171; só a Inglaterra vendeu para nações africanas 22.000 toneladas de pólvora entre 1750 e 1807). Então, nessa ordem, as importações africanas demandavam em primeiro lugar materiais para uso como moedas (prata, ferro, caurins) em trocas comerciais; em segundo vinham as despesas militares (armas de fogo, espadas, pólvora e chumbo para confecção de balas) e em terceiro produtos de luxo para uso das cortes reais, além de tabaco e bebidas.</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Relatos de padres capuchinhos no Congo dão conta de que em 1648 quase metade da população do reino era constituída de escravos, em torno de 100.000 pessoas (196). Á medida que os europeus começam a se estabelecer na África, construindo fortes e cidades, há um grande fluxo de escravos para trabalhar nestes enclaves europeus (206); em alguns lugares, como no Zambeze, escravos foram utilizados pelos europeus como soldados (208). Em 1800 a África está geograficamente dividida em três modelos de escravidão: ao norte e na costa índica a região islâmica; na Guiné e no Zambeze as novas sociedades escravocratas estabelecidas pelo comércio europeu; e no interior as zonas onde a escravidão ainda é familiar e de pouca monta (211).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> O movimento abolicionista começa a atuar nas últimas décadas do XVIII; em 1807 a Inglaterra proíbe que seus súditos participem do tráfico de escravos, e a partir de 1840 passa a haver um efetivo bloqueio naval das rotas atlânticas (216); foi um processo lento de pressão diplomática, e o primeiro impacto foi negativo: as restrições ao tráfico de escravo fizeram aumentar o uso interno de escravos na própria África. Ainda assim foram exportados 5,6 milhões de escravos da África no século XIX, sendo 3,4 milhões pelo Atlântico; as rotas árabes transportaram 2,2 milhões de escravos. O preço do escravo começou a cair lentamente a partir do bloqueio de 1840 (219); o tráfico atlântico diminuiu consideravelmente em 1850 e praticamente cessou a partir de 1860, com pouco mais de 50.000 escravos transportados. Os comerciantes preferiam agora utilizar o escravo na própria África para produzir produtos que podiam ser legalmente exportados; em Biafra, por exemplo, a produção de azeite de dendê saltou de 3.000 toneladas em 1819 para 12.800 em 1839 (225). A pressão inglesa só vai afetar as rotas transaarianas a partir de 1870; o Império Otomano e a Etiópia proibiram o tráfico de escravos em 1850 (233). Porfim, na África Oriental o tráfico cessa a partir de 1896 (235).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Como foi dito, houve em contrapartida um aumento do mercado interno de escravos; uma onda de revoltas fundamentalistas na África muçulmana, entre 1840 e 1880, como a revolta de Madi, no Sudão, gerou um grande volume de escravização de populações não-muçulmanas devido à expansão de regimes fundamentalistas por novos territórios do sul (239); a própria Inglaterra, que combate o tráfico, é tolerante com a escravidão em seus territórios africanos; em Serra Leoa, por exemplo, só em 1928 os escravos são libertados (251). Até mesmo na Libéria havia escravos africanos. O crescimento das plantantions criou situações em que até mesmo escravos eram proprietários de outros escravos (273); o uso doméstico de escravos também aumentou. O uso extensivo de escravos nas grandes propriedades agrícolas exportadoras fortaleceu o modo de produção escravista internamente, agora estruturalmente adaptado para abastecer um mercado capitalista (278). A abolição de escravos vai ser um dos principais motivos da imigração dos bôeres para o interior da África, entre 1834 e 1838 (345).</span><br />
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> A posição européia frente à escravidão no século XIX é ambígua; os mais ardentes abolicionistas são missionários religiosos; a estrutura estatal vai lentamente se adequando às leis abolicionistas, e os comerciantes tentam a todo custo burlar as restrições ao tráfico, passando a explorar o escravo na própria África. A partir de 1850 as revoltas de escravos tornam-se mais freqüentes e ajudam a desestabilizar o sistema escravista; ingleses e franceses passaram a empregar escravos fugidos em seus exércitos coloniais (371), e missões religiosas passaram a abrigar fugitivos em suas missões. Movimentos abolicionistas provocaram guerras civis, como na região do delta do Níger em 1867; a depressão européia de 1880-90 e a queda dos preços dos produtos agrícolas africanos aumentaram o clima de rebelião entre os escravos das plantantions (374); além da pressão européia, a pressão interna pelo fim da escravidão foi um importante motor do processo. Evasões de escravos no Sudão francês tornaram-se um êxodo de dezenas de milhares de pessoas em fins do XIX (390). O abolicionismo foi também utilizado o pelos ingleses como desculpa para realizar a ocupação militar de territórios na África central. O fim ao comércio interestatal de escravos no continente africano produziu finalmente o colapso do escravismo como modo de produção, por volta de 1930, e sua substituição por trabalho assalariado (408), dentro do processo em que firmas internacionais vão assumindo o controle da exploração dos recursos nacionais das então colônias européias.</span><br />
<br style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;" />Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-40539646067152193772012-01-06T07:07:00.000-08:002012-01-06T07:08:49.840-08:00Sinopse - A Manilha e o Libambo; a África e a escravidão de 1500 a 1700, de Alberto da Costa e Silva<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-N5gcQ-A5rpM/TwcNe19W0NI/AAAAAAAAAKI/r33NIv9NgKw/s1600/manilha+libambo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-N5gcQ-A5rpM/TwcNe19W0NI/AAAAAAAAAKI/r33NIv9NgKw/s320/manilha+libambo.jpg" width="213" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Manilha é um bracelete de metal;
libambo é uma cadeia de ferro usada para prender escravos pelo pescoço. Os
principais tópicos possuem indicação de página; a referência é da edição de
2002 da Editora Nova Fronteira.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A primeira notícia sobre escravos na
África é de uma estela egípcia do faraó Sneferu (4ª. Dinastia, 2.680 aC), anunciando a
captura de 7.000 escravos durante uma expedição militar à Núbia. A escravidão é
muito comum no mundo antigo, e a base da economia; Estrabão fala da conceituada
classe dos comerciantes de escravos (21). Na Grécia clássica, numa população de
315.000 pessoas, cerca de 115.000 seriam escravos; Atenas, então com 155.000
habitantes, tinha 70.000 escravos (20). Escravos vinham de toda parte,
inclusive da África; em dois episódios da Odisséia o herói Ulisses vai ao Egito
para capturar mulheres e crianças (21); um autor anônimo do séc. I dC fala da
escravidão em seu texto “Périplo do mar Eritreu”; da mesma forma Cosmas
Indicopleustes, no relato de sua visita à Etiópia (séc. VI dC); há relatos de
núbios servindo no exército persa de Xerxes (25). Mosaicos e esculturas romanas
representam africanos exercendo atividades como gladiadores, artistas de circo
e criados pessoais. Também na Antiguidade barcos indianos faziam transporte de
escravos trazidos da África; no século VI há relatos de escravos negros na
Indonésia e na China.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Esse comércio é ainda de pequenas
dimensões na África; é a rápida expansão muçulmana do séc. VII que vai mudar
esse cenário. Os africanos eram inicialmente minoria: os escravos vinham em sua
maioria da Europa e Ásia Menor; havia centros de produção de eunucos (escravos
castrados) nos Bálcãs e na Armênia (34); a partir da ocupação do Egito e as
guerras com os reinos cristãos da Núbia a situação começa a se alterar. No
século VIII toda a costa norte da África tornou-se muçulmana; imensas caravanas
cruzam o Saara em busca do ouro de Gana; é o inicio do tráfico transaariano de
escravos (39). Era então comum a aquisição de escravos para integrarem
exércitos (42); a captura ocorria durante guerras tribais ou através de
emboscadas a pequenos vilarejos (44). Escravos oriundos da Somália e Moçambique
(zanjes, como eram conhecidos) eram usados em grande quantidade na agricultura
da Mesopotâmia a partir do séc. VII; os zanjes vão realizar grandes rebeliões;
a de 869 dC vai durar 15 anos e se tornar uma guerra civil; seu exército vai
chegar a reunir 50.000 homens (46). Ralph A. Austen calcula em 1,7 milhão os
escravos transportados pelas rotas transaarianas entre 650 e 1100 dC (53).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> É o árabe que vai elaborar toda uma
ideologia sobre a inferioridade da raça negra e sua condição naturalmente
subumana (59); o negro é discriminado inclusive pelos escravos brancos. O lento
processo de assimilação social a partir da alforria também é mais difícil para
o negro. Escravos negros são exibidos como símbolo de status no Cantão (séc.
XI), devido ao seu alto preço (60).
Entre os séculos XI e XV já há um grande comercio de escravos no Mar
Vermelho; Ralph Austen calcula em torno de 3,5 a 4 milhões de escravos
transportados por navios no período (62); as rotas transaarianas, terrestres,
teriam um movimento maior. A introdução de cavalos árabes no Sudão (séc. XIII),
que revolucionou a forma de guerrear na região, foi um importante estímulo para
o tráfico; os preciosos cavalos eram adquiridos com escravos (64); em
contrapartida, as cortes reais do Sudão e Mali, entre os séculos XIII e XV,
exibiam escravos brancos como símbolo de poder e requinte (66). A escravidão
existia entre os africanos, mas com uma grande capacidade de absorcionismo, de
reinserção social e assimilação dos descendentes; por conta disso alguns
autores a consideram mais branda que o tráfico atlântico (82). A África
Ocidental conheceu a escravidão em grande escala praticada em grandes
propriedades agrícolas destinadas à produção para exportação, como arroz e
milhete; a prática era comum nos reinos mais estruturados e centralizados,
fortemente inseridos no comércio internacional (91). A riqueza era normalmente
ditada pela posse de escravos ou de gado, não pela terra, tradicionalmente de
posse coletiva ou real (99). Por conta disso a guerra visa em grande parte a
captura de escravos, não de terras (109); guerras dessa natureza são relatadas
no Chade no século IX. Os seqüestros com propósito de escravização também eram
comuns; havia quadrilhas especializadas no ardil (110). A escravização também
poderia ocorrer como punição penal, por exemplo devido ao não pagamento de
dívidas, ou como resultado de punições em disputas políticas. Comunidades
constituídas por escravos fugidos também existem de longa data na África (118).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Os negros entram na Europa com a
invasão árabe na Península Ibérica; sua presença é maior com os almorávidas,
lutando nos exércitos árabes ao lado dos berberes; são vistos representados em
códices europeus do século XIII (133). A despeito do uso majoritário do
trabalhador livre no sistema feudal, há ainda escravos; os cristãos compram-nos
na Ásia Menor ou dos vikings, e os tomam dos árabes à medida que avançam pela
Espanha. Em regiões como Espanha, Sicília e Rússia o uso majoritário da terra é
o trabalho escravo em grandes propriedades agrícolas (135).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A mão-de-obra escrava aumentaria
consideravelmente com o cultivo de cana de açúcar. Os europeus tomaram contato
com a cana de açúcar durante as cruzadas; cultivada na Palestina, logo foi
levada para Chipre, em seguida para a Sicília e Algarves, entre os séculos XII
e XV. Mais tarde será plantada nas Canárias e Madeira, e então introduzida nas
Américas (136). Há um grande debate sobre o volume do trabalho escravo
utilizado na cultura de cana no Mediterrâneo, mas parece que prevaleceu o
trabalho assalariado. Segundo Gorender, é no Brasil que vai começar um novo
modo de produção, o escravismo colonial (138); o “engenho-com-plantação” é o
prenúncio de um sistema integrado de produção em larga escala. Cerca de 10% da
população de Domesday (Inglaterra) era escrava em 1086; a Genova do séc. XIII,
com 20.000 habitantes, tinha 3.000 escravos. A Peste Negra causou cerca de 25
milhões de mortes e fez escassear a mão-de-obra, o que produziu um aumento da
procura por escravos na Itália e na França; entre 1414 e 14213 mais de 10.000
escravos foram vendidos em Veneza (141); o assunto não incomodava ninguem,
desde que não se escravizassem cristãos. Em 1328, 36% da população de Maiorca é
escrava; já seria, nos dizeres de Charles Verlinden, uma sociedade escravista.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A partir da reconquista do Algarve,
em 1249, os cristãos conseguem estabelecer colônias de mercadores no Norte da
África e passam a negociar diretamente com as caravanas transaarianas (142); a
expansão otomana havia transformado o norte africano no principal mercado de
compra de escravos. Com a conquista de Ceuta (1415) os portugueses fazem as
primeiras expedições próprias para prear escravos. A presença negra na Ibéria é
tão comum que há uma confraria de cristãos negros em Barcelona e Sevilha.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Em 1445 os navios portugueses fazem
capturas de escravos no Senegal (151); isso produz uma violenta reação das
populações costeiras, que passam a atacar as galeras munidos de grandes canoas
armadas com flechas envenenadas; o navegador Nuno Tristão e 19 camaradas foram
mortos num ataque destes. A violenta resistência produz uma mudança de
estratégia: os portugueses passam a comerciar, trocando produtos com os navios
fundeados perto da costa. Desde o inicio há negros compondo as tripulações
portuguesas como marinheiros e como tradutores; o trabalho do tradutor é
essencial, e ele é pago com escravos (157); os escravos são agora adquiridos
das populações costeiras, em troca de produtos diversos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O primeiro estado negro a fazer
contato com os portugueses é o Reino Jalofo, no Senegal (159), governado pelo
“burba” e rodeado de estados vassalos; a elite jalofa é muçulmana, mas a
maioria do povo segue cultos locais; o rei então pratica o islamismo e ao mesmo
tempo participa de cultos animistas. O primeiro entreposto português na costa
atlântica foi estabelecido na ilha de Arguim (169), pouco depois do Cabo
Branco, onde ofereciam tecidos e trigo por ouro, escravos e produtos africanos.
Fontes do período: Cadamosto, Valentim Fernandes e Duarte Pacheco Pereira.
Arqueólogos desenteraram peças européias datadas dos séculos VIII ao XI na
Nigéria, prova do alcance do comércio transaariano (200); no século XV havia
uma intensa industria de tecidos na região. A partir de 1479 portugueses e
outros europeus vão atuar como intermediários no tráfico local de escravos da
chamada Costa do Ouro (Gana), comprando e vendendo escravos para os próprios
africanos (203). E em 1482 os portugueses constroem na costa de Gana sua
primeira feitoria fortificada, o forte de São João da Mina; com isso dão um
passo a mais no sentido de tornarem-se independentes dos reis locais (210). Os
portugueses se beneficiam de um grande conflito que opõe a duas potências
locais, o Império do Mali e o Império Songai (215), o que facilita sua
penetração na região; no período de 1500-1535 os portugueses compram 12.000
escravos e adquirem em torno de 600
kg de ouro ao ano. Braudel considera que os portugueses
são responsáveis pelo desmoronamento do comércio transaariano a partir de
então; o assunto é bastante controverso, e Costa e Silva prefere acreditar numa
diminuição do movimento comercial pelo Saara, mas que ele permanece importante
por um longo período posterior.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Judeus vindos da Espanha, os
cristãos novos, são utilizados na colonização das ilhas de Cabo Verde; eles vão
estabelecer redes comerciais e intermediar o tráfico de escravos na Gâmbia;
muitos deles passarão a viver no continente e, livres do controle português,
vão restabelecer seus cultos e identidade judaica (241-243), fazendo inclusive
concorrência com as redes comerciais portuguesas. Outros ainda vão se integrar
às comunidades africanas e chegarão a ocupar altos postos nos reinos locais.
Esse processo também vai ocorrer entre os próprios portugueses, os chamados
“lançados”; portugueses degredados ou fugidos da Coroa passarão a viver entre
os africanos e atuar no comércio, havendo então uma grande miscigenação. Jorge
Vaz chegou a abjurar o cristianismo e adotou um culto africano (247).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A presença portuguesa altera as
relações de poder na região, em pleno conflito entre o Mali e Songai; os
estados costeiros, até então vassalos do Império Jalofo e pouco importantes,
por estarem afastados das rotas comerciais do Saara, repentinamente enriquecem
e vão se tornar independentes. Songai avança sobre territórios do Mali e do
Grão-Jalofo em fins do século XVI; o mansa do Mali, desesperado, decide
estabelecer uma aliança com os portugueses (286). Enquanto isso os marroquinos
vencem os portugueses em Alcacer-Quibir; seu líder passa a ser conhecido como
Al-Mansur (o vitorioso) e unifica os reinos locais; combateu os otomanos na
Líbia e em 1590 enviou uma expedição contra Songai, que incluía cativos
portugueses convertidos ao islamismo (291); seu exército de 2.000 arcabuzeiros
vence 8.000 cavaleiros e uma gigantesca infantaria em Tondibi; Tombuctu foi
ocupada e os marroquinos chegam até as margens do Niger; Songai e Mali
dividem-se em pequenos reinos vassalos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Os portugueses chegam ao reino do
Benin, e assombram-se com as largas avenidas de sua capital (310).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> São Tomé e Príncipe foram o grande
laboratório do sistema colonial português; em 1493 as ilhas recebem novo
donatário e a colonização é reforçada com 2.000 crianças judias arrancadas aos
pais para que não fossem educadas na fé mosaica (318). O sucesso do plantio de
cana nas ilhas cria uma demanda por escravos (320), o que vai causar um
encarecimento do “produto”; na costa de Benim o preço do escravo salta de 12
manilhas, em 1500, para 57 em 1517 (321). O olu (rei) dos itsequiris (Nigéria),
Atonorongboye, é batizado em 1570; era tão devoto que dirigia pessoalmente as preces
na igreja que mandou construir. Enviou seu filho, Olu Oyenakpagha, para estudar
em Lisboa em 1600; lá ele casou-se com uma dama portuguesa, neta do conde da
Feira; tiveram um filho mulato (326) que reinou na África e chegou a escrever
ao Papa (327). São Tomé foi também palco das maiores rebeliões de escravos do
continente, a partir de 1574. Em 1595, 2.500 negros e mulatos, comandados pelo
escravo Amador, assumiram o controle da maior parte da ilha; Amador
proclamou-se rei (328). As rebeliões e uma praga que grassou nos canaviais
acabaram com a economia açucareira da ilha, que passará a atuar como entreposto
no tráfico de escravos para o Brasil.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-v4PaY9y51I8/TwcNzyDMbAI/AAAAAAAAAKQ/5-gsMuNxFYU/s1600/congo.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="306" src="http://3.bp.blogspot.com/-v4PaY9y51I8/TwcNzyDMbAI/AAAAAAAAAKQ/5-gsMuNxFYU/s400/congo.JPG" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">O reino do Congo abraçou com
entusiasmo o cristianismo; o rei local, interessado em modernizar seu reino, estimulou
a adoção de hábitos europeus, o que vai produzir uma enorme demanda por
produtos do velho continente; pagos inicialmente com peças de cobre, os
produtos logo passam a ser comprados com escravos. O rei português também
estava interessado no progresso do Congo, pois sonhava em ter um poderoso rei
católico africano como aliado e base de apoio; mas os habitante de são Tomé
sabotaram seus esforços; para eles o Congo só tinha interesse como fornecedor
de escravos baratos (372). Para evitar que os próprios congolenses fossem
vendidos, o rei do Congo instituiu um monopólio real sobre o tráfico em 1526
(375). A morte do rei, em 1543, e a interferência lusitana na sucessão real
desatou a guerra civil; a situação vai se complicar com a invasão da região de
povos vindos do interior em 1568, os jagas (390); a partir daí o tráfico se
intensifica e vai destruir as estruturas tradicionais da sociedade local. As
guerras freqüentes contra os jagas criam uma enorme disponibilidade de escravos
que fazem o porto de Luanda prosperar (395); culturas trazidas do Brasil, como
o milho e a mandioca, passaram a ser cultivadas por escravos em grandes
propriedades; toda a economia do congo agora gira em torno do comércio de
escravos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Em Angola, a partir de 1571, os
portugueses fazem uma nova experiência: ao invés de estabelecer feitorias,
decidem conquistar militarmente o território; o plano é ambicioso, de
estabelecer uma ligação terrestre com Moçambique. Um rei local, Cassanze, opõe
firme resistência e até logra vence-los em combate em 1575. A partir de 1579 a guerra de conquista
torna-se espantosamente cruel, com grande morticínio de populações nativas
(410); os portugueses recebem o apoio de 60.000 soldados do Congo; malária e
febres causam grande mortandade entre os europeus; 1.700 deles morrem em Angola
entre 1575 e 1591 (413). Em 1590 uma força de portugueses e espanhóis sofre uma
tremenda derrota no rio Lucala. Movido pelas guerras constantes, o tráfico em
Angola movimenta cerca de 100.000 escravos no período 1575-1600; cerca de 500
mulatos vindos do Brasil atuam como intermediários no mercado de escravos
angolano (417). A partir de 1624 há a longa guerra contra a rainha Jinga (439);
ela possuía armas de fogo fornecidas pelos holandeses e controlava o interior
do país. Os batavos, em guerra contra a Espanha, atacam a África lusitana:
capturam São Jorge em 1637, Arguim em 1638, Luanda em 1641 e Axim em 1642; o
objetivo deles era substituir os portugueses no controle do tráfico de
escravos. Forças holandesas vindas de Pernambuco participaram das operações em
Angola usando 200 índios brasileiros (466).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A invasão holandesa em Angola deixou
os lusitanos em dificil situação: expulsos do litoral, eram atacados no
interior pela rainha Jinga, que esteve muito perto de destruí-los completamente;
estes foram salvos com a chegada da frota brasileira de Salvador Correia de Sá,
em 1648, que expulsou os holandeses. Jinga terminou por assinar um vantajoso
acordo de paz com os lusitanos em 1656; faleceu em 1663 com 81 anos de idade
(481). Data desse período o controle dos luso-brasileiros sobre Angola e a
expressiva presença deles na Costa dos Escravos, em especial no forte da Mina;
vinha da Bahia um dos produrtos mais apreciados pelos reis africanos, o tabaco
(542); os baianos vão se estabelecer no porto de Ajuda a partir de 1681 (543).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Nesse meio tempo o império
marroquino se expande pelo oeste africano, e grandes nações muçulmanas
formam-se entre o Sudão e o Chade, conectadas ao comércio do Saara. Os otomanos
estão firmemente estabelecidos no Egito, e os árabes na Somália e Eritréia; os
cristãos etíopes, sentindo-se cercados, receberam com agrado um enviado do rei
português, em 1503 (573) e as notícias da presença lusitana nas costas da
Somália. Um representante do Negus esteve em Lisboa em 1509, para negociar uma
aliança. A Etiópia venceu uma invasão muçulmana a partir da Somália, em 1516;
mas em 1528 os muçulmanos retornaram com um exército maior e canhões; a quase
totalidade do país foi ocupada; monges foram mortos e importantes monumentos culturais
e livros destruídos (578). Os portugueses atenderam os pedidos de ajuda e
enviaram uma expedição em 1541 comandada por Cristóvão da Gama (583). Os
otomanos também enviaram reforços e o exército lusitano foi derrotado (1542).
Mas no ano seguinte um levante etíope expulsou os árabes; os otomanos se
estabeleceram na Eritréia. Há ainda um detalhe curioso: a luta dos etíopes
contra os falachas (judeus negros), organizados em pequenos reinos autônomos no
Tigre; derrotados numa longa campanha, entre 1577 e 1594, seriam
progressivamente conquistados (589), e alvo de discriminação por parte dos
cristãos etíopes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A conversão do Negus, Suzênios, ao
catolicismo romano, em 1609, devido à pressão portuguesa, desencadeou
progressivamente uma guerra civil; o abuná, representante da Igreja copta
monofista de Alexandria, insuflou o povo contra o imperador (594); Suzênios,
após tentar uma conversão forçada do clero copta, renunciou ao trono em 1632. A situação havia
mudado a ponto de os abissínios se aliarem aos árabes para expulsar os
portugueses do país (596).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A Etiópia experimentou uma fase de
grande progresso econômico no século XVII por conta da exportação do café para
a Europa (598). Os árabes então controlavam toda a costa índica africana, a
partir de Moçambique até a Somália e Madagascar; o comércio é feito com
Etiópia, Egito, Arábia, Pérsia, Índia e Indonésia (616). Os portugueses apelam
às armas para tentar controlar os portos da região (621); os turcos reagem com
navios vindos do Egito, atacando portos e navios lusitanos e enviando tropas
para Mombasa em 1588; depois disso, inexplicavelmente, se desinteressaram pela
região. Foi o rei de Omã que passou a liderar a resistência; o sultão Ibne Saif
expulsou os portugueses de Mascate em 1650 e passou a fabricar galeras copiando
o modelo lusitano; em 1669 os omanianos atacaram a costa de Moçambique, e em
1698 expulsaram os portugueses da maioria de suas posições (645); apenas em
1727 os portugueses voltaram a ocupar portos importantes em Moçambique.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> No século XVII houve um importante
esforço lusitano para colonizar o Zambeze; isso produziu conflitos com o
Império Monomotapa (670); as guerras constantes permitiram a formação de outro
importante centro de tráfico escravagista (684).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Quando os portugueses chegaram a Madagascar,
em 1500, já havia na ilha quilombos formados por ex-escravos fugidos do
continente (718), prova do volume do tráfico muçulmano praticado na região.
Portugueses, holandeses e franceses tentaram fincar raízes na ilha sem sucesso,
tendo sido expulsos pelos reis locais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O Marrocos, em plena expansão,
durante o governo do sultão Mulai Ismael (1672-1727) importou da Senegâmbia um
total de 200.000 escravos para trabalhos agrícolas e a formação de um exército
(787).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Segundo Lovejoy, o tráfico escravista
durante o século XVI movimentou 1.900.000 de escravos pelo Atlântico e
1.000.000 pelo Saara/Mar Vermelho/Indico; no século XVII foram respectivamente
6.100.000 e 1.300.000 de escravos, indicando a estabilização das rotas árabes e
a explosão do tráfico liderado pelos europeus com destino às américas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-50648373391384054502011-12-22T12:33:00.000-08:002011-12-22T12:42:11.163-08:00Análise da representação da mulher no mundo romano a partir de Petrônio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-kaijI-kceCs/TvOV1YE8qAI/AAAAAAAAAJ0/cNyGNp_f92c/s1600/petronio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-kaijI-kceCs/TvOV1YE8qAI/AAAAAAAAAJ0/cNyGNp_f92c/s1600/petronio.jpg" /></a></div>
<br />
<span style="color: #231f20;"> O propósito deste trabalho é
analisar a questão da representação do gênero feminino na antiguidade romana a
partir de um trecho do Satyricon de Petrônio, a anedota sobre “a dama de
Éfeso”. Subsidiariamente é possível também tecer considerações sobre relações
de poder e extratificação social no mesmo período.</span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #231f20;">1- Abordagem
Teórica</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> O estudo de uma obra literária como
fonte de informação sobre o imaginário e a realidade social de um determinado
momento histórico partiu das considerações feitas nos trabalhos de Glaydson e
Garraffoni:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="color: #231f20;">“O texto literário constitui, portanto, uma forma de
registro histórico, diferindo deste propriamente dito pela sua não intenção de
assim se constituir.(...) Pensar a Arte de Amar e o Satyricon como veículos de
informações históricas de seus contextos implica, necessariamente, em uma
concepção destas obras como produtos de um imaginário social a ser
decodificado, interpretado, uma vez que lida, simultaneamente, com questões
como liberdade e poder (...); nesse sentido o implícito do discurso está
carregado de múltiplos pensamentos encobertos”</span></i><span style="color: #231f20;">. (SILVA, Glaydson, p. 25)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> É necessário recorrer à
interdisciplinaridade para uma correta análise do material; em Garrafoni/Furnari
vemos uma descrição do esforço para reconstituir a estrutura lingüística do
Satyricon a partir de uma análise filológica, onde concluem:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="color: #231f20;">“Ao estudar o episódio da Dama de Éfeso, tomaremos como
pressuposto, portanto, que a literatura é uma linguagem e que, para
compreendê-la, torna-se necessário que recorramos às alegorias, seus
significantes e significados. Por meio do questionamento do texto e da análise
das estruturas e vocabulário, pretendemos estabelecer um diálogo com os
personagens para explicitar os sentidos que produzem.” </span></i><span style="color: #231f20;">( GARRAFONI/FURNARI, 94)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> O
ferramental da história a partir da interdisciplinaridade permite ao
historiador entender que um texto literário, como a sátira, possui
características discursivas específicas, permeadas pelos interesses e visões de
mundo daqueles que a criaram (GARRAFONI 2009, p. 94). Foi exatamente a falta de
leitura crítica dos textos clássicos (como Petrônio, Apuleio e Juvenal) que
produziu a interpretação vigente no final do século XIX, da população romana
como uma massa amorfa, sem vontade própria, fútil, que não gosta de trabalhar e
gasta todas suas energias na busca desenfreada do prazer. Ao passo que uma
leitura crítica permite o acesso às camadas sociais e/ou identitárias menos
favorecidas do mundo romano e sua ação como sujeitos de sua história em
dinâmicas de resistência, acomodação e negociação. O estudo filológico a partir
dos textos em latim revelou, ainda, que no Satyricon Petrônio dá voz aos
diferentes segmentos sociais retratados em sua obra, reproduzindo sua linguagem
social com todos valores orais e populares, com toda vivacidade e crueza que
lhe são peculiares, permitindo o contato com todo o universo simbólico presente
nas expressões cotidianas; como ressalta Paulo Leminski, “<i>essa crueza da
linguagem de Petrônio sempre foi maquilada nas traduções para as línguas
modernas, onde giros eufemísticos, ditados pelo moralismo, substituem o
verdadeiro nome das coisas</i>”. (SILVA, Glaydson, p. 106-107)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #231f20;">2- A Dama de
Éfeso </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> A anedota surge durante uma viagem
de navio empreendida pelos personagens principais do livro. Encólpio, o
narrador das aventuras, descreve a anedota como um esforço de Eumolpo em
destacar-se na conversação através de ditos espirituais, durante as quais “<i>(...)
começou a dizer mil bobagens sobre a leviandade das mulheres, sua facilidade em
apaixonar-se, sua presteza em esquecer amantes.”</i>(PETRONIO, CX, p. 150). Eumolpo,
por sua vez, enuncia sua tese e a atualidade do assunto, declarando:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.7pt;">
<i><span style="color: #231f20;">“Não há uma única mulher, por mais fiel que seja, que uma
nova paixão não possa levar aos maiores excessos. Não é preciso, para provar o
que eu digo, recorrer às antigas tragédias, citar nomes famosos nos séculos
passados. Para isso, contar-vos-ei um episódio ocorrido em nossos dias.”</span></i><span style="color: #231f20;"> (idem)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Fazendo menção a um episódio atual,
o autor dota a narrativa de maior capacidade persuasiva (LEÃO, p. 80).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Garrafoni e Funari chamam a atenção
para a construção discursiva do autor; eles chamam a atenção inicialmente para
as expressões que ele emprega ao referir-se à dama: no início da narrativa ela
é descrita como <i>matrona</i> (senhora) com <i>pudicitia</i> (grande reputação
de castidade) a ponto de ser modelo para outras <i>feminae</i> (mulheres); ao
expressar enorme dor pela morte do marido é definida como <i>singularis exempli
femina</i> (mulher de exemplo singular). Ela está, nesse primeiro momento,
encarnando o imaginário da virtude feminina herdado do pensamento tradicional
romano, e enquanto isso o autor se refere a ela como matrona; o termo deriva de
<i>mater</i> (mãe), indicativo do principal papel que lhe cabe na sociedade romana
(SILVA, p. 896). No momento seguinte, em que chama a atenção do soldado romano,
ela é agora a <i>pulcherrima mulier</i> (bela mulher); a expressão <i>mulier</i>
era utIlizada para descrever a mulher de baixa extração, o extremo oposto da
elevada matrona (FURNARI, GARRAFONI, p. 113). Nessa primeira visão a imagem da
mulher age intensamente sobre a imaginação do soldado, numa interessante
associação da imagem feminina aos mistérios do mundo subterrâneo (<i>monstro
infernisque imaginibus</i>). Na percepção seguinte o soldado entende a cena a
partir do imaginário da época: trata-se de uma mulher consumida de desejo pelo
marido falecido. Ela está agora sendo descrita com um termo médio e de amplo
alcance (mulher, <i>feminam</i>), nem tão alto como matrona ou tão baixo como <i>mulier</i>.
Descrita como <i>feminam</i> ela é imediatamente associada à sua característica
central, o desejo (<i>desiderium</i>). Glaydson também apóia essa leitura: a
despeito das especificidades de sua posição social, todas mulheres possuem uma
natureza comum, centrada no desejo (SILVA, Glaydson, p. 108).</span><br />
<a name='more'></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Quando o soldado lhe oferece comida,
ela é agora uma <i>muliercula</i> (uma mera mulher); assediada, ela é descrita
como <i>abstinentia sicca</i> (seca pela abstinência); a idéia implícita é de
que a nobre mulher vai se deixando cegar pelo desejo até chegar à suprema
desonra e degradação de copular com um homem desconhecido encima do túmulo do
marido recém falecido. Ao mesmo tempo que isso ocorre a nobre família da
matrona e toda sociedade crêem que ela permanece velando o falecido e sofrendo
as agruras do luto, numa ácida referência à fachada de moralidade atribuída às
matronas da alta sociedade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Nesse momento da narrativa a Dama de
Éfeso cedeu desonrosamente à investida galante do soldado romano, até aqui o
herói da anedota, cheio de iniciativa e no controle da situação. Mas
subitamente os papéis se invertem: ocupado com sua aventura amorosa, o soldado
descuida suas obrigações, e o corpo de um dos sentenciados é recuperado por sua
família. Antevendo um castigo mortal, ele submete sua situação à dama de forma
servil e subalterna. Toda iniciativa agora se transfere à dama (descrita no
episódio ainda como <i>mulier</i>), que é agora misericordiosa e pudica (<i>non
minus misericors quam pudica</i>) e ao mesmo tempo uma inteligente planejadora
(<i>prudentíssima femina</i>) ao conceber um artifício para salvar a vida do
soldado: ela manda (<i>iubet</i>) que o corpo do marido fosse colocado na cruz.
Ao mesmo tempo em que salva a vida do soldado, a ação da dama reduz a condição
do falecido, de um homem de importante posição social a de substituto de um
condenado à cruz (punição enormemente degradante).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Em suas conclusões, os autores
ressaltam diversos elementos extraídos a partir da anedota: as regras do
domínio patricarcal são burladas pelas artimanhas da mulher; ela logra sair do
papel social que lhe é reservado, como figura submissa e casta, e revela-se
dominadora e senhora da situação (FUNARI, GARRAFONI, p. 116).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Delfim Leão chama a atenção para dois
detalhes: primeiro, ao situar o episódio em Éfeso, o autor está nos dando
informações importantes: trata-se de um importante porto marítimo, um grande
entreposto comercial por onde circulam comerciantes e navegantes vindos de
diferentes regiões do Império; a contestação dos valores de uma sociedade
patriarcal tradicional aparece no contexto dos intensos contatos culturais entre
Ásia e Europa propiciados pela universalização do controle romano no século I d.C.,
período onde normalmente se situa a produção da obra. Segundo, ao analisar como
reagem os ouvintes à narrativa, ele compõe uma amostragem de valores: os
marinheiros do navio riem a valer, claramente identificados com o soldado e
atraídos pela fantasia de corromper uma matrona; Trifena, a única mulher
presente, fica profundamente ruborizada (sugerindo, entre outras
possibilidades, uma consciência pouco tranqüila com o relato); Licas,
proprietário do barco e homem de posses, por sua vez identifica-se com o marido
morto e com os valores patriarcais desonrados pela dama (LEÃO, p. 80).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> A mulher vista no Satyricon é dotada
das contradições inerentes à sociedade romana nesse período: é uma sociedade
que valoriza o ideário moral de uma sociedade patriarcal, que reserva à mulher
o papel secundário e passivo, e suas obrigações com relação à fidelidade e
castidade; como Glaydson lembra muito bem, outro trecho do mesmo Satyricon
atribui catástrofes naturais e a ira dos deuses à inobservância por parte das
mulheres das regras da velha moral romana (SILVA, Glaydson , p. 109). Ainda
seguindo o ideário patriarcal, o monopólio da responsabilidade é masculino; os
juízos de valor sobre a mulher via de regra são todos negativos: ela não é
digna de confiança, não é sincera; não tendo controle sobre seu desejo, não
pode ser fiel, e apenas um tolo pode esperar isso dela (idem, p. 111); e a
lista prossegue: falsas, interesseiras, não confiáveis.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Ao mesmo tempo, curiosamente, as
mulheres do Satyricon são em sua maioria representadas como pessoas livres,
independentes, cheias de iniciativa e profundamente dominadoras, controlando
inclusive a vida dos homens (idem, p. 109). A mulher tem autonomia para se
deslocar livremente pela cidade e algumas delas, como a sacerdotisa Quartila,
tem enorme poder e status social. Outro elemento destacado pelo estudioso é a
capacidade de mobilidade social demonstrada por algumas delas: Fortunata, por
exemplo, a esposa de Trimalchio, o homem mais rico de toda narrativa, é
definida como “pobre de origem” e em seguida como “a sagaz administradora que
cuida detalhadamente de sua fortuna” (idem, p. 115).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="color: #231f20;">“Ainda que dadas a ler pelo “olhar do inimigo”, dos
homens, as mulheres descritas por Ovídio e Petrônio são representativas das
mudanças nas condições femininas neste período. Ovídio e Petrônio, juntamente
com outros autores da época, contribuem para a leitura de uma certa libertação das
mulheres dos antigos costumes romanos, na medida em que dão a conhecer mulheres
que querem ter o direito ao desejo, ao prazer, rompendo com toda aura de
valores castos que a tradição romana lhes tinha legado”</span></i><span style="color: #231f20;"> (idem, p. 140).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #231f20;">3- A serva</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Há uma segunda personagem feminina
na anedota, a serva da viúva (ancilla); definida como “criada fiel”, acompanha
sua ama em seu retiro de luto e a serve; o ato de chorar junto com ela indica
uma familiaridade que vai além da mera relação servo-senhor. Sua passividade inicial
modifica-se completamente quando o soldado entra em cena; ela é a primeira a
aceitar seus oferecimentos de comida e vinho, e ao dar-se conta do fracasso do
soldado em convencer sua ama a comer, toma a iniciativa e vence sua resistência
com um discurso bastante articulado e persuasivo. Mais tarde, diante agora do
flerte do soldado, é a serva que a incentiva a ceder: “<i>Podereis resistir a
tão doces inclinações e neste triste lugar consumir vossos belos anos</i> ?”
(PETRONIO, CXII, p. 153).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Nas atitudes da serva vemos
novamente as características clássicas da mulher petroniana, de independência e
controle; o que chama a atenção é que estas características estão presentes a
despeito de sua condição de serva (escrava). Isso nos remete a um estudo de
Fabio Faversani sobre a compreensão da dinâmica social a partir de relações
diretas de poder; ele lembra a crítica de Finley à divisão tradicionalmente
aceita da sociedade romana, associando extratos jurídicos às camadas sociais.
Para o estudioso há tamanha inter-relação entre pobres e ricos (e grande
possibilidade de mobilidade social) que ele considera mais válido o sistema de
Alfody, que propõe uma divisão verticalizada opondo setores rurais e urbanos.
No espaço urbano estariam lado a lado escravos, libertos, pobres livres e (a
partir das relações de patronagem) os ricos (FAVERSANI, p. 44). Para ele a
patronagem é a chave para compreender as dinâmicas sociais da sociedade romana,
sobretudo quanto à mobilidade: o escravo, ao ser libertado, torna-se cliente de
seu antigo patrão; a partir dessa relação pessoal de fidelidade e reciprocidade
de favores, o antigo escravo constrói uma rede de relações sociais que lhe
permite ascender socialmente (idem, p. 58). Os diálogos da serva com sua ama
seriam ainda um exemplo das relações diretas de poder estabelecidas entre
senhor e escravo; longe de serem uma “massa livremente manipulada, sem volição
ou alternativas de afirmação, eles estabelecem uma dinâmica ativa que concilia
resistência, cooperação e negociação como estratégias (de sobrevivência e
afirmação) para atingir seus objetivos (idem, p. 51-56). As relações sociais
são menos estanques do que se pensava, e dotadas de grande fluidez de idéias e
percepções (GARRAFFONI, 2009, p.102).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">4-
Conclusão</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Lourdes Conde Feitosa define de
maneira muito abrangente a origem e o alcance dos estudos sobre gênero na
antiguidade: as escolhas do historiador e as idéias apresentadas nunca são
aleatórias, são políticas; o debruçar-se sobre o passado é uma forma de buscar
perspectivas para pensar a própria sociedade contemporânea. As enormes mudanças
que ocorrem nas relações entre os universos feminino e masculino, e nas relações
entre gênero e poder, a partir de 1960, criam um interesse sobre as
experiências e o olhar feminino sobre a História; as pesquisas revelam o que
foi ignorado pelo discurso patriarcal de supremacia do homem sobre a mulher, ao
mesmo tempo em que servem de justificativa para os paradigmas do novo discurso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> A sociedade romana tem um caráter
claramente patriarcal e as relações públicas e cargos políticos são monopólio
dos homens; mas a complexidade social e jurídica vai muito alem disso; uma
expressão como “povo romano” esconde uma série de diversidades jurídicas,
econômicas, étnicas e lingüísticas; as relações entre feminino e masculino,
sobretudo, são regidas pelos costumes próprios e pela legislação local. A
ampliação do universo documental (moedas, inscrições, estátuas, tumbas, etc.)
revela, por um lado, a presença de uma classe de mulheres abastadas que pratica
uma intensa política de concessão de benefícios (como distribuição de
alimentos) e patrocínio de obras públicas, desenvolvendo um complexo sistema de
relações pessoais de clientela que envolve patrocínio de corporações de ofício
e gerenciamento de propriedades particulares ou de negócios familiares.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="color: #231f20;">“Também encontram-se referências da participação feminina
em discussões políticas em escrutínios locais. Na Pompéia romana, foram
encontrados cartazes de propagandas eleitorais (programmata) e inscrições em
paredes (grafites), por meio dos quais indicavam os seus candidatos,
manifestavam o seu apoio, discutiam e opinavam sobre a política local, mesmo
sem poderem, legalmente, participar das eleições”</span></i><span style="color: #231f20;"> (FEITOSA, p. 127).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> Toda a questão do confinamento
feminino no lar é repensada; a visão da casa romana como espaço privado,
exclusivo para descanso e convívio familiar, cede espaço para uma nova visão
baseada em pesquisa arqueológica: as casas aristocráticas surgem agora como
espaços onde se desenvolviam articulações políticas e relações de clientelismo,
supondo uma participação feminina nas discussões políticas muito mais intensa
do que imaginado. O mesmo ocorre em relação às classes baixas (mulheres livres
pobres, libertas e escravas), onde elas agora são vistas participando ativamente
nas dinâmicas econômicas (atuando como taberneiras, tecelãs, vendedoras,
cozinheiras, açougueiras, perfumistas, enfermeiras, entre outros) e no espaço
social (idem, p. 124-128).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;"> A autora chama ainda a atenção para
outra importante dimensão do debate sobre gênero na antiguidade romana:
trata-se de uma sociedade anterior à imposição dos valores do pensamento
judaico-cristãos, com juízo de valor muito negativo em relação à sexualidade, e
estão sendo na atualidade profundamente contestados; isso provoca evidentemente
um novo olhar sobre o mito da devassidão moral dos antigos, destacando-se a
percepção do sexo como componente agradável e natural da vida, ou a necessidade
aparentemente tão moderna de querer compartilhar com outros o prazer sentido
numa relação. A autora menciona grafites de Pompéia em que tanto o homem como a
mulher aparecem como dominadores do ato sexual; é comum ver inscrições onde a
mulher gosta de se definir como “possuidora”. Outro detalhe interessante é a
referência comum à prática de cunilíngua, demonstrando uma busca comum de
satisfação do desejo feminino e uma conexão sexo-afetiva entre homem e mulher
baseada em outros parâmetros que não aqueles de dominação e controle (idem, p. 128-135).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #231f20;">5- Bibliografia</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;">LEÃO,
Delfim F. <i>Amor e amizade no Satyricon de Petrônio</i>. Universidade de
Coimbra. Disponível em: <a href="http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/8338.pdf">http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/8338.pdf</a>.
Consultado em 19/11/2011.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;">SILVA,
Amós Coelho da. <i>De Dido à Matrona de Éfeso. </i></span>Cadernos do CNLF, Vol. XIV, Nº 2, t. 1. Disponível em: <a href="http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_1/892-898.pdf">http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_1/892-898.pdf</a>
. Consultado em 19/11/2011.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;">SILVA,
Glaydson José da. <i>Aspectos de cultura e gênero na Arte de Amar, de Ovídio, e
no Satyricon, de Petrônio: representações e relações</i>. UNICAMP, Campinas.
Julho, 2001.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;">FAVERSANI,
Fábio. <i>As relações diretas de poder enquanto instrumento analítico para a
compreensão da pobreza no Satyricon de Petrônio</i>. Revista de História, 1(I):
43-70, jan/jun 1996.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;">FUNARI,
Pedro Paulo A. GARRAFFONI, Renata Senna. <i>Gênero e conflito no Satyricon:
ocaso da dama de Éfeso</i>. História; Questões & Debates. Curitiba, no.
48/49, p. 101-117, 2008. Editora UFPR.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: #231f20; font-size: small;">GARRAFFONI,
Renata Senna. <i>Marginalidade e exclusão: o caso do Satyricon de Petrônio</i>.
Dimensões, vol. 23. 2009. Disponivel em: <a href="http://www.ufes.br/ppghis/dimensoes/artigos/Dimensoes22_RenataSennaGarraffoni.pdf">http://www.ufes.br/ppghis/dimensoes/artigos/Dimensoes22_RenataSennaGarraffoni.pdf</a>.
Consultado em 19/11/2011.</span></div>
<h1 style="line-height: 150%;">
<span style="color: #231f20; font-size: small; font-weight: normal; line-height: 150%;">GARRAFFONI, Renata Senna. </span><span style="font-size: small;"><i><span style="font-weight: normal; line-height: 150%;">Bandidos e salteadores na Roma antiga</span></i></span><span style="font-size: small; font-weight: normal; line-height: 150%;">. São
Paulo: Editora Annablume. 2002. Disponível em: </span><span style="font-size: small; line-height: 150%;"><a href="http://books.google.com.br/books?id=drGk9Rz2SksC&pg=PA3&lpg=PA3&dq=garraffoni+bandidos+salteadores&source=bl&ots=N4srZu0rzR&sig=mgtWPd4LFGD1VudYWWzODDzUYxg&hl=pt-BR&ei=hRXITqroNYaCgAfU0_hs&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CB4Q6AEwAA#v=onepage&q=garraffoni%20bandidos%20salteadores&f=false">http://books.google.com.br/books</a>
. </span><span style="font-size: small; font-weight: normal; line-height: 150%;">Consultado em 19/11/2011.</span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">FEITOSA, Lourdes Conde. <i>Gênero e Sexualidade no mundo romano: a antiguidade em nossos dias</i>.
</span><span style="color: #231f20; font-size: small;">História; Questões &
Debates. Curitiba, no. 48/49, p. 119-135, 2008. Editora UFPR.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: #231f20; font-size: small;">PETRONIO.
<i>Satiricon</i>. Tradução de Marcos Santarrita. São Paulo: Editora Abril,
1981. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #231f20;">ANEXOS</span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: center; text-autospace: none;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #231f20;">Matrona quaedam
Ephesi</span></b></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
[CXI] "Matrona quaedam
Ephesi tam notae erat pudicitiae, ut vicinarum quoque gentium feminas ad
spectaculum sui evocaret. Haec ergo cum virum extulisset, non contenta vulgari
more funus passis prosequi crinibus aut nudatum pectus in conspectu frequentiae
plangere, in conditorium etiam prosecuta est defunctum, positumque in hypogaeo
Graeco more corpus custodire ac flere totis noctibus diebusque coepit. Sic
adflictantem se ac mortem inedia persequentem non parentes potuerunt abducere,
non propinqui; magistratus ultimo repulsi abierunt, complorataque singularis
exempli femina ab omnibus quintum iam diem sine alimento trahebat. Adsidebat
aegrae fidissima ancilla, simulque et lacrimas commodabat lugenti, et
quotienscumque defecerat positum in monumento lumen renovabat. "Una igitur
in tota civitate fabula erat: solum illud adfulsisse verum pudicitiae amorisque
exemplum omnis ordinis homines confitebantur, cum interim imperator provinciae
latrones iussit crucibus affigi secundum illam casulam, in qua recens cadaver
matrona deflebat. </div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
"Proxima ergo nocte, cum
miles, qui cruces asservabat, ne quis ad sepulturam corpus detraheret, notasset
sibi lumen inter monumenta clarius fulgens et gemitum lugentis audisset, vitio
gentis humanae concupiit scire quis aut quid faceret. Descendit igitur in
conditorium, visaque pulcherrima muliere, primo quasi quodam monstro
infernisque imaginibus turbatus substitit; deinde ut et corpus iacentis conspexit
et lacrimas consideravit faciemque unguibus sectam, ratus (scilicet id quod
erat) desiderium extincti non posse feminam pati, attulit in monumentum cenulam
suam, coepitque hortari lugentem ne perseveraret in dolore supervacuo, ac nihil
profuturo gemitu pectus diduceret: 'omnium eumdem esse exitum et idem
domicilium' et cetera quibus exulceratae mentes ad sanitatem revocantur. </div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
"At illa ignota
consolatione percussa laceravit vehementius pectus, ruptosque crines super
corpus iacentis imposuit. Non recessit tamen miles, sed eadem exhortatione
temptavit dare mulierculae cibum, donec ancilla, vini odore corrupta, primum
ipsa porrexit ad humanitatem invitantis victam manum, deinde retecta potione et
cibo expugnare dominae pertinaciam coepit et: 'Quid proderit, inquit, hoc tibi,
si soluta inedia fueris, si te vivam sepelieris, si antequam fata poscant
indemnatum spiritum effuderis? Id cinerem aut manes credis sentire sepultos?
Vis tu reviviscere! Vis discusso muliebri errore! Quam diu licuerit, lucis
commodis frui! Ipsum te iacentis corpus admonere debet ut vivas.' "Nemo
invitus audit, cum cogitur aut cibum sumere aut vivere. Itaque mulier aliquot
dierum abstinentia sicca passa est frangi pertinaciam suam, nec minus avide
replevit se cibo quam ancilla, quae prior victa est. </div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
[CXII] "Ceterum, scitis
quid plerumque soleat temptare humanam satietatem. Quibus blanditiis
impetraverat miles ut matrona vellet vivere, iisdem etiam pudicitiam eius
aggressus est. Nec deformis aut infacundus iuvenis castae videbatur, conciliante
gratiam ancilla ac subinde dicente: </div>
<div class="poetry" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
'Placitone etiam
pugnabis amori? Nec venit in mentem, quorum consederis arvis?'<br />
"Quid diutius moror? Jacuerunt ergo una non tantum illa nocte, qua nuptias
fecerunt, sed postero etiam ac tertio die, praeclusis videlicet conditorii
foribus, ut quisquis ex notis ignotisque ad monumentum venisset, putasset
expirasse super corpus viri pudicissimam uxorem. </div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
"Ceterum, delectatus miles
et forma mulieris et secreto, quicquid boni per facultates poterat coemebat et,
prima statim nocte, in monumentum ferebat. Itaque unius cruciarii parentes ut
viderunt laxatam custodiam, detraxere nocte pendentem supremoque mandaverunt
officio. At miles circumscriptus dum desidet, ut postero die vidit unam sine
cadavere crucem, veritus supplicium, mulieri quid accidisset exponit: 'nec se
expectaturum iudicis sententiam, sed gladio ius dicturum ignaviae suae.
Commodaret ergo illa perituro locum, et fatale conditorium familiari ac viro
faceret.' Mulier non minus misericors quam pudica: 'Ne istud, inquit, dii
sinant, ut eodem tempore duorum mihi carissimorum hominum duo funera spectem.
Malo mortuum impendere quam vivum occidere.' Secundum hanc orationem iubet ex
arca corpus mariti sui tolli atque illi, quae vacabat, cruci affigi. </div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
"Usus est miles ingenio
prudentissimae feminae, posteroque die populus miratus est qua ratione mortuus
isset in crucem." </div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: center; text-autospace: none;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #231f20;">A Matrona de
Éfeso</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b><span style="color: #231f20;">CXI – </span></b><span style="color: #231f20;">“Havia uma mulher casada em Éfeso que era de uma
castidade tão notável que levava as mulheres até mesmo dos povos vizinhos a visitá-la.
Então, quando ela perdeu o marido, não se limitando a seguir o enterro com os
cabelos soltos, segundo o costume geral, ou a bater no peito nu na presença da
multidão, ela também acompanhou o defunto no túmulo e resolveu chorar e velar o
corpo colocado na cripta, de acordo com o costume grego, por duas noites
inteiras. Nem os pais, nem os parentes puderam afastá-la daquele local, pois
ela se atormentava assim e buscava a morte através da abstinência de alimentos;
os magistrados, repelidos por último, foram-se embora, aquela mulher de exemplo
singular, por quem todos lastimavam, já passava o quinto dia sem alimento. A
mais fiel escrava daquela mulher atormentada não se afastava dela e, ao mesmo
tempo, não só compartilhava suas lágrimas com as de sua senhora, mas também
reacendia a lâmpada colocada no monumento toda as vezes em que ela se apagava. Assim,
pois, na cidade inteira era esse o único assunto, os homens de todas as classes
sociais reconheciam que tal atitude se destacava como exemplo verdadeiro de
castidade e de amor, quando, nesse meio tempo, o imperador daquela província
ordenou que ladrões fossem pregados em cruzes ao lado daquele túmulo, no qual a
mulher velava o cadáver fresco. Então, na noite seguinte, quando o soldado que
vigiava as cruzes, para que ninguém levasse corpo para a sepultura, notou uma
luz brilhando mais forte entre os túmulos e ouviu o soluço de alguém chorando,
por um vício da raça humana ele desejou saber quem era, ou o que estava
fazendo. Então, ele desceu para o interior do túmulo e, quando viu aquela
mulher belíssima, primeiro ficou parado, como que perturbado por algum monstro ou
por fantasmas infernais. Em seguida, quando viu um corpo de homem estendido e
ainda observou as lágrimas e as faces golpeadas pelas unhas, evidentemente
percebendo o que era – uma mulher que não conseguiu suportar a saudade do
extinto marido – levou para aquele túmulo seu pequeno jantar e aconselhou
aquela mulher chorosa a não persistir numa dor inútil e não dilacerar seu peito
com um gemido que não lhe serviria em nada. Ele argumentou que todos teriam aquele
mesmo fim e aquela mesma morada e ainda disse outras coisas com as quais as
mentes atormentadas são reconduzidas à razão. Mas ela, chateada com aquela
tentativa de consolo, castigou mais violentamente seu peito e depositou cabelos
arrancados sobre o corpo do defunto. O soldado, contudo, não recuou, mas, com
aquele mesmo estímulo, tentou dar alimento à pobre mulher, até que sua escrava [certamente
corrompida] pelo bom cheiro do vinho, primeiro ela estendeu sua própria mão
vencida até o espírito de humanidade daquele sedutor, depois, repetida a dose
da comida e bebida, derrotou a obstinação de sua dona e disse: O que você
poderá lucrar sendo aniquilada pela falta de alimento, sendo enterrada viva,
entregando sua alma que ainda não foi condenada, antes que os destinos exijam? Acreditas
que os restos mortais, ou os manes sepultados percebem teu sacrifício? Você não
quer voltar a viver? Não quer usufruir das coisas boas da vida, enquanto ainda
pode, dissipando esse erro próprio das mulheres? O próprio corpo do defunto
deveria encorajá-la a viver? Ninguém deixa de ouvir, quando está sendo coagido
a se alimentar, ou a viver. Assim, a mulher, faminta devido ao jejum de alguns
dias, admitiu que sua perseverança fosse rompida e fartou-se de alimento não
menos avidamente do que a escrava, que foi vencida primeiro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b><span style="color: #231f20;">CXII </span></b><span style="color: #231f20;">– Mas vocês sabem o que geralmente costuma inquietar a satisfação
humana. Com as mesmas palavras ternas com que tinha conseguido que a senhora
quisesse viver, o soldado abordou também a castidade dela. E aquele jovem não
parecia disforme ou pouco eloqüente à virtuosa senhora, acrescentando-se a isso
a influência de sua escrava, que dizia a tempo todo:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;">Ainda lutarás contra este
agradável amor? <i>[Não vem à tua mente nas terras de quem vieste a te estabelecer?]
</i>Para que ficar me alongando tanto? A mulher não mais se absteve de saciar
aquela parte de seu corpo e o soldado vitorioso a persuadiu de ambas as coisas.
Eles, então, deitaram-se juntos não só aquela noite, em que celebraram suas
núpcias, mas também no dia seguinte e ainda no terceiro dia, evidentemente com
as portas do túmulo fechadas, para que qualquer um que viesse ao monumento,
entre conhecidos e desconhecidos, pensasse que aquela virtuosíssima esposa
exalava seu último suspiro sobre o corpo de seu marido. Mas o soldado,
encantado pela beleza da mulher e pelo mistério, comprava e levava para o
túmulo, imediatamente ao cair da noite, tudo de bom que conseguia, dentro de
suas possibilidades. Assim, os pais de um</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="color: #231f20;">crucificado, quando viram
a guarda baixada, tiraram durante a noite o corpo pendurado e lhe prestaram a
última homenagem. E o soldado logrado, quando viu no dia seguinte uma cruz sem
cadáver, sentiu o chão sumir a seus pés e, temendo a punição, expôs à mulher o
que tinha acontecido. Ele disse que não iria esperar a sentença do juiz, mas
que iria determinar ele próprio para si a pena de morte, com a espada, por
negligência. Por isso, ele queria que ela lhe concedesse um lugar para morrer e
dedicasse aquele túmulo fatal a seu amante e a seu marido. A mulher, não menos
misericordiosa que virtuosa, disse: Que os deuses não permitam que eu assista,
ao mesmo tempo, aos dois funerais dos dois homens mais especiais para mim.
Prefiro pendurar o morto a matar o vivo. Depois desse discurso, ela ordenou que
o corpo de seu próprio marido fosse retirado do sarcófago e pregado na cruz que
estava vazia. O soldado pôs em prática o plano genial daquela mulher sapientíssima
e, no dia seguinte, o povo espantado ficou a se perguntar de que modo o morto
tinha ido parar na cruz”. (Texto em latim e tradução cf. FUNARI, GARRAFFONI, p.
108)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: center; text-autospace: none;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #231f20;">********************************</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-27117180323897523182011-12-22T04:46:00.000-08:002011-12-22T04:46:30.312-08:00Relações entre as teses de Walter Benjamin e a obra de Josep Fontana, identificando em que aspectos as teses inspiraram as idéias centrais e a estrutura do livro História: análise do passado e projeto social.<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="http://img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"></span></b><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span style="font-family: Arial;">Walter</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">Benjamin</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">revela</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">-</span><span style="font-family: Arial;">se</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">um</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">crítico</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">feroz</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">historicismo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">; </span><span style="font-family: Arial;">para</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ele</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">fixação</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">por</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">conhecer</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">passado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">como</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">fato</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ele</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">foi</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">não</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">possui</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">nenhuma</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">relação</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">com</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">articulação</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">histórica</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">VI</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">). </span><span style="font-family: Arial;">O</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">autor</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">vê</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">história</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">como</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">um</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">intenso</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">processo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">construção</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">presente</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sobre</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">passado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">XIV</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">); </span><span style="font-family: Arial;">esse</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">passado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">carregado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> “</span><span style="font-family: Arial;">agoras</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">” </span><span style="font-family: Arial;">tem</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">um</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">imenso</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">potencial</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">que</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">pode</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ser</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">canalizado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">duas</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">maneiras</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">: </span><span style="font-family: Arial;">na</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">primeira</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">História</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">funciona</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">como</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">discurso</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">defesa</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">status</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">quo</span></i><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">como</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sua</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">justificação</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">; </span><span style="font-family: Arial;">Benjamin</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">chama</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">isso</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">empatia</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">historiador</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">pelo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">vencedor</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (“</span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">empatia</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">com</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">vencedor</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">beneficia</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sempre</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">portanto</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">esses</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">dominadores</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">”; </span><span style="font-family: Arial;">VII</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">); </span><span style="font-family: Arial;">isso</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">produz</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">uma</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> “</span><span style="font-family: Arial;">inércia</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">coração</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">” (</span><span style="font-family: Arial;">VII</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">) </span><span style="font-family: Arial;">que</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">vai</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">levar</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ao</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">conformismo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">social</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">-</span><span style="font-family: Arial;">democracia</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">ao</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">encantamento</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">com</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">desenvolvimento</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">técnica</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">e</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ao</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">culto</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">moral</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">trabalho</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">XI</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">); </span><span style="font-family: Arial;">em</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">resumo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">à</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">imobilização</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">XVII</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">). </span><span style="font-family: Arial;">O</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">segundo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">uso</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">História</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">é</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">contemplado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">pelo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">materialismo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">histórico</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">: </span><span style="font-family: Arial;">trata</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">-</span><span style="font-family: Arial;">se</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">fazer</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sujeito</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">histórico</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">despertar</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sua</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">letargia</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">dar</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">-</span><span style="font-family: Arial;">se</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">conta</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">exploração</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">das</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">classes</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">dominantes</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">VI</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">), </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">destruição</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">cultural</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">dos</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">derrotados</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">VII</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">), </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">exploração</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">proletariado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">disfarçada</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">na</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">moralização</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">trabalho</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">XI</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">); </span><span style="font-family: Arial;">resgatar</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">passado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">oprimido</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">é</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">uma</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">oportunidade</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">luta</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">revolucionária</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">XVII</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">), </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">transcender</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">curso</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">tradicional</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">história</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">. </span><span style="font-family: Arial;">Na</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sua</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">metáfora</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">Benjamin</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">define</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">primeiro</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">uso</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">como</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">história</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">numa</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">arena</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">comandada</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">pela</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">classe</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">dominante</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">; </span><span style="font-family: Arial;">na</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">segunda</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ela</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">é</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">salto</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">um</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">tigre</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sob</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">céu</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">livre</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">salto</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">dialético</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">revolução</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">XIV</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span style="font-family: Arial;">Essa</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">concepção</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">história</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">norteia</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">todo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">trabalho</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">Josep</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">Fontana</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">começar</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">pelo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">título</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sua</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">obra</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">História</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">: </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">análise</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">do</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">passado</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">e</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">projeto</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">social</span></i><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">; </span><span style="font-family: Arial;">como</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">define</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">Vitor</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">Biasoli</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">no</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">prefácio</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">obra</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, “</span><span style="font-family: Arial;">para</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">Josep</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">Fontana</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">falar</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">passado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">uma</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sociedade</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">é</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">posicionar</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">-</span><span style="font-family: Arial;">se</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">em</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">relação</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ao</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">tempo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">presente</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">suas</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">mazelas</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">e</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">grandezas</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">. </span><span style="font-family: Arial;">É</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">definir</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">-</span><span style="font-family: Arial;">se</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">em</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">relação</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">às</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">lutas</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">e</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">aos</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">projetos</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sociais</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">em</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">confronto</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">na</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sociedade</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">em</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">que</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">vive</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">historiador</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">”. </span><span style="font-family: Arial;">Para</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">Fontana</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">foco</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">da</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">obra</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">não</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">é</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">historiografia</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">mas</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">as</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">idéias</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sociais</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">subjacentes</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">projeto</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">social</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">em</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">que</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">historiador</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">inscreve</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sua</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">tarefa</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">FONTANA</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">p</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">. 9). </span><span style="font-family: Arial;">Dentro</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">desse</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">escopo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">obra</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">é</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">construída</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">em</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">torno</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ataque</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">aos</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">modelos</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">concepção</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">histórica</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">que</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">dão</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sustentação</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">à</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sociedade</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">capitalista</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">por</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">um</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">lado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">e</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">à</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">exaltação</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ao</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">materialismo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">histórico</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">como</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">modelo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">que</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">estimula</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">crítica</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">e</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">concepção</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">uma</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sociedade</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">alternativa</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">baseada</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">em</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">idéias</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">socialistas</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span style="font-family: Arial;">Ainda</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">sobre</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">essa</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">dualidade</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">Benjamin</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">acredita</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">que</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">historicismo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">é</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">desprovido</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">armação</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">teórica</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">; </span><span style="font-family: Arial;">não</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">passa</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">uma</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">massa</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">fatos</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">reunida</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">para</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">preencher</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">tempo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">homogêneo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">e</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">vazio</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">XVII</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">) </span><span style="font-family: Arial;">e</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">com</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">pretensão</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">constituir</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">uma</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">história</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">universal</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">. </span><span style="font-family: Arial;">É</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">essencialmente</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">acrítico</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">. </span><span style="font-family: Arial;">Fontana</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">chama</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">isso</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><b><span style="font-family: Arial;">genealogia</span></b><b><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span></b><b><span style="font-family: Arial;">do</span></b><b><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span></b><b><span style="font-family: Arial;">presente</span></b><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">: </span><span style="font-family: Arial;">a</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">seleção</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">e</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ordenamento</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">dos</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">fatos</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">do</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">passado</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">forma</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">que</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">conduzam</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">em</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> sequência </span><span style="font-family: Arial;">até</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">presente</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">com</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">o</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">fim</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> (</span><span style="font-family: Arial;">consciente</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">ou</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">não</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">) </span><span style="font-family: Arial;">de</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">justificá</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">-</span><span style="font-family: Arial;">lo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;">, </span><span style="font-family: Arial;">produzindo</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">uma</span><span style="font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial;"> </span><span style="font-family: Arial;">visão de que os acontecimentos se encadeiam e dão
como resultado “natural” a realidade social em que vivemos; estabelecida esta
ordem, todas ideias que se opuseram a ela são apresentadas como regressivas, e
todas alternativas como utópicas. O materialismo histórico, em oposição, é
dotado de método, e como tal dotado de um principio construtivo em sua base
(XVII), o que lhe permite confrontar os objetos históricos estruturalmente e
extrair as oportunidades da luta revolucionária, da transcendência; dai ele
afirmar que a compreensão histórica gerada por esse método produz um fruto
nutritivo. Fontana compreende o materialismo histórico da mesma maneira, como
uma ferramenta para a práxis, para a construção de um novo projeto social a
partir da compreensão crítica da realidade presente (idem, p. 11); estão
ligados de forma indissolúvel história, economia política e projeto social.
Para ele é uma quimera essa pretensão acadêmica de investigar
desapaixonadamente o passado: toda leitura histórica está a serviço de um
projeto social e contagiada por interesses. Benjamin, a esse respeito, fala da
construção da história saturada de “agoras” (XIV); a primeira parte da obra de
Fontana é uma longa exposição de como os historiadores através dos tempos
cumprem basicamente uma função social de legitimar a ordem estabelecida, e de
como a partir da Ilustração a História vai se converter em instrumento
fundamental de análise política e base ideológica (idem, p. 77). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Fontana procura mostrar que os
historiadores desempenham papel importante no processo de desenvolvimento do
capitalismo: a escola escocesa, por exemplo, ao produzir uma visão histórica
como linha evolutiva que vai da barbárie ao capitalismo, apresentando a
proteção à propriedade privada, a divisão social do trabalho e o governo civil
como pré-condições para o crescimento econômico. Dentro dessa dinâmica, as
rupturas, como as ideias de Rousseau e Mably de divisão igualitária da
propriedade, ou as primeiras concepções de luta de classes, vão ser combatidas
por uma legião de historiadores do inicio do século XIX; a Revolução Francesa
vai ser submetida a um intenso processo de interpretação para ressaltar seu
caráter burguês e liberal. Seguindo essa linha, Fontana vai destacar o caráter
conservador das leituras históricas a partir da economia clássica e das
incipientes ciências sociais. O processo de reação repete-se com a Revolução
Russa: a reação contra o materialismo histórico vai utilizar-se de conceitos
como a impossibilidade de extrair leis históricas (crítica à racionalidade do
processo histórico). Estes capítulos iniciais, onde Fontana situa
impiedosamente os historiadores em meio aos dilemas sociais de seu tempo,
atende à perfeição a concepção benjaminiana de contemplar à distância os
valores culturais da classe dominante, e sua tarefa de “escovar a história a
contrapelo” (VII).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os capitulos seguintes, onde Fontana
faz a crítica dos annales e das novas concepções de história, pode ser resumido
nas ideias de Benjamin de falta de armação teórica e método (“ausência de
idéias”, na ácida definição de Fontana, p. 213) e de conformismo e ingenuidade
conceitual (o instrumental de outras ciências vai produzir concepções
históricas ingênuas como a ideia de<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>“naturalidade” da exploração social).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A crítica feroz à social-democracia
está presente em ambos autores; Benjamin a considera o principal corruptor da
classe operária alemã (XI); para ambos ela aparece como um dos fatores que
levará à ascensão do nazismo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Finalmente, o apelo militante que
Fontana dirige aos historiadores no epílogo (“Está nas nossas mãos voltar a
começar o mundo de novo”) no sentido de cerrarem fileiras numa luta contra as
ideias atrasadas do passado e no combate à mundialização está impregnado do
messianismo das ideias de Walter Benjamin, quando fala da vitória sobre o Anticristo
e no despertar das centelhas da esperança (VI). Essa fé militante transparece
na biografia do primeiro (que morreu defendendo suas ideias) e no depoimento
com que Fontana encerra o livro:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>“O meu oficio
preencheu-me estes anos e deu sentido à minha vida. Porque não é só um trabalho
(…), como também o meu modo de estar neste mundo e de lutar com as armas do meu
ofício contra todas as coisas que impedem que se realize uma sociedade onde
haja (…) a maior igualdade possível dentro da maior liberdade possível”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><b>BIBLIOGRAFIA</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>BENJAMIN, Walter.<b>Teses sobre
filosofia da História</b>. Texto fornecido pelo professor.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>FONTANA, Josep. <b>História: análise
do passado e projeto social</b>. Bauru, SP: EDUSC, 1998.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>FUNARI, Pedro Paulo. </span><b><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">CONSIDERAÇÕES
EM TORNO DAS
"TESES SOBRE FILOSOFIA DA HISTÓRIA", DE WALTER BENJAMIN</span></b><b><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt;">. </span></b><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt;">Disponivel em: </span><a href="http://www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/3_PPFunari.pdf"><span style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">http://www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/3_PPFunari.pdf</span></a><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-autospace: ideograph-numeric;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-autospace: ideograph-numeric;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="display: none; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hide: all;"><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span><span style="mso-field-code: " PAGE \\*Arabic ";"></span></span><span style="font-family: Arial;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-37558372367898444182011-10-26T09:52:00.000-07:002011-10-26T09:52:21.152-07:00Paris Babilônia (Rupert Christiansen)<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-O5F6657vNAw/Tqg6W9KyjDI/AAAAAAAAAJA/LxbUQzp8e6g/s1600/bab.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-O5F6657vNAw/Tqg6W9KyjDI/AAAAAAAAAJA/LxbUQzp8e6g/s400/bab.jpg" width="279" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>O Segundo
Império inicia com o golpe de estado de Luis Napoleão, em 1852; será coroado
Napoleão III, com poderes absolutos. Muito mais que pela repressão, o novo
regime se sustenta pela propaganda: grandes obras públicas, como a reforma
viária de Paris, a modernização da burocracia e o desenvolvimento econômico
tornarão o regime aceitável para a burguesia. O casamento com a espanhola
Eugênia de Montijo também não ajudou: a imperatriz estrangeira era
tremendamente impopular. E a partir de 1860 o imperador se torna visivelmente
cansado e doente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>O livro
busca dar um mostra do imaginário e da situação social presentes no final do
Segundo Império. O recorte realizado pelo autor mostra uma sociedade impedida
de falar sobre política que gasta toda sua energia em mexericos, novidades
triviais e busca do prazer; a imprensa francesa dá um destaque mórbido a um
caso de assassinato em série que concentra as atenções do público por meses. A
prostituição havia crescido espantosamente: apesar de haver 3.500 garotas
registradas na polícia como prostitutas em Paris, falava-se sem exagero em até
100.000 mulheres praticando o “ofício”, vindas de todas partes do mundo; isso,
associado às condições de higiene da cidade, criou um surto de doenças
venéreas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Haussmann,
nomeado prefeito de Paris com plenos poderes, conduziu uma radical reforma na
cidade entre 1853 e 1870. A
cidade foi literalmente projetada de novo e reconstruída; dezenas de milhares
de pessoas tiveram suas casas derrubadas e foram remanejadas para novas áreas
habitacionais; a rede de esgoto foi quadruplicada, abertas mais de 80 quilômetros de
ruas, e avenidas foram alargadas de 7,5 metros para 30! A principal revolução, no
entanto, ocorreu na rede ferroviária, que foi sextuplicada; Paris foi dotada de
um complexo sistema ferroviário que a integrava não só a todo o pais, mas ao
continente; isso alimentou um círculo virtuoso de aumento no volume de cargas
transportadas, ampliação do comércio, valorização dos imóveis e um verdadeiro
boom na construção civil, que empregava 20% dos trabalhadores parisienses e
consumiu 2,5 bilhões de francos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>O
financiamento de tão portentoso empreendimento, que inicialmente deu um
importante impulso ao sistema bancário francês, ao final produziu um rombo de
500 milhões de francos e uma série de acusações de mal uso de verbas que
trariam um fim pouco honroso ao mandato de Haussmann.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Muitas
iniciativas comerciais tidas como invenções americanas na verdade surgiram em
Paris nestes anos de rápido crescimento urbano: a primeira cadeia de
restaurantes fast food, que servia refeições aos apressados funcionários do
comércio, repartições públicas e estabelecimentos bancários do centro da
cidade; a criação de uma cadeia de mercearias que comercializava comida pré-cozida
e a invenção da margarina, em 1869.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>O novo
visual arquitetônico e sobretudo o rápido aumento da população urbana fez com
que muitos intelectuais se queixassem de que a cidade havia perdido sua
personalidade; tornara-se a Nova Babilônia...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>O autor
está interessado sobretudo em pesquisar o imaginário parisiense que antecede e
acompanha os acontecimentos da Comuna. Seu relato parte de artigos
jornalísticos do período (tantos socialistas quanto conservadores) e de cartas
e diários de testemunhas dos fatos, sejam pessoas comuns do povo ou personagens
importantes do drama que se desenrola.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Às vésperas
da guerra franco-prussiana o Segundo Império está evidentemente agonizando. Os
longos anos de estado policial e intensa censura política criaram uma enorme
apatia na população; o espírito individualista e a busca do prazer constituem a
tônica do dia. A oposição, impedida de se manifestar, volta-se com entusiasmo
para idéias radicais e revolucionárias. É nesse contexto que Napoleão III cai
na própria armadilha; um dos pilares sobre a qual havia edificado seu regime
era o status de grande potência internacional que a França ostentava
exageradamente. O brilho desse status havia perdido parte de seu fulgor desde
que a Prússia vencera a Áustria, em 1866, e se tornara mais importante no
cenário continental. Bismarck acompanhava<span>
</span>a situação com grande interesse: a proteção francesa aos principados
alemães católicos era um dos grandes obstáculos para a unificação da Alemanha
sob o comando da Prússia; uma guerra com os esnobes franceses lhe parecia o
ingrediente faltante para concluir a unificação em grande estilo. O chanceler
concebe então uma provocação: a Prússia apresenta um candidato Hohenzorllen ao
trono espanhol, então envolto em aguda disputa sucessória. A França, como
esperado, protesta, e a candidatura prussiana é retirada. Mas Napoleão III dá
ouvidos a colaboradores que exigem uma resposta militar ao episódio; uma
demonstração militar iria restaurar o prestígio do regime, argumentam. Estes
são os argumentos frívolos que levam a França a declarar guerra. Os franceses
dispunham então de 300.000 soldados, em sua maioria destreinados, mal equipados
e mal administrados. A Prússia tinha uma magnífica máquina de guerra com 1
milhão de soldados e moral excelente...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>O mais
incompreensível é que Napoleão III em pessoa decidiu assumir o comando das
tropas. Embarcou em 28/07 rumo à frente de batalha, deixando a imperatriz como
regente. Os franceses foram logo derrotados e começaram a recuar. O general
MacMahon foi batido em 27/08 perto de Sedan e em 01/09 o próprio imperador foi
cercado e feito prisioneiro! </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>A notícia
caiu como uma bomba em
Paris. Eugenia negou-se a abdicar; os gritos de “<i>vive la republique</i>” ecoaram pelas ruas;
parte da Garde Nationale amotinou-se. A imperatriz precisou fugir das Tulhérias
e escondeu-se na casa de seu dentista; ao fim de uma epopéia de vários dias
logrou chegar à Inglaterra. Em 06/09 o governador de Paris, general Trochu,
assumiu o controle em nome do “Governo de Defesa Nacional”. Victor Hugo
retornou do exílio; 300.000 parisienses foram mobilizados para defender a
cidade. Trochu na verdade temia dois inimigos: os prussianos e os socialistas
dos bairros operários.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>A partir de
15/09 a cidade foi cercada pelos prussianos. Uma tentativa do general Ducrot de
barrar o avanço do inimigo fracassou em 19/09; Versalhes caiu no dia seguinte.
A partir de 23/09 uma linha de comunicações com o restante do país foi
estabelecida por meio de balões tripulados. Em 08/10 houve um princípio de
rebelião para derrubar Trochu e instalar um governo socialista, logo
controlada. Em 27/10 saíram de Paris as últimas legações estrangeiras. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>A situação
torna-se deprimente: os prussianos limitam-se a bombardear a cidade e aguardam
que se renda; os parisienses aguardam na inatividade que algum exército venha
do oeste para romper o cerco. Enquanto isso enfrentam fomes e doenças. Apenas
em 29/11 Trochu tenta romper o cerco, sem sucesso; a luta estendeu-se até 03/12
em torno das pontes do Marne; houve 12.000 perdas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>O frio
aumenta o sofrimento da população civil; há enorme mortandade de crianças. A
partir de 27/12 novos canhões da Krupp intensificam o bombardeio. Os animais do
zoológico são sacrificados e vendidos para alimentar a população. No inicio de
janeiro o bombardeio fica ainda mais intenso. Há crônica falta de alimentos e
carvão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Em 18/01
houve desesperada tentativa de romper o cerco com integrantes da Garde
Nationale. Houve 1.500 mortos. A nova derrota provocou a queda de Trochu e sua
substituição pelo general Vinoy. Em 22/01 houve novas agitações socialistas,
com cinco mortos. Finalmente, em 26/01/1871, a cidade capitulou. Eleições
realizadas em 08/02 empossaram um governo conservador liderado por Adolphe
Thiers. A derrota e a eleição do novo governo produziram uma onda de protestos
a partir de 24/02. Em 01/03, como parte do acordo de paz, forças prussianas
ocuparam os castelos de defesa de Paris. O novo governo estabeleceu-se em Versalhes. Em 18/03
Thiers organizou uma grande ação militar para restabelecer o controle de Paris;
a operação foi um fracasso: parte da Garde Nationale se amotinou e aliou-se aos
insurgentes; o governo teve de voltar correndo para Versalhes. Um comitê da
Garde Nationale assumiu o controle da cidade; era o inicio da Comuna.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Em 22/03
forças conservadoras (os “amigos da ordem”) organizaram uma marcha de protesto
que foi violentamente dispersada pela Garde Nationale. No dia 26 foi eleito o
novo governo dos <i>communards</i>; na
posse, em 28, 64 homens com cintas vermelhas nos braços indicavam a representatividade
da comuna: 19 membros da Garde Nationale, 25 jacobinos, 9 blanquistas; 20
seguidores de Proudhon; apenas 2 deles tinham ouvido falar de Karl Marx.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Christiansen
destaca outras características curiosas do grupo: há dois místicos militantes,
Julio Allix e Jules Babick (fundador do fusionismo); um jogador profissional de
bilhar, um proprietário de bordel, um pintor e um compositor de sucesso,
Jean-Baptiste Clement. Curiosamente, nenhum deles era operário. O presidente,
Charles Beslay, tinha pouca autoridade executiva; a maior parte do poder era
exercido por comitês. A partir de 01 de abril houve novos choques com tropas de
Versalhes; no dia 03 houve uma ambiciosa ofensiva para capturar a sede do
governo conservador; um grande fracasso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>A igreja
católica, vista como simpática aos versalheses, sofreu perseguições; diversos
padres foram presos. Bismarck, como parte da pressão para assinar um tratado de
paz definitivo com o governo francês, manteve canais diplomáticos abertos com a
Comuna. Marx, em Londres, desesperava-se de ver a inércia dos parisienses,
enquanto Thiers organizava um cerco da cidade em grande escala.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>A Comuna
abriu as portas represadas do imaginário de reforma social. Havia de tudo, de
utopia a idéias vanguardistas: a <i>Union
dês Femmes</i> apoiava o esforço de guerra servindo nos hospitais, cantinas e
barricadas. A legislação, pela primeira vez na história, adota o princípio de
pagamento igual para trabalho igual. Os mais radicais defendem a abolição do
casamento e o amor livre. O pagamento de aluguéis foi suspenso, e a Federação
dos Artistas de Paris exigiu liberdade de expressão artística e reforma do
ensino.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>A partir de
15/04 a Comuna tem moeda própria; por alguma curiosa razão, uma gravação da
borda tem a frase “Dieu protege la
France” (Deus proteja a França)...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>As forças
de Thiers atacam a cidade desde o dia 19 e avançam lentamente; o bombardeio é
constante. A Comuna tem divisões internas cada vez mais violentas; Louis Rossel
fala da furgência de criar um comando militar que centralize a resistência, sem
sucesso. Há motins e a disciplina decai sensivelmente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Em 29/04
uma enorme passeata com 15.000 maçons tentou negociar uma trégua, sem sucesso.
Os maçons estavam numa situação ambígua neste conflito: 15 delegados da Comuna
eram maçons, e idéias correntes na época associavam a Internacional com a
maçonaria; ao mesmo tempo parte significativa do governo de Versalhes era
formada por maçons.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Em 30/04 o
forte de Issy é recuperado pelos communards; a Garde Nationale calcula que
mobilizou mais de 160.000 soldados. A imprensa internacional apresenta a Comuna
sob as piores cores possíveis; para os jornais ingleses não passam de um bando
de assassinos. O New York Times teme que a revolta seja imitada em outros
lugares.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>O forte de
Issy foi evacuado (08/05); isso provocou uma cascata de acusações de traição e
incompetência. No dia 10 a
França assinou o acordo de paz com a Prússia; estava aberto o caminho para o
cerco completo da cidade. A partir daí as disputas internas ficam cada vez mais
sérias. Em 22/05 as tropas versalhesas abriram uma brecha nos muros de Paris, e
passam a avançar rapidamente, enfrentando apenas resistência esporádica. Um
grupo de mulheres, as <i>petroleuses</i>,
adota táticas de guerrilha, incendiando casas para atrasar o avanço inimigo. Em
retaliação pelo massacre promovido pelos versalheses, a Comuna executa o
arcebipo de Paris e cinco clérigos (24/05). Os dois lados praticam excessos
cada vez mais sangrentos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>A última
barricada cai em 28 de maio. Versalhes perdeu 877 soldados durante o cerco e
ocupação de Paris; a Comuna perdeu 3.500 combatentes. Mas na razia praticada na
cidade após a ocupação houve 17.000 mortes em 15 dias... Cerca de 35.000
prisioneiros foram postos a ferros em navios no litoral da Bretanha. Um total
de 4.500 deles foram degredados para Nova Caledônia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Uma nova
constituição foi promulgada em 04/09; Thiers caiu logo após as eleições de
1873. Cogitou-se por longo tempo da restauração da monarquia; afinal prevaleceu
um sistema republicano conservador.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>A reflexão
sobre a derrota para a Prússia e os excessos da Comuna produziu conclusões
interessantes: alguns lembraram as teorias do conde de Gobineau sobre o
enfraquecidfmento racial devido à miscigenação. O médico alemão Karls Starck
destacava a dissolução moral, o alcoolismo e o desregramento sexual como causas
do fracasso. Entre 1870 e 1875 houve intensa repressão contra a prostituição;
leis contra a embriagues foram instituídas em 1873. No mesmo ano aprovou-se a
construção de uma nova basílica católica em Paris, o <i>Sacre-Coeur</i>. Uma onde de entusiasmo religioso espalhou-se pelo
pais; as peregrinações em massa a Lourdes tornaram-se comuns. O Estado aumentou
e, 3,5 milhões de francos o subsídio pago à igreja católica, instituiu-se um
rigoroso ensino religioso nas escolas, e novas universidades católicas foram
criadas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>Obras que
fazem elogios à Comuna só vão ser vistas na França a partir de 1886.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><span> </span>A conclusão
do autor é conflitante: embora ele tenha concebido a narrativa a partir da
idéia de uma “Paris entidade”, dotada de vontade e identidades próprias,
forjadas por todos os seus habitantes, esse questionado torna-se questionável a
partir da própria narrativa. Paris surge muito mais como uma barulhenta e
confusa multiplicidade, apontando para mil direções diferentes. Um
caleidoscópio variado e contraditório de riqueza, tirania, decadência,
revolução, mal generalizado, melancolia, tudo isso constituindo uma terrível
indivisibilidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-70619255385983753232011-09-03T13:19:00.000-07:002011-09-03T14:00:19.970-07:00As três hegemonias do capitalismo histórico - Giovanni Arrighi (in O Longo Século XX)<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O declínio do poderio mundial
norte-americano, a partir de 1970, inicia um debate acadêmico sobre a ascensão
e queda de estados hegemônicos; alguns autores buscam identificar similaridades
estruturais nas diferentes situações históricas estudadas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Hegemonia aqui é entendida como a
capacidade de um estado de exercer funções de liderança e governo sobre um
sistema de nações soberanas; não se trata de dominação pura e simples, mas de
dominação intelectual e moral; as forças de oposição são eliminadas pela
coerção e pelo exercício do poder econômico (corrupção, fraude). A hegemonia é
também estabelecida a partir de um interesse geral que motive a adesão de
estados a uma coalizão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> As ascensões e declínios de estados
hegemônicos não ocorrem num sistema mundial se expandindo independentemente
numa estrutura invariável; o sistema mundial se forma e expande baseado em
recorrentes reestruturações fundamentais; ascende o estado que aproveita com
êxito situações de conflito que levam a um caos sistêmico, generalizando uma
demanda por “ordem” e restabelecimento da cooperação interestatal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O moderno sistema de governo emergiu
da desintegração do sistema da Europa medieval, que consistia numa relação
senhor-vassalo, uma mistura de público e privado, mobilidade geográfica do
poder e legitimação dada por um corpo comum de leis, religião e costumes. O
sistema moderno torna as esferas pública e privada distintas; a jurisdição é
claramente demarcada por fronteiras nacionais e está estreitamente associado ao
desenvolvimento do capitalismo como sistema de acumulação mundial.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Este vínculo é tanto contraditório
como único: o capitalismo e os estados nacionais surgiram juntos e são
inter-dependentes, mas há condições que fazem os capitalistas se oporem à
ampliação do poder do estado; enquanto o foco estatal é a aquisição de
territórios e o controle de populações, o foco do capitalista é o acúmulo de
capitais. O estado usa o controle do capital como meio de adquirir territórios;
o capitalista usa o controle do território como meio de acumular capitais. O
apoio capitalista ao estado está condicionado ao seu funcionamento como
facilitador do acúmulo de capitais. Cita como exemplo China e Europa nos séculos
XIV-XV: enquanto o capitalismo é o grande motivador do esforço europeu de
adquiri territórios, a China (superior tecnologicamente e muito rica) não tem
motivação econômica para ir à Europa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A invenção do estado moderno ocorre
primeiro nas cidades renascentistas da Itália setentrional. Veneza tem uma
oligarquia mercantil que controla o poder estatal, com quatro características
básicas:</span></div>
<ol start="1" style="margin-top: 0cm;" type="1">
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Sistema capitalista
de gestão do estado e da guerra.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Equilíbrio de poder
como garantia de independência.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Guerras concebidas
como indústria de produção de proteção, autocusteadas.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Desenvolvimento de
redes de diplomacia para manutenção do equilíbrio.</span></li>
</ol>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Às cidades italianas sucederam a
Espanha. A nova tecnologia militar e o fluxo de riquezas vindas da América
produziram um enorme aumento nos gastos militares; a escalada militar e a
afirmação dos estados nacionais criaram enormes conflitos e tensão social; o
uso da religião nos conflitos de poder aumentou a violência.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> As Províncias Unidas sobressaíram-se
neste cenário, por serem os primeiros a liquidar o sistema de governo medieval.
A Holanda surge como potência hegemônica após a Guerra dos Trinta Anos. Os
acordos para proteger o comércio em tempo de guerra celebrados na Paz da
Westfália criaram as condições para a expansão do capitalismo; Haia permanece
até hoje como o centro da diplomacia européia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> De 1652 a 1815 há a luta entre
França e Inglaterra pela supremacia. Na primeira fase ambas tentaram anexar a
Holanda para controlar suas redes comerciais; na segunda fase dos conflitos o
alvo são as próprias redes comerciais holandesas; a geografia política do
comércio mundial é reestruturada radicalmente: saem de cena portugueses,
espanhóis e holandeses; ascendem franceses e ingleses no século XVIII.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Características do capitalismo
durante o mercantilismo anglo-francês: colonização direta, escravismo
capitalista, nacionalismo econômico.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> No século XVIII o caos sistêmico é
fruto da intromissão do conflito social nas lutas de poder; o equilíbrio é
restabelecido com o Tratado de Viena (1815); a hegemônica agora é do
imperialismo britânico de livre comércio; todo o sistema interestatal é
reorganizado, e passa a haver um controle inédito de uma única potência sobre
quase todo o mundo. A Inglaterra combina duas filosofias: uma política “veneziana”
de equilíbrio europeu e aliança com monarquias reacionárias e uma política
“espanhola” de imperialismo colonial e controle direto no restante do mundo (à
exceção da América, onde há uma política de apoio à emancipação das novas
nações em troca da abertura dos mercados).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A partir de 1870 a Alemanha e os Estados
Unidos vão alterar a balança de equilíbrio da <i>Pax Britânica</i>; ambas as nações experimentam uma fase
territorialista com motivação econômica; em seguida experimentam uma
espetacular fase de industrialização. Mas a posição geo-econômica dos Estados
Unidos (tamanho territorial, posição insular em relação à Europa e central
entre centro e regiões coloniais) será determinante em seu sucesso sobre a
rival.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> A próxima crise sistêmica foi
motivada por um processo de socialização da gestão da guerra e do estado: a
industrialização da guerra vai aumentar a influência das classes operárias; há
contestação do imperialismo e uma polarização entre duas facções opostas:
Inglaterra e França a favor de manter o <i>status
quo</i> (imperialismo de livre comércio) e os novatos (Alemanha, Japão)
exigindo uma mudança no poder mundial. As duas guerras mundiais vão levar à
ascensão dos Estados Unidos como nova potência hegemônica e produzir uma nova
reformulação do sistema interestatal, baseado na oposição Estados Unidos x
União Soviética.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Diferenças entre os períodos hegemônicos
britânico e norte-americano:</span></div>
<ul style="margin-top: 0cm;" type="disc">
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Foco inglês no
imperialismo; os EUA apostam na descolonização.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Livre cambismo
inglês; os EUA fazem pressão por abertura de mercados em mão única.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">O controle
financeiro se desloca dos governos para grupos particulares; enquanto as
companhias inglesas tinham participação parcial do governo, no período
americano o papel preponderante é das empresas multinacionais.</span></li>
</ul>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Para Hopkins este processo todo tem
uma continuidade: as fases holandesa, inglesa e norte-americana indicariam o
nascimento, consolidação e desenvolvimento do capitalismo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> O autor se debruça então sobre o
universo de possibilidades da próxima crise sistêmica, e propõe alguns pontos
para consideração:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial;">O conceito de governo mundial; organizações como ONU
e FMI assumindo cada vez mais atribuições antes exclusivas da nação hegemônica.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial;">E a crise das nações territoriais como instrumentos
efetivos de governo. Jackson fala de <i>quase-estados</i>,
referindo-se às nações terceiromundistas que copiam o modelo republicano
francês sem êxito e tornam-se <i>disjunções</i>:
estruturas com exército moderno, aparência ocidental, políticas militares, uso
arbitrário do poder estatal contra os cidadãos e burocratização ineficiente.
Este quadro tem se agravado com o desmantelamento do mundo comunista.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial;">O autor considera ainda que a intensa
transnacionalização das empresas globais, longe de ser uma novidade, é um
reprodução em escala muito maior de experiências feitas desde as cidades
italianas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial;">Em resumo:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Ciclos
seculares de Braudel: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Longo
século XVI (1450-1640): etapa formativa da economia mundial-capitalista; ciclo
sistêmico de acumulação (CSA) genovês.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Longo
século XVII (1640-1776): CSA holandês.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Longo
século XIX (1776-1914): etapa burguesa-liberal do capitalismo histórico; CSA
inglês.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Cada “século longo” tem uma
estrutura apoiada em três períodos: um primeiro período de expansão financeira
onde o novo regime de acumulação se desenvolve dentro do antigo, como parte
integrante da expansão e contradição do último; um segundo período de
consolidação e desenvolvimento do novo regime de acumulação e um terceiro
período em que a expansão financeira volta a provocar contradições e cria
espaço para o surgimento de novos regimes concorrentes e alternativos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"> Cada início de ciclo de expansão
financeira é chamado de <b>crise
sinalizadora</b>. Nesse momento o agente principal do processo sistêmico de
acumulação desloca seu capital do comércio/produção para a especulação financeira;
isso é um preâmbulo do aprofundamento da crise que leva à substituição de um
regime de acumulação de capitais por outro (<b>crise terminal</b>). O ciclo genovês levou 290 para passar por todo
esse processo; o ciclo holandês durou 220 anos e o inglês cerca de 190; essa
aceleração do ritmo da história capitalista parece indicar um ciclo
norte-americano (iniciado em 1870) ainda menor.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-family: Arial;">Indústria,
imperialismo e acumulação de capital</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial;">Uma das pré-condições para o <i>boom</i> industrial inglês foi a transferência do mundo de altas
finanças de Amsterdan para Londres (1780-83), em virtude da guerra. Esse aporte
permitiu elevar os empréstimos do governo de 22 milhões de libras esterlinas
(1792) para 123 milhões (1815).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial;">A intensificação da competição levou à quebra de monopólios
e queda dos preços, produzindo a Grande Depressão de 1873-96; a partir daí o
grande capital se desloca da esfera de produção/comércio para as finanças, mais
rentável; a expansão das redes bancárias forma a <i>City</i>. Banqueiros como os Rothschild tornaram-se um poder autônomo
na Europa, financiando os projetos imperialistas e as guerras (os gastos
militares das grandes potências européias subiram de 1332 milhões de libras em
1880 para 205 milhões em 1900 e 397 milhões em 1914).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial;">A alta remuneração do capital especulativo criará uma
onde de otimismo e desenvolvimento, a <i>Belle
Epoque</i> (1897-1914). Após a I Guerra Mundial a Inglaterra experimentou uma
grande expansão imperialista, mas já a culstos muito maiores que seus
benefícios. Em 1931, com o colapso do padrão ouro, ocorre o fim do domínio
britânico sobre o capital financeiro mundial. As altas finanças cruzam o
Atlântico e se instalam em
Wall Street; inicia o reinado do dólar.</span></div>
Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-26724529656836638742011-08-19T09:38:00.000-07:002011-08-19T09:38:38.230-07:00Bin Laden – O homem que declarou guerra à América (Yossef Bodansky)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-Eu5lPRkzuYw/Tk6QVEnl1hI/AAAAAAAAAIs/2PGDJH3rPIE/s1600/bin+ladio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-Eu5lPRkzuYw/Tk6QVEnl1hI/AAAAAAAAAIs/2PGDJH3rPIE/s320/bin+ladio.jpg" width="229" /></a></div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial,sans-serif;"><b>Sinopse do Livro</b></span></div><div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Osama Bin Laden nasceu em 1957; seu pai, Muhammad Bin Laden, tornou-se um importante empreiteiro com o boom do petróleo nos anos 70. Osama estudou administração e economia. No inicio dos anos 70 iniciou contatos com fundamentalistas islâmicos. A onda fundamentalista ganha força com o assassinato do rei Faisal por seu sobrinho, pró-ocidental, em 1975. Jidá, onde vive Osama, torna-se importante centro fundamentalista sob influência de estudantes egípcios; a aproximação de Sadat com o ocidente levou à formação do Partido de Deus, contrário à influência ocidental.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">A vitória da Revolução Iraniana, em 1979, comandada por Khomeini, aumentou o entusiasmo dos fundamentalistas. No mesmo ano um grupo fundamentalista liderado por Juhayman tentou derrubar a monarquia pró-ocidental da Arábia Saudita; ocuparam a Caaba, e parte da Guarda Nacional aderiu ao movimento; apenas um grupo francês de elite conseguiu derrotá-los.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Ainda em 1979 a URSS invadiu o Afeganistão para conter a agitação fundamentalista; a agressão foi condenada por todo o mundo árabe. Mas o temor do poderio soviético impediu reações dos governos locais. Foram voluntários fundamentalistas que partiram para auxiliar o estado invadido. Osama estava entre eles.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">No inicio de 1980 Osama ajudou a organizar os primeiros campos de treinamento de voluntários no Paquistão. Lá entrou em contato com o xeique Abdallah Yussuf Azzam; Azzam militou na luta armada dos palestinos contra Israel; em seguida estudou no Egito e lecionou em Jidá, onde Osama o conheceu. Osama utilizou equipamento da construtora da família para construir estradas e instalações. Sua equipe foi por diversas vezes alvo de helicópteros soviéticos, e ele seguia trabalhando sob fogo, ignorando o perigo.<a name='more'></a></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">A invasão soviética produziu um fenômeno curioso: a progressiva aproximação entre fundamentalistas islâmicos e os Estados Unidos para combater um inimigo comum. Por pressão americana Sadat começou a fornecer armas aos combatentes mujahedins em 1980; logo passou a enviar oficiais do exército para treinar os guerrilheiros.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">No mesmo período Riad utilizou os serviços de Osama para organizar uma rebelião fundamentalista no Iemen do Sul e derrubar o governo comunista lá instalado; ele participou pessoalmente de alguns combates, mas o movimento não teve êxito; a operação, no entanto, abriu-lhe um canal direto de intercâmbio com o rei Fahd.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Os mujahedins, em torno de 3.500 em 1980, chegaram a 20.000 em 1985; voluntários vinham do mundo todo, inclusive do ocidente. A maioria vinha do Egito, fugindo da repressão desencadeada pelo governo após o assassinato de Sadat em 1981. O Paquistão tornou-se a principal base de operações; o governo dava suporte aos fundamentalistas com dinheiro e apoio do exército e serviço de inteligência (ISI); os paquistaneses tinham experiência de ações terroristas, patrocinando desde 1970 os separatistas sikhs e o Exército de Libertação da Caxemira. A CIA era outro importante parceiro, sobretudo pelo apoio financeiro.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Em 1986 Osama participou da Batalha de Jalalabad e liderou comandos em diversas operações ousadas contra forças soviéticas; adquiriu fama de comandante talentoso e corajoso.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">A partir deste ano a OLP passou a treinar seus comandos no Paquistão e arregimentar lá voluntários para atentados em Israel. Em seguida chegou maciça ajuda dos iranianos. Em agosto de 1988 houve uma importante retaliação russa: um comando sabotou o avião onde estavam o presidente paquistanês Zia ul-Haq, o chefe do ISI e o embaixador americano; 28 pessoas morreram. Benazir Bhutto, a nova presidente, intensificou a cooperação com os jihadistas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">A URSS retirou-se do Afeganistão em 15/02/89. A vitória foi um importante acontecimento para o movimento jihadista; a ofensiva final, no entanto, foi administrada de forma criminosa pelo Paquistão: organizações menos alinhadas com Islamabad receberam ordens de atacar frontalmente Jalalabad; o resultado foi uma carnificina. A partir daí os grupos que dariam origem ao Talibã tornaram-se majoritários no movimento de libertação. Osama e outros jihadistas sentiram-se traídos pelo Paquistão e EUA. O discurso anti-paquistanês teve resposta imediata: em 24/11/89 uma bomba destruiu o carro do xeique Azzam em Peshawar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">No mesmo ano Obama voltou à Arabia Saudita; foi recebido como herói. Assumiu uma função administrativa na construtora da família e mudou-se com a própria família para Jidá.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Mas em agosto de 1990 novos acontecimentos alterariam definitivamente os rumos de sua vida: o Iraque invadiu o Kuwait; Riad, aliada tradicional do principado, entrou em pânico, temendo que os tanques iraquianos iriam invadir a Arábia Saudita. Osama ofereceu ao governo seus serviços e prontificou-se a organizar uma brigada de jihadistas para combater Saddam. Mas Riad preferiu a proteção de tropas americanas, que não saíram mais da Arábia Saudita; a presença de forças ocidentais no solo sagrado da Arábia escandalizou profundamente os fundamentalistas. Osama reagiu recomendando um boicote a produtos americanos; a violenta reação de Riad fez com que partisse em exílio para o Sudão, em 1991.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">O Sudão tinha um governo fundamentalista desde o golpe de 30/06/89 que levara o general Omar al-Bashir ao poder. Hassan al-Turabi tornou-se o líder espiritual do país.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">A Guerra do Golfo abalou a tradicional unidade entre as nações árabes; a aliança com nações ocidentais para combater um pais muçulmano ficou conhecida entre os árabes como <i>Al-Azma</i> (A Crise), comparada em consequências à <i>Al-Naqba</i> (holocausto, a criação do Estado de Israel). A indignação dos fundamentalistas com a crescente influência norte-americana na região levou à formação da Irmandade Muçulmana Internacional (IMB) e à constituição de um braço armado do movimento; o Sudão alia-se ao Irã e Cartum torna-se peça chave das novas estruturas do terrorismo fundamentalista; campos de treinamento são organizados e as primeiras ações desenvolvidas são atos de sabotagem contra o regime de Mubarak no Egito. Em 1991 o presidente iraniano Ali Rafsanjani visitou o Sudão. Osama logo tornou-se figura importante do novo movimento, organizando a complexa rede financeira que permitia receber e enviar fundos para o mundo todo. Al Zawahiri começa a organizar a rede terrorista na Europa; na Bósnia houve treinamento de 4 mil combatentes. Osama assumiu ainda a construção de toda infraestrutura necessária para as operações, incluindo estradas, aeroportos e instalações de treinamento e armazenagem de equipamento. Em 1996 já havia 23 campos de treinamento no país. Desde 1991 há também um acordo que inclui apoio do governo líbio; treinamento é ministrado para grupos egípcios, o Hezbollah (Líbano) e o FIS (Argélia). A cooperação entre os diferentes grupos fundamentalistas aumenta; são organizados grupos xiitas na Tanzania, Quenia, Uganada, Burundi e Zaire. O plano é tornar o Sudão a nação dominante na região, incluindo o Chifre da África. Na Tanzânia é financiado o movimento separatista em Zanzibar. Os terroristas colaboram também na luta contra os separatistas cristãos do sul do Sudão.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">A ação fundamentalista aumenta a instabilidade política na África e o quadro de conflitos étnico-religiosos, como a luta de independência da Eritréia muçulmana (1993) e os conflitos étnicos na Somália. A intervenção da ONU e o envio de tropas americanas à região no final de 1992 aumentam o conflito; Sudão e Irã fazem um acordo para ações conjuntas que expulsassem os americanos; os grupos organizados para a operação receberam o nome de Al-Qaeda.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">O autor frisa que o Iraque colaborou ativamente com a resistência na Somália, e que teria enviado um grupamento de elite com 1.200 soldados para dar suporte a ações contra os americanos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Em 26/09 um helicóptero Blackhawk americano foi derrubado em Mogadiscio; em outubro mais três aparelhos foram destruídos numa gigantesca emboscada; houve 18 mortes e 78 americanos ficaram feridos. A humilhante retirada das forças americanas foi uma importante vitória para a Jihad fundamentalista. Em 1993 houve uma tentativa frustrada de atentado contra o World Trade Center, em Nova Iorque. Em 1994/95 o Paquistão intensifica o treinamento de terroristas; há comandos atuando na Chechênia, Bósnia, Filipinas e Ucrânia. Em 1994 o Talibã assumiu o controle da região de Candahar, com apoio paquistanês; logo dominariam a maior parte do país. Osama e Al-Zawahiri estiveram na Europa, organizando a estrutura internacional de suporte à ação dos comandos. As ações dos comandos são iniciadas nas Filipinas, um avião é destruido; uma ação para matar o Papa quando estivesse no país é descoberta e abortada.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Em 26/06/95 houve um atentado contra Hosni Mubarak em Adis-Abeba organizado pelo Al-Qaeda; em novembro houve atentados contra americanos na Arábia Saudita.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Em abril de 1995, sob pressão americana, Benazir Bhutto ordenou a prisão de alguns oficiais do ISI ligados às ações terroristas. Era uma fachada, em novembro foi assinado um novo acordo de cooperação com a inteligência iraniana (VEVAK); os oficiais foram libertados pouco tempo depois. A ação americana no Paquistão produziu uma retaliação: uma bomba explodiu na embaixada egípcia em Islamabad, em 13/11/95.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">A ação mais ousada ocorreu em 25/06/96: um caminhão bomba explodiu nas instalações americanas de al-Khobar, na Arábia Saudita; 19 soldados morreram. No mesmo ano Al-Zawahiri organizou comandos na Bósnia-Herzegovina para atacar forças americanas da ONU (IFOR).</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Em junho de 96 Teerã criou uma coordenação de vários grupos terroristas, desde a Jihad Islâmica Palestina, Jihad egípcia, Hezbolah libanês, Hamas, etc.; era o Hezbolah Internacional; o comitê supremo, de 3 integrantes, incluia Osama Bin Laden. Em 17/07/96 uma bomba destruiu um jumbo da TWA na Inglaterra.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">A pressão americana sobre o governo sudanês obriga Osama a transferir sua base de operações para o Afeganistão; ele é agora reconhecido como emir e comparado a Saladino.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Num raro relato sobre a atividade da CIA no período, o autor admite que houveram negociações com os jihadistas: os americanos ofereceram liberdade de ação para a derrubada de Mubarak em troca do fim das operações na Bósnia. A negociação vazou e abriu uma série crise com o governo egípcio.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">O endurecimento da política americana contra o Iraque aumenta a tensão; em agosto de 1998 bombas explodiram nas embaixadas americanas do Quênia e Tanzania numa ação coordenada; mais de 250 pessoas morreram. Também em agosto o Talibã consolidou o controle sobre o Afeganistão; fundos sauditas financiaram as operações militares. Bases do Talibã são bombardeadas em retaliação pela ação nas embaixadas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Em setembro há diversas ações de comandos no Kosovo. Bin Laden inicia um ambicioso projeto de reconstrução de Candahar, com fornecimento de eletricidade e água encanada.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">O autor cita com exagerado destaque um suposto convite de Saddam para que Bin Laden trabalhasse no Iraque; não são citadas fontes, tal como a suposta cooperação na Somália. A argumentação parece mais um esforço em incriminar o governo iraquiano.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">O livro, escrito em 1999, termina com reflexões sobre o rápido processo de talebanização do Paquistão, como a recente implantação de reformas no processo judiciário e adoção de leis islâmicas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <br />
</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Arial,sans-serif;"><b>Comentários</b></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">Yossef Bodansky nasceu em Israel e vive nos EUA; foi assessor do Congresso para assuntos de terrorismo e também prestou assessoria ao Departamento de Defesa; seu texto tem os vícios de sua posição política: é pró-Israel, e consegue escrever um livro de 500 páginas sobre terrorismo com menções completamente inócuas sobre Israel; o Mossad não é citado em nenhum momento! Há dois vilões claramente indicados: Irã e Iraque; são estados criminosos, simplesmente. Os Estados Unidos são o poço das virtudes; o único erro inocente foi querer negociar com os jihadistas para proteger o processo de paz na Bósnia; é uma cutucada delicada nos democratas, que aparecem na descrição como meio inocentes. Oferecer a cabeça de aliados (Mubarak, no caso) como moeda de troca parece apenas um detalhe bobo da história. O fracasso na Somália surge sob novas luzes: os americanos estavam, na verdade, em minoria de contingente e recursos; metade dos mais ativos serviços secretos do mundo árabe estavam montando uma armadilha profissional para os pobres fuzileiros! Olhando assim não parece uma derrota tão humilhante...</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Arial,sans-serif;">O livro também minimiza a participação da CIA no financiamento e treinamento dos mujahedins afegãos, com temerárias afirmações de que o Paquistão detinha o controle do movimento e uma política independente de uso de terroristas para atender seu projeto geo-político. Eu acredito que a obra de Yossef está inserida no esforço político de justificar a já projetada intervenção no Iraque. A estrutura do livro sugere de forma sutil duas dinâmicas: a rápida organização de um movimento internacional focado em combater os norte-americanos e a tímida reação do governo estadunidense até o momento; embora analise corretamente o crescimento da estrutura terrorista e suas motivações, o autor faz declarações descabidas, como a de que a al-Qaeda já estaria de posse de artefatos nucleares. É seguramente um fonte que deve ser lida com reservas, uma vez que está inserida no jogo de interesses que buscavam influenciar os destinos da política exterior dos EUA.</span></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-54699204146357973492011-07-16T17:14:00.000-07:002011-08-19T09:15:58.497-07:00Rumo à Estação Finlândia (Edmund Wilson) - Resumo Comentado<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-iSZHKb2Qrcw/Tk6Ll7q5u4I/AAAAAAAAAIc/IzLNHccD6-w/s1600/finlania.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-iSZHKb2Qrcw/Tk6Ll7q5u4I/AAAAAAAAAIc/IzLNHccD6-w/s320/finlania.jpg" width="210" /></a></div><span style="font-family: Arial;"> </span><br />
<span style="font-family: Arial;">Relato cativante sobre os homens e a sociedade que assistem o surgimento das idéias socialistas.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Arial;">Obs.: as indicações de páginas (em parênteses) são da edição de 1986, Editora Schwarcz/ Cia. Das Letras, São Paulo – SP)</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial;">Giovani Vico, italiano, propõe em 1725 um modelo de estudo da história baseado na compreensão da dinâmica social; é a história concebida como ciência.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial;">Jules Michelet, baseado nas idéias de Vico, escreveu uma <i>História da Idade Média</i>; trabalhando como funcionário dos Arquivos, fez uma intensa pesquisa documental, coisa incomum para as obras da época; rompe com o romantismo na medida em que busca explicar estruturalmente os acontecimentos; faz uma análise anacrônica ao explicar a Idade Média como preparação para a Renascença (17). Sua grande obra é <i>História da Revolução Francesa</i>; nela ressalta as contradições fundamentais: solidariedade de classe x dever patriótico; individualismo x solidariedade (23).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="font-family: Arial;">Aquele que sabe ser pobre sabe tudo. </span></i><span style="font-family: Arial;">(J. Michelet)</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial;">Características do método de Michelet (24):</span></div><ul style="margin-top: 0cm;" type="disc"><li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Estuda as inter-relações das diversas formas de atividade humana.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Procura ver o passado como presente, sem horizonte definido; esforço para eliminar o anacronismo.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Ênfase no grupo, não nos líderes. O ator principal é o povo.</span></li>
<li class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Sua narrativa alterna o close-up sobre um indivíuo para o movimento do grupo local e daí para a visão analítica do todo (25).</span></li>
</ul><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> <i>Quando se é alguém, por que querer ser algo ?</i> (Flaubert)(42)</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Edmund Wilson ilustra o refluxo revolucionário após a ascensão de Napoleão III (1851) citando Renan e Taine como exemplos do desinteresse pela revolução (52). Anatole France comemorou a derrota da Comuna, embora vá defender Dreyfuss em 1895 (61). Os três escrevem sobre a Revolução Francesa dentro do espírito romântico; Anatole vai se definir mais tarde como socialista.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> De Michelet a Anatole France o autor faz uma análise do ideário da revolução burguesa, de seu apogeu (1830), declínio e dissolução (70).<a name='more'></a></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> <b> </b><b>Origens do Socialismo</b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> O autor inicia citando as idéias de Graco Babeuf, militante da Revolução Francesa que fundou a Sociedade dos Iguais (1795); seu ideário fala do fim da propriedade privada e da comunização da sociedade; suas idéias assustaram o Diretório; foi guilhotinado em 1797 com mais 30 seguidores (78,79).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Mas o ideário socialista do século XIX remonta ao Conde de Saint-Simon; ele lutou na Revolução Americana mas manteve-se longe dos acontecimentos da Revolução Francesa; viajou pela Europa e estudou diversas ciências. A partir de 1802 começou a escrever defendendo a formação de uma sociedade baseada na meritocracia e focada em ajudar as classes mais pobres. Morreu na miséria, em 1825 (85). No leito de morte previu a formação de um partido de trabalhadores.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Em seguida descreve as comunidades criadas por Charles Fourier e Robert Owen, dois humanistas desiludidos com a sociedade liberal. Fourier permaneceu no campo das idéias, seu projeto não se concretizou e ele morreu em 1837. Owen criou uma comunidade com os trabalhadores de um cotonifício administrado por ele. Seu discurso radical (contra a propriedade privada, a religião e o matrimônio) causou reações violentas. Em 1826 criou uma comunidade nos Estados Unidos, que durou 3 anos. Outras tentativas comunitárias na Inglaterra e Irlanda acabaram com seu dinheiro. Militou algum tempo no movimento sindical cartista, sem êxito. Morreu em 1858.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> <b>A Experiência Americana</b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Albert Brisbane, discípulo de Fourier, criou nos EUA comunidades conhecidas como falanstérios; esse movimento faz parte das utopias religiosas e sociais que se espalhariam pelo oeste americano neste período. Inclui comunidades como a dos icarianos, que duram de 1848 a 1895, e até a Comunidade Oneida, de John Humphrey Noyes, ativa entre 1847 e 1879; Noyes se tornou mais famoso pelas idéias de casamento aberto e controle natural da natalidade do que pelo ideário de reforma social.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> <b> </b><b>Marx</b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Formou-se em direito (1841), mas era fascinado por filosofia. O meio filosófico alemão é então dominado pelas idéias de Hegel; e alguns grupos começam a utilizar as idéias hegelianas a partir de um sistema ateísta (119-120). A partir de 1842 atua como jornalista; estudando as idéias de Feuerbach faz uma releitura de Hegel e começa a conceber um sistema próprio.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> <i>Até agora os filósofos só interpretaram o mundo; é hora de transformá-lo.</i> (Marx)</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Engels viveu dois anos na Inglaterra e acompanhou de perto as condições de vida da nascente classe proletária inglesa (132). Quando Engels publicou suas conclusões, em 1844, Marx escreveu-lhe; logo se tornaram parceiros (137).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Marx desenvolveu a idéia do conflito de classes como motor da história em 1845. Em 1847-48 sai o Manifesto Comunista; o texto apresenta uma teoria geral da história, uma análise da sociedade européia e um programa de ação revolucionária. Participam da agitação revolucionária de 1848.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Edmund Wilson faz uma análise crítica do pensamento marxista, e de como Marx/Engels foram mal interpretados por muitos marxistas; toma por exemplo a questão da dialética; Marx usa o termo não como o método argumentativo de Sócrates, mas a partir do principio da mudança proposto por Hegel. Para o filósofo alemão a dialética é uma lei que rege tanto os domínios da lógica como o mundo natural e a história; segundo ela todos processos de mudança possuem um elemento de uniformidade: atravessam um ciclo de três fases; a primeira fase (tese) é o processo de afirmação e unificação; em seguida vem a dissociação e negação da tese (antítese); porfim ocorre uma conciliação entre tese e antítese (síntese). Aplicada ao processo histórico, Hegel cita como exemplo a República Romana (tese); a antítese está representada pelas guerras civis e a crise do modelo republicano; a síntese é a implantação de uma ordem autocrática, o Império Romano.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Marx e Engels adotam o mesmo principio, e diferente de Hegel o projetam para do futuro: a sociedade burguesa é a tese; a antítese é o proletariado; e para eles a síntese seria a sociedade comunista.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Enquanto Hegel vê um principio que ele denomina Idéia Absoluta se auto-realizando através do mundo material, Marx inverte essa lógica de ponta cabeça: as idéias são humanas, e traduzem a matéria dentro da mente humana. Daí materialismo dialético, e o entendimento simplista de que a economia é a grande mola do esforço humano, e tudo ocorre por conta de uma motivação econômica; para Edmund Wilson isso é uma leitura equivocada do próprio Marx. Engels esclarece que não há essa prevalecência do fator econômico (176) e dá exemplos históricos: a produção artística é muitas vezes mais desenvolvida em épocas de problemas econômicos do que em períodos de progresso; e conclui (carta a Joseph Block, 21/09/1890): o fator econômico não é o único determinante, mas a produção e reprodução da vida real constitui em última análise o fator determinante na história (no sentido de apropriação de valores culturais por outras sociedades)(180).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> O autor considera irônico que o pensamento marxista, ao afastar-se da metafísica hegeliana, terminará construindo uma mística materialista; há uma trindade sagrada (tese-antitese-sintese), e a dialética torna-se um espécie de demiurgo (188), uma força divina irresistível que move a história; os marxistas se esforçam na crença de que são agentes dessa força sobre-humana.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Outro elemento que contribui para as simplificações futuras é o esforço de interpretação histórica fortemente centrado na motivação econômica que Marx e Engels inauguram (materialismo histórico); Engels, sobretudo, empenhado em compreender a transição do feudalismo para o capitalismo, vai revolucionar o pensamento histórico da época com as idéias de modos de produção e lutas de classes. A crítica inclui ainda o conceito de <b><i>mais-valia</i></b>, a apropriação do trabalho que gera o lucro dos industriais; o conceito de lucro gerado exclusivamente pelo valor-trabalho é economicamente insustentável, e o próprio Marx admite problemas com o conceito em rascunhos publicados postumamente (282).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Atribui a interpretação moral que Marx faz da economia à sua formação como judeu; para o autor a característica básica do pensamento judeu é o julgamento moral; isso explicaria também a intransigência com que combate a sociedade burguesa. Recém saído do cativeiro medieval do gueto, o judeu vê a sociedade com outros olhos. Este mesmo olhar permitiu a Freud enxergar o mundo proibido dos instintos sexuais (292).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> A tremenda violência e animosidade de O Capital parece terem sido influenciadas pelos anos que o próprio Marx viveu na miséria em Londres; as obras anteriores ao período londrino se destacam pelo entusiasmo revolucionário; as obras posteriores são mais ferinas em ataques ao capitalismo. Marx é completamente cético em relação à democracia; foi criado num país autoritário e sempre imprimiu uma administração profundamente autoritária ao movimento socialista; só concebe transformações a partir de revoluções sangrentas. Ignorou completamente a eleição de deputados socialistas para o Reichstag, a partir de 1867, e o caminho intermediário de conquistar direitos e concessões a partir de pressão eleitoral. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial;">Devido às perseguições políticas Marx passa a viver em Londres, em condições de extrema pobreza, que serão a causa da morte de um filho e das constantes crises nervosas da esposa. Engels permanece na Alemanha e trabalhando nos negócios da família,e vai praticamente sustentar o amigo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> A partir de 1860 o movimento sindical torna-se mais organizado (250); em 1864 Marx participa da 1ª. Reunião da Associação Internacional dos Trabalhadores, e logo passa a controlar a entidade; em 1869 ela reúne 800.000 membros em toda Europa.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Passado o entusiasmo com a Comuna (1870), Marx e Engels concentram-se na produção teórica. Como salienta o autor, o pensamento marxista não é um sistema acabado: os dois últimos livros de O Capital saíram postumamente, quase 12 anos após a morte de Marx (1883); Engels morreu em 1895. Coletâneas de rascunhos e notas sobre diversas questões doutrinárias que permaneciam em aberto foram publicadas muitos anos depois, quando o pensamento marxista já estava consolidado.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Bakunin nasceu em 1814 (254), numa família aristocrática proprietária de terras; fascinado com as idéias de Hegel, mudou-se em 1840 para a Alemanha. Logo tornou-se revolucionário; esteve em Paris (1848) e no levante de Dresden (1849); esteve preso por 8 anos e foi deportado para a Rússia. Escapou na Sibéria e retornou à Europa passando pelo Japão e EUA (259). A partir de 1868 colabora com a Internacional e os movimentos sindicais; trabalhou algum tempo com Marx, mas logo romperam ligações; suas idéias anarquistas são ainda mais radicais que o ideário comunista: não basta acabar com a propriedade privada; o próprio Estado deve acabar. Morreu em 1876. Edmund insinua que o ardor destrutivo das idéias de Bakunin tem relação com um drama pessoal: as relações incestuosas com as irmãs durante a adolescência e a impotência sexual que teve provavelmente durante toda a vida (255).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Vladimir Ulianov nasceu em 1870; em 1887 seu irmão foi enforcado por participar de um complô para assassinar o Czar. A despeito da perseguição política formou-se em Direito. Altera períodos na prisão com o exílio. Após a ruptura do movimento social-democrata passa a liderar a facção dos bolcheviques. Edmund tem evidente admiração por Lênin; admira seu idealismo e rigidez moral, e sobretudo o senso prático demonstrado em seus textos; considera que a instalação dos sovietes indica os propósito humanitários, democráticos e antiburocráticos do líder (449). O nome da obra (Estação Finlândia) homenageia exatamente o momento em que Lenin chega à Rússia, desembarcando em São Petersburgo na estação que leva este nome.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Trotsky (Lev Davidovitch) nasceu em 1879; tentou reconciliar Lênin com os mencheviques; preso na revolta de 1905, escreverá uma importante análise do movimento; fará o mesmo mais tarde com a revolução de 1917. Faz uma análise teleológica da história: toda a história caminha em direção ao triunfo final do socialismo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> A análise que Edmund Wilson faz da Revolução Russa é demolidora: para ele não passa de uma revolução burguesa no estilo da Revolução Francesa, motivada pela necessidade de derrubar o estado absolutista para implantar reformas modernizadoras. A nobreza é derrubada e substituída por um aparelho estatal centralizado; os burocratas da nova estrutura constituem um nova elite social; na prática as distinções de classe continuam na nova sociedade socialista. Lênin é sucedido por um de seus lugar-tenentes através de engodo e distribuição de favores; o governo de Stalin não deixa nada a dever ao dos czares (450).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial;"> <b>Comentários Finais</b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> O autor evidentemente não é marxista; Edmund Wilson é profundamente crítico em relação ao ideário socialista, e não vê grande diferença entre os socialistas utópicos e dialética pretensamente científica de Marx. O livro foi escrito em 1940, durante a aliança Hitler/Stalin, e retrata claramente as dúvidas quanto ao futuro do movimento socialista que havia então no meio acadêmico norte-americano. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> Sua motivação para escrever a obra é uma genuína admiração pelo romantismo idealista do início do socialismo, o sonho de criar uma sociedade mais justa apoiada em bases igualitárias; e ao mesmo tempo destruir a aura de infalibilidade do pensamento marxista. O conjunto de idéias de Marx é para o autor uma mistura de judaísmo tradicional, rousseaunismo do século XVIII e utopismo do início do XIX (444); e arremata: </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"> <i>“Não basta que o Estado assuma o controle dos meios de produção e se estabeleça uma ditadura que defenda os interesses do proletariado para que esteja garantida a felicidade de ninguém – exceto a dos próprios ditadores.”</i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-33863096753338150122011-07-04T15:35:00.001-07:002011-08-19T09:16:45.806-07:00Carne e Pedra (Richard Sennet)<div style="text-align: justify;"> O autor analisa o rápido processo de urbanização que ocorre na segunda metade do século XIX; na Inglaterra há um quadro social em que 10% da população detem 90% da riqueza, e metade da população mais pobre tem apenas 3% da riqueza nacional; e ele se pergunta: o que explica a falta de uma revolução ? </div><div style="text-align: justify;"> Ele considera que um dos fatores é o espírito individualista que surge nas cidades: "Cada pessoa age como se fosse estranha À sorte dos demais. Nas transações que estabelece, mistura-se aos seus concidadãos, mas não os vê; toca-os, mas não os sente; existe apenas em si mesmo e somente para si mesmo. Assim, sua mente guarda um senso familiar, não um senso social". (Tocqueville)</div><div style="text-align: justify;"> O individualismo traz a perda da noção de destino e compartilhado e apatia dos sentidos; são as características da modernidade: velocidade e individualismo.</div><div style="text-align: justify;"> As cidades do século XIX são planejadas com ênfase para a livre circulação de multidões e mercadorias (largas avenidas para agilizar o transito) e buscam desencorajar a aglomeração de grupos organizados (praças concebidas como pulmões; espaço para vegetação dificulta a aglomeração).</div><div style="text-align: justify;"> Na França de Napoleão III o barão Haussmann faz uma remodelação urbana; largas avenidas fracionam os bairros populares para facilitar o acesso de carroças militares; o centro urbano deixa de ser um local de moradia. O traçado das vias principais prioriza o transporte de mercadorias; o acesso dos bairros pobres ao centro é dificultado.</div><div style="text-align: justify;"> O metrô opera uma revolução em Londres: as classes populares, antes precariamente instaladas em guetos próximos da área central, passam a morar em melhores condições em bairros mais afastados; os pobres agora só freqüentam o centro para trabalhar e fazer compras.</div><div style="text-align: justify;"> CONFORTO</div><div style="text-align: justify;"> O autor vê duas motivações na tecnologia do conforto: a busca de repouso para se recuperar da crescente fadiga produzida pelo trabalho industrial; e a individualização do repouso (móveis que outrora destinavam-se a atividades coletivas, como bancos e cadeiras, cedem lugar a móveis para repouso individual, como a poltrona). O ato de defecar, coletivo até o século XVIII (a latrina era conhecida como parlatório) torna-se individual e "confortável". Os transportes ferroviários, com bancos que deixavam as pessoas de frente umas para as outras, foram substituídos por bancos de sentido único.</div><div style="text-align: justify;"> Há uma mudança social: o contato coletivo dá lugar ao resguardo da privacidade e ao silêncio.</div><div style="text-align: justify;"> Os cafés, outrora espaços de intensa socialização e debate, dá lugar aos novos bulevares onde as mesas são postas na calçada e uma clientela de classe média consome tranquilamente seu café em silêncio.</div><div style="text-align: justify;"> ANÁLISE</div><div style="text-align: justify;"> O autor escreveu este capítulo baseando-se na obra Howards End (1910), de E. M. Forster, um romance que analisa as contradições entre cidade e o campo a partir da cidade de Londres durante o reinado de Eduardo VII.</div><div style="text-align: justify;"> O destaque é para o triunfo do individualismo proporcionado pelo novo ambiente urbano ("juntar, apenas...") retratando uma comunidade que é coesa porque seus habitantes não mantém relações pessoais; vidas isoladas e mutuamente indiferentes garantem um equilíbrio social, porem infeliz.</div><div style="text-align: justify;"> No romance as crises familiares são resolvidas num ambiente rural (a propriedade que dá nome à obra); a transformação do ambiente retrata o desenraizamento necessário para que surjam o colorido da vida e a percepção do outro.</div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-14841105759691027492011-07-04T15:33:00.000-07:002011-08-19T09:19:10.533-07:00Democratização de cima para baixo: isso funciona ?<div style="text-align: justify;"> Em trabalho de pesquisa feito sobre administração escolar, tomando por base algumas escolas públicas estaduais da região dos DICs, em Campinas, chamou a atenção de nosso grupo a questão de democratização do ensino.</div><div style="text-align: justify;"> Há um paradoxo aparente quando estudamos a legislação e comparamos com a realidade do dia-a-dia escolar: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394, de 20/12/1996) é uma legislação moderna e democrática, baseada na igualdade de condições de acesso, liberdade de ensino, pluralismo de idéias, respeito à liberdade e tolerância e na gestão democrática do ensino público (art. 3º.).</div><div style="text-align: justify;"> A gestão democrática é garantida por meio de vários mecanismos:</div><div style="text-align: justify;">• Acesso à docência e às funções de gestão exclusivamente por meio de concurso público e progressão baseada em avaliação de desempenho (art. 67).</div><div style="text-align: justify;">• Criação de órgãos eletivos que permitam aos docentes e à comunidade participar da elaboração da proposta pedagógica e da própria administração escolar (art. 12º., alínea VI, e art. 14º.).</div><div style="text-align: justify;">• Concessão de autonomia pedagógica, administrativa e financeira às unidades escolares (art. 15º.).</div><div style="text-align: justify;"> O Conselho Escolar, colegiado que reúne representantes da direção, funcionários, professores, pais de alunos e alunos, estabelecido como meta pelo Plano Nacional de Educação (lei 10.172/2001), é a máxima instância deliberativa da unidade escolar. Há ainda a APM (Associação de Pais e Mestres) e os estudantes possuem liberdade para se organizarem politicamente em Grêmios Estudantis.</div><div style="text-align: justify;"> Na prática, porém, verifica-se que os canais institucionais abertos não são utilizados, ou são utilizados raramente; a gestão democrática garantida pela legislação esbarra num obstáculo gigante, que é a cultura anti-política do povo brasileiro, descrita por Paranhos; a idéia popular de que política é algo sujo e não produz mudanças de fato leva à perda do “conceito de política como espaço de criação individual e coletiva, múltiplo, contraditório, conflituoso, aberto, no cotidiano da existência humana, à expressão dos mais diferentes desejos e interesses” (PARANHOS, p. 53).</div><div style="text-align: justify;"> O brasileiro carece de formação para exercer sua cidadania de forma crítica e participativa; apenas a organização da sociedade permite “dirigir ou controlar aqueles que dirigem”, como Mario Manacorda define cidadania (LIBANEO p. 119).</div><div style="text-align: justify;"> A escola é vítima da mesma apatia que imobiliza o movimento sindical e até a mesmo a democracia partidária; ao afastar-se dos canais legítimos de debate e decisão a população está inconscientemente permitindo que sejam apropriados por pequenos grupos agindo em interesse próprio.</div><div style="text-align: justify;"> Nas escolas pesquisadas verificamos uma sub-utilização dos canais democráticos; os colegiados atuam pro-forma, basicamente referendando as iniciativas da direção. O debate via de regra é restrito a assuntos corriqueiros, como as festividades que a escola promove ao longo do ano e as despesas com manutenção do prédio escolar. Isso fica evidente sobretudo em relação ao grêmio estudantil: o colegiado não possui espaço próprio para funcionar; a alegação de um dos diretores (“não temos espaço disponível para isso”) indica claramente o grau de importância atribuído à atuação política dos estudantes; e porfim a própria falta de consciência dos estudantes em relação ao órgão: o grêmio é entendido como uma espécie de auxiliar para organização de festas; chegou a realizar uma mobilização para arrecadar roupas para vítimas locais de uma enchente, mas não ocupa seu espaço político, não tem atuação reivindicatória. Um dos diretores atribui isso a uma conjuntura negativa: os alunos mais novos não têm interesse no assunto; os estudantes do noturno acabam assumindo o grêmio, mas o próprio fato de trabalharem de dia limita sua capacidade de atuação.</div><div style="text-align: justify;"> O sr. Adilson, com 20 anos de serviços na rede estadual e 9 como diretor da escola, é um quadro vivo da situação: é um homem que ama profundamente a unidade escolar e seus alunos, mas que está evidentemente cansado com o quadro massacrante que enfrenta todo dia. Ele cita um dado fundamental: quando iniciou seus trabalhos nesta escola cerca de 10% dos alunos apresentavam um quadro que ele define como abandono psico-social; eram crianças oriundas de famílias desestruturadas devido a problemas com drogas, álcool, criminalidade e problemas financeiros; crianças expostas a uma realidade de grande violência. Hoje ele acredita que quase 50% dos alunos da escola vivem alguma forma de abandono mencionada.</div><div style="text-align: justify;"> Tudo isso é usado como argumento para reforçar o discurso neo-liberal; não estamos vivendo uma crise de democratização, mas uma crise gerencial (GENTILI, p. 17). Ao invés de procurarmos criar uma cultura de diálogo entre comunidade e escola, para que possam se compreender e ajudar mutuamente, gastamos cada vez mais dinheiro público com foco voltado à “eficiência”: terceirização de serviços (no caso das escolas pesquisadas, a merenda escolar e o funcionamento da sala de informática) e recursos tecnológicos (uma delas possui, por exemplo, circuito fechado de TV para monitoramento de segurança).</div><div style="text-align: justify;">Nessas condições fica difícil pensar em cidadania ou em qualidade de ensino, pois falta o básico, que são noções primárias de moral e convivência; o diretor desabafa: “qualidade de ensino é uma batalha que não se pode vencer”. Sua fala nos remete diretamente ao cerne da questão: a rede pública vive sobretudo uma crise de fé, de acreditar no trabalho que precisa ser feito.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>Bibliografia</b></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">LIBANEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização; Cortez Editora, 5a. ed.</div><div style="text-align: justify;">PARANHOS, Adalberto. Política e Cotidiano: as mil e uma faces do poder; in Introdução às ciências sociais, 10a. ed., Campinas-SP, Papirus, 2001.</div><div style="text-align: justify;">GENTILI, Pablo; SILVA, Tomaz Tadeu da. Escola S.A., CNTE.</div><div style="text-align: justify;">LDB 96, disponível em http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf; consultado em 01/06/2011.</div><div style="background-color: transparent; border: medium none; color: black; overflow: hidden; text-align: justify; text-decoration: none;"><br />
Fonte: <a href="http://www.webartigos.com/articles/70292/1/Democratizacao-de-cima-para-baixo-isso-funciona-/pagina1.html#ixzz1RB8EY9NJ" style="color: #003399;">http://www.webartigos.com/articles/70292/1/Democratizacao-de-cima-para-baixo-isso-funciona-/pagina1.html#ixzz1RB8EY9NJ</a></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-490083286689299335.post-57646093754897847922011-07-04T15:30:00.000-07:002011-08-19T09:20:49.989-07:00Revolução Industrial : breve sumário de causas e consequências<div style="text-align: justify;"><b>As Causas</b><br />
<br />
David Landes traça um interessante quadro das condições que permitem o desenvolvimento da Revolução Industrial na Inglaterra a partir de 1750: é um processo articulado que inclui transformações políticas, sociais e econômicas.<br />
A mecanização dos processos de produção, normalmente considerada como o ponto de partida do processo, na verdade permaneceu em compasso de espera até que surgissem as condições estruturais para a efetiva operação de um modelo fabril; o processo de fabricação da lã, por exemplo, já é parcialmente mecanizado desde o século XI, com martelos movidos a água; o tear mecânico data de 1598 (LANDES, 86).<br />
Há na verdade uma somatória de condições político-econômicas favoráveis surgidas ainda na fase pré-industrial (baseada em oficinas artesanais independentes) que vai estimular a mecanização:<br />
<a name='more'></a><br />
1. Oferta abundante de lã bruta<br />
2. Longo período de paz (ao contrário do continente, sempre instável)<br />
3. Afluxo de artesãos estrangeiros<br />
4. Fácil acesso dos centros de produção aos mercados por vias navegáveis<br />
5. Crescimento demográfico acentuado<br />
6. Ausência de barreiras alfandegárias<br />
7. Investimento público/privado em estradas, pontes e vias fluviais<br />
8. Mercado interno com alta renda per capita<br />
9. Sociedade com alta mobilidade de classe<br />
10. Aristocracia com aspirações burguesas, interessada em investir na produção<br />
<br />
A produção em oficinas de tecelões logo se revelou incapaz de atender a crescente demanda (o consumo de algodão salta de 2,5 milhões de libras em 1760 para 22 milhões em 1787); entre as dificuldades da oficina estão o sistema tradicional de trabalho (obstáculo ao aumento de produtividade da mão-de-obra contratada) e os furtos constantes de matéria-prima.<br />
Uma grande demanda por produção ocorreu no passado, na Itália e em Flandres, mas não foi suficiente para produzir uma revolução industrial. Esse momento é específico: a grande demanda torna-se imperativa devido à capacidade de pressão política da ascendente classe burguesa da Inglaterra, pois a criação do novo ambiente fabril demanda três grandes transformações:<br />
<br />
• Surgimento de grandes propriedades rurais voltadas à produção de matérias-primas em larga escala; é o processo de cercamento, voltado inicialmente à produção de lã.<br />
• Desarticulação das guildas (ligas de tecelões) e aproveitamento dos trabalhadores rurais que migram para as cidades; substituição das oficinas artesanais pela fábrica.<br />
• Desenvolvimento tecnológico direcionado ao aumento da produção.<br />
<br />
A precocidade com que o processo industrial ocorre na Inglaterra deve-se ainda ao estímulo de dois fatores: o ambiente sócio-cultural favorável às atividades comerciais, e o grande afluxo de capital destinado à mecanização da produção, o que estimula o rápido desenvolvimento tecnológico; ambos derivados do interesse da aristocracia em participar dos processos de produção.<br />
É nesse ponto que o progresso tecnológico torna-se preponderante: a siderurgia desenvolve-se para atender o crescente uso de ferro nos novos maquinários; o uso de caldeiras e tubulações de ferro vai levar à grande descoberta que vai revolucionar os processos de produção: o uso do vapor para movimentar o maquinário.<br />
A substituição do esforço animal pelo vapor inicia uma era inteiramente nova para a humanidade; é difícil para nós, hoje tão habituados à mecanização, entender o quadro de novas possibilidades que se abriam. Em 1870, por exemplo, a capacidade da máquinas a vapor da Inglaterra era de 4 milhões HP; para gerar isso com força animal seriam necessários 6 milhões de cavalos!<br />
A partir da disseminação do uso de máquinas a vapor a produção industrial conhece um salto fabuloso:<br />
A produção de ferro-gusa pula de 125.000 toneladas em 1796 p/ 2.700.000 de toneladas 50 anos depois.<br />
O consumo de carvão vai de 11 milhões de toneladas em 1800 para 100 milhões em 1870.<br />
A produtividade do homem aumenta em mais de 100 vezes em pouco mais de meio século!<br />
<br />
Mudanças Sociais<br />
<br />
Leo Huberman identifica a evolução dos sistemas de produção em quatro estágios, no período entre os séculos XVI e XVIII:<br />
1. Sistema familiar: produção essencialmente para atender o consumo próprio; comercialização eventual do excedente.<br />
2. Sistema de corporações: liderado por mestres artesãos independentes, donos da matéria-prima e dos meios de produção.<br />
3. Sistema domiciliar: criado para atender ao crescimento da demanda, o mestre artesão e seus ajudantes trabalham com matéria-prima fornecida pelo encomendante, mas ele ainda é proprietário das ferramentas.<br />
4. Sistema fabril: o trabalhador perde completamente sua independência; fica num ambiente controlado pelo empregador (fábrica) e vende sua força de trabalho (HUBERMAN, 125).<br />
<br />
Maurice Dobb considera que a formação do proletariado é conseqüência direta do processo de concentração rural, sobretudo o cercamento dos campos e a dispersão os dependentes feudais. A grande propriedade rural voltada à produção de lã formou-se às custas da apropriação de terras e expulsão do pequeno campesinato (DOBB, 160).<br />
A legislação medieval que restringia a migração do trabalhador rural para a cidade é modificada; as corporações são desarticuladas, e o estado passa a incentivar a migração como forma de manter os salários baixos; chega até a instituir o trabalho sob coerção para atividades com dificuldades para arregimentar braços, como a mineração (idem, 167).<br />
Esse período de grande crescimento demográfico (a população mundial dobra entre 1780 e 1880, chegando a 1,5 bilhão) e rápida urbanização passa a ser o cenário do espetáculo da pobreza retratado por Maria Stella Bresciani: as multidões de trabalhadores das fábricas, viviendo amontoadas em bolsões de miséria. Habituados ao ritmo do trabalho rural tradicional, estes trabalhadores são naturalmente avessos à exploração do trabalho industrial, presos ao ritmo da máquina e do relógio. Uma nova legislação vai classificá-los como vagabundos, enquanto uma nova moralidade social vai enaltecer a positividade do trabalho (BRESCIANI, 80).<br />
O trabalho fabril na Inglaterra do século XIX : jornada de trabalho de 12 a 16 horas; restrições para tomar água ou mesmo usar o banheiro; exploração do trabalho infantil em larga escala; acidentes freqüentes na operação do maquinário.<br />
Huberman cita o caso de um proprietário de escravos das Índias Ocidentais que fica chocado ao ver as condições em que crianças trabalham em Londres (HBERMAN, 192).<br />
Essas massas são vistas com apreensão pela alta sociedade; há uma cobrança constante por mecanismos de controle social. Os ingleses usam com êxito uma combinação de moral religiosa e direitos naturais de inspiração iluminista que incentivam a resignação; apenas a grande fome da década de 1880 vai fazer com que trabalhadores londrinos se organizem para fazer greves e reivindicações (BRESCIANI, 106).<br />
Na França, porém, o imaginário das classes menos favorecidas tem uma herança de identidade enquanto povo e de recurso à violência para promover mudanças políticas; o temor das jornadas revolucionárias e as agitações de 1830 e 1848 trarão como reação a organização de um forte aparato policial para reprimir manifestações (idem, 120).<br />
As estratégias de controle social são também tema do capítulo de Richard Sennet, Individualismo Urbano; na segunda metade do século XIX o espaço urbano das grandes cidades passa por reformas que privilegiam a velocidade de movimentação de pessoas e mercadorias e o controle social; os pobres são progressivamente removidos das áreas centrais das cidades.<br />
Sennet vê ainda a cultura coletiva do campo ser substituída nas cidades por uma valorização da individualidade; esse ambiente de isolamento e indiferença pelo destino alheio funciona como fator de equilíbrio social e obstáculo à mobilização (SENNET, 264).<br />
Parece contraditório que a mesma classe social que liderou um dos processos mais transformadores da Humanidade adotasse ao mesmo tempo um código de conduta extremamente conservador; a moral burguesa é impregnada de uma obsessão pelo autocontrole; uma moral repressiva que faz com que o indivíduo seja atormentado pela autocensura (GAY, 10). A naturalidade, a paixão, o prazer, são contrários ao ideal puritano burguês; apenas se dá valor ao autocontrole e ao que confere prestígio (HOBSBAWN, 2). Nesse contexto o casamento é um instrumento de ascensão social; um assunto a ser tratado de forma calculista, onde a paixão pode ser um empecilho para uma “feliz união”.<br />
No outro extremo da escala social, as duras condições de trabalho e de vida do proletariado, em meio à fome e às doenças, vão ser o ponto de partida de projetos de reforma social, entre os quais se destacarão as idéias socialistas de Karl Marx. Aqui está o nascedouro dos movimentos sindicais e da luta que forçará progressivamente o estado a regular as relações entre trabalhadores e empregadores.<br />
<br />
Conclusão<br />
<br />
Fica evidente que a Revolução Industrial é um dos principais eixos de transformação deste gigantesco processo que concebe o mundo contemporâneo: fruto da expansão comercial européia e da ascensão de uma nova classe social, a fábrica vai criar um novo modelo de sociedade, capitalista; reunidos para operar suas máquinas, os operários vão compor a força política que disputará com os burgueses o controle da nova sociedade industrial; suas diferenças serão um dos principais componentes dos conflitos armados do século XX e da divisão do mundo em dois grandes sistemas políticos. Antes disso, porém, a fábrica estará equipando os exércitos do imperialismo europeu empenhados numa expansão para conquistar sobretudo novos mercados.<br />
O imaginário vai ver a fábrica como um dos grandes símbolos de nossa sociedade; o poder das nações vai ser medido pela sua capacidade de industrialização. Gerência empresarial tornou-se um modelo para quase tudo; num certo sentido, é como se toda a sociedade se concebesse como uma gigantesca fábrica, um arquétipo da própria sociedade.<br />
<br />
Bibliografia<br />
<br />
BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX: o espetáulo da pobreza. Editora Brasiliense.<br />
DOBB, Maurice. A Evolução do Capitalismo. Rio de Janeiro,, Zahar Editores, 1983.<br />
GAY, Peter. A Paixão Terna, vol. 2. Cia. Das Letras.<br />
HOBSBAWN, Eric. A Era do Capital. Disponível em: http://66.228.120.252/resenhadelivros/2701150 consultado em 21/05/2011.<br />
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1973<br />
LANDES, David S. Prometeu Desacorrentado. Editora Nova Fronteira.<br />
SENNET, Richard. Carne e pedra, o corpo e a cidade na civilização ocidental. Rio de Janeiro, Editora Record.</div><div></div><br />
<div style="background-color: transparent; border: medium none; color: black; overflow: hidden; text-align: justify; text-decoration: none;">Fonte: <a href="http://www.webartigos.com/articles/70289/1/Revolucao-Industrial/pagina1.html#ixzz1RB7PdAtJ" style="color: #003399;">http://www.webartigos.com/articles/70289/1/Revolucao-Industrial/pagina1.html#ixzz1RB7PdAtJ</a></div>Marcelo Camposhttp://www.blogger.com/profile/03807637140667839279noreply@blogger.com1