quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Império Romano e sua religiosidade: o exemplo do culto de Isis


Estátua romana de Isis


Sinopse do artigo de Ana Carolina C. Alonso, in NEArco

            Longe de estar focado na expansão territorial, como tradicionalmente se apresenta (a maior expansão ocorreu durante a República), a grande missão do Império foi desenvolver a máquina administrativa, consolidar e manter o território unido.
            Um império tão vasto e com tamanha diversidade cultural exigiu relações de poder que atendessem ao mesmo tempo a elite do império e as necessidades provinciais.
Isso produziu uma flexibilização do que significava “ser romano”; a condição de cidadão, por exemplo, foi progressivamente estendida aos habitantes das províncias, até que se tornou universal (para todos os habitantes livres) em 212 dC. Há igualmente um esforço em integrar símbolos e signos locais à cultura romana. É claro que esse processo tem, além da intencionalidade política e/ou social, um grau expressivo de desdobramentos espontâneos que perfazem o fluxo da história; além disso, a apropriação cultural ocorre de forma bidirecional. Essa percepção alterou significativamente a idéia de romanização; a bidirecionalidade é particularmente perceptível na presença de elementos característicos das províncias nos vestígios materiais da urbe,a despeito da relação assimétrica entre a urbe e a periferia.
            Nesse sentido, uma parte fundamental da formação da identidade romana se dava através da religião; a relação ser humano/divindade é intrinsecamente ligada às relações sociais; termos como religio e supestitio vão ter seus significados seguindo paralelamente com as mudanças sociais de identidade.
            Vários elementos vão atuar como veículo de penetração dos cutlos orientais na sociedade romana: a presença dos escravos, que permanecem fiéis às suas crenças nativas; a permanência das legiões romanas nas províncias por longos períodos e a circulação dos comerciantes, que facilitam o fluxo cultural dentro do império.
            O culto de Isis é distinto de outros cultos praticados em Roma; não é correto considerar as religiões orientais que chegam à Roma como um grupo padronizado com as mesmas características; elas são específicas entre si e diferentes quanto a seus elementos constitutivos.
            Da mesma forma, ao penetrar na urbe e ser ali praticado, o culto passa a se diferenciar substancialmente de seu ancestral oriental.
            Um dos diferenciais entre a religiosidade egípcia e a romana é a noção de templo; para os egípcios o templo é permanentemente sagrado por ser residência de um deus; o povo não adentra todas as dependências do templo, muitas delas são fechadas e de uso exclusivo dos sacerdotes. Rituais constantes são oficiados para conservar os princípios divinos do lugar, e a adoção destes rituais também é uma novidade entre os romanos; os detalhes ritualísticos são descritos por Apuleio e Plutarco, importantes fontes que documentam o entusiasmo que o culto isíaco produziu em Roma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário