Sinopse de artigo do prof. Ulpiano T.
Bezerra de Meneses [1]
O objetivo do autor é refletir sobre
o potencial e a especificidade do estudo da cultura material, e demonstrar como
algumas abordagens tradicionais sobre o assunto limitam o campo de estudo, não
só na História Antiga como em todos os domínios da História.
Ele inicia explicando as três
posturas usuais que encontra, usando como referência principal a bibliografia
recente da História de Grécia e Roma:
- Marginalização da cultura material: a ênfase está nas estruturas mentais e nas fontes literárias, há um desprezo pelas realidades físicas.
- Uso instrumental da cultura material: a mais freqüente delas, onde a informação arqueológica serve de controle ou complementação da documentação textual; serve basicamente para datar ou confirmar/negar o que está escrito, no estilo de livros como E a Bíblia tinha razão; arqueologia vista como disciplina auxiliar da história.
- Uso didático da cultura material: o universo material serve apenas para ilustrar as afirmações do texto; usualmente empregado em manuais de história.
O autor considera que estas posturas
são fruto de uma série de alegações equivocadas sobre a natureza da
documentação material:
- As coisas materiais são uma parcela reduzida dos fenômenos históricos, não expressam a totalidade do universo social.
- Além de parcial, a documentação material é aleatória, produto de filtros culturais (rejeito, abandono, perda casual) e naturais (processos biológicos, geológicos).
- Há um fosso intransponível entre o sítio arqueológico e o sistema cultural que o produziu; o que mais caracteriza o depósito arqueológico é o lixo, o que foi excluído do ciclo vivo da atividade cultural.
Rebatendo essas alegações, o autor
cita estudos que demonstram como os objetos podem transcender a esfera de
satisfação de necessidades e se inserir na significação de valores sociais,
constituindo e operando um sistema de comunicação; como é o caso do vestuário,
que além de informar sobre técnicas de manejo de materiais e situação econômica
possui toda uma significação que informa sobre relações sociais (sexo, idade,
profissão, status, etc). Além disso, os textos que chegaram até nós são tão
fragmentários e aleatórios quanto a cultura material.
A cultura material, como as fontes
literárias, não é auto-explicativa; ambos necessitam de análises por inferência
e abstração.
E finaliza destacando o potencial da
documentação física: além de informar sobre sua própria materialidade (matéria
prima e seu processamento, tecnologia, morfologia, funções), fornece em grau
considerável informação de natureza relacional, remetendo às formas de
organização da sociedade que a produziu e consumiu. Ela é particularmente
vantajosa em relação aos documentos literários quando informa sobre o universo
quotidiano de uma sociedade; e como, ao considerá-la como produto e vetor de relações sociais, ela auxilia
não só a determinar formas de organização social, mas também sua estrutura,
funcionamento e comportamento ao longo do tempo, e suas mudanças; estudos como
os de análise espacial dão suporte
fundamental para compreender atividades, relações e organização; estudos
demográficos (sobretudo a partir de restos ósseos ou restos alimentares)
permitem avaliar a escala de fenômenos sociais; os trabalhos em contextos funerários abrem um vasto
leque de informação sobre status, hierarquias, diferenciação social, etc. Essa
capacidade de estudar sistemas sócio-culturais, no entendimento do autor,
confere à Arqueologia seu status próprio como ciência, o de História da cultura
material.
Muitas
perguntas nunca serão respondidas. Fica óbvio, porém, que outras muitas não
foram até hoje respondidas por que nunca foram propostas.
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