Creio
que este livro de Bárbara Tuchman é um exemplo excelente de como a história, a
despeito de todas suas pretensões científicas, é uma atividade essencialmente
literária. O historiador de sucesso é, em grande medida, um magnífico narrador.
Uma boa narrativa, infelizmente, exige um roteiro bem definido; em outras
palavras, certezas. Algo no estilo do “foi exatamente assim que as coisas
aconteceram”.
O
historiador gosta de chamar a atenção para sua pesquisa documental sempre que
quer realçar de onde emana a autoridade com que faz algumas declarações;
Barbara não foge à regra: “todas as condições de tempo, pensamentos ou
sentimentos e estados de espírito públicos ou particulares, das páginas
seguintes, têm uma base documental”. É apenas lamentável que ela não seja tão
franca em apresentar as escolhas que fez quando a documentação era omissa ou
contraditória em algumas questões importantes.
Não
quero de forma alguma tirar o mérito da obra; “Canhões de Agosto” ganhou o
Prêmio Pulitzer de 1962 e é seguramente uma das melhores obras sobre os
momentos iniciais da Primeira Guerra Mundial; o único livro que se aproxima é
“Agosto 1914”,
de Soljenitzin, que trabalha com um recorte temporal e geográfico muito mais
específico, da invasão da Prússia por forças russas no inicio do conflito,
enquanto Bárbara cobre os acontecimentos das duas frentes.