sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Bin Laden – O homem que declarou guerra à América (Yossef Bodansky)


Sinopse do Livro

           Osama Bin Laden nasceu em 1957; seu pai, Muhammad Bin Laden, tornou-se um importante empreiteiro com o boom do petróleo nos anos 70. Osama estudou administração e economia. No inicio dos anos 70 iniciou contatos com fundamentalistas islâmicos. A onda fundamentalista ganha força com o assassinato do rei Faisal por seu sobrinho, pró-ocidental, em 1975. Jidá, onde vive Osama, torna-se importante centro fundamentalista sob influência de estudantes egípcios; a aproximação de Sadat com o ocidente levou à formação do Partido de Deus, contrário à influência ocidental.
           A vitória da Revolução Iraniana, em 1979, comandada por Khomeini, aumentou o entusiasmo dos fundamentalistas. No mesmo ano um grupo fundamentalista liderado por Juhayman tentou derrubar a monarquia pró-ocidental da Arábia Saudita; ocuparam a Caaba, e parte da Guarda Nacional aderiu ao movimento; apenas um grupo francês de elite conseguiu derrotá-los.
           Ainda em 1979 a URSS invadiu o Afeganistão para conter a agitação fundamentalista; a agressão foi condenada por todo o mundo árabe. Mas o temor do poderio soviético impediu reações dos governos locais. Foram voluntários fundamentalistas que partiram para auxiliar o estado invadido. Osama estava entre eles.
           No inicio de 1980 Osama ajudou a organizar os primeiros campos de treinamento de voluntários no Paquistão. Lá entrou em contato com o xeique Abdallah Yussuf Azzam; Azzam militou na luta armada dos palestinos contra Israel; em seguida estudou no Egito e lecionou em Jidá, onde Osama o conheceu. Osama utilizou equipamento da construtora da família para construir estradas e instalações. Sua equipe foi por diversas vezes alvo de helicópteros soviéticos, e ele seguia trabalhando sob fogo, ignorando o perigo.
           A invasão soviética produziu um fenômeno curioso: a progressiva aproximação entre fundamentalistas islâmicos e os Estados Unidos para combater um inimigo comum. Por pressão americana Sadat começou a fornecer armas aos combatentes mujahedins em 1980; logo passou a enviar oficiais do exército para treinar os guerrilheiros.
           No mesmo período Riad utilizou os serviços de Osama para organizar uma rebelião fundamentalista no Iemen do Sul e derrubar o governo comunista lá instalado; ele participou pessoalmente de alguns combates, mas o movimento não teve êxito; a operação, no entanto, abriu-lhe um canal direto de intercâmbio com o rei Fahd.
           Os mujahedins, em torno de 3.500 em 1980, chegaram a 20.000 em 1985; voluntários vinham do mundo todo, inclusive do ocidente. A maioria vinha do Egito, fugindo da repressão desencadeada pelo governo após o assassinato de Sadat em 1981. O Paquistão tornou-se a principal base de operações; o governo dava suporte aos fundamentalistas com dinheiro e apoio do exército e serviço de inteligência (ISI); os paquistaneses tinham experiência de ações terroristas, patrocinando desde 1970 os separatistas sikhs e o Exército de Libertação da Caxemira. A CIA era outro importante parceiro, sobretudo pelo apoio financeiro.
          Em 1986 Osama participou da Batalha de Jalalabad e liderou comandos em diversas operações ousadas contra forças soviéticas; adquiriu fama de comandante talentoso e corajoso.
           A partir deste ano a OLP passou a treinar seus comandos no Paquistão e arregimentar lá voluntários para atentados em Israel. Em seguida chegou maciça ajuda dos iranianos. Em agosto de 1988 houve uma importante retaliação russa: um comando sabotou o avião onde estavam o presidente paquistanês Zia ul-Haq, o chefe do ISI e o embaixador americano; 28 pessoas morreram. Benazir Bhutto, a nova presidente, intensificou a cooperação com os jihadistas.
           A URSS retirou-se do Afeganistão em 15/02/89. A vitória foi um importante acontecimento para o movimento jihadista; a ofensiva final, no entanto, foi administrada de forma criminosa pelo Paquistão: organizações menos alinhadas com Islamabad receberam ordens de atacar frontalmente Jalalabad; o resultado foi uma carnificina. A partir daí os grupos que dariam origem ao Talibã tornaram-se majoritários no movimento de libertação. Osama e outros jihadistas sentiram-se traídos pelo Paquistão e EUA. O discurso anti-paquistanês teve resposta imediata: em 24/11/89 uma bomba destruiu o carro do xeique Azzam em Peshawar.
           No mesmo ano Obama voltou à Arabia Saudita; foi recebido como herói. Assumiu uma função administrativa na construtora da família e mudou-se com a própria família para Jidá.
Mas em agosto de 1990 novos acontecimentos alterariam definitivamente os rumos de sua vida: o Iraque invadiu o Kuwait; Riad, aliada tradicional do principado, entrou em pânico, temendo que os tanques iraquianos iriam invadir a Arábia Saudita. Osama ofereceu ao governo seus serviços e prontificou-se a organizar uma brigada de jihadistas para combater Saddam. Mas Riad preferiu a proteção de tropas americanas, que não saíram mais da Arábia Saudita; a presença de forças ocidentais no solo sagrado da Arábia escandalizou profundamente os fundamentalistas. Osama reagiu recomendando um boicote a produtos americanos; a violenta reação de Riad fez com que partisse em exílio para o Sudão, em 1991.
O Sudão tinha um governo fundamentalista desde o golpe de 30/06/89 que levara o general Omar al-Bashir ao poder. Hassan al-Turabi tornou-se o líder espiritual do país.
           A Guerra do Golfo abalou a tradicional unidade entre as nações árabes; a aliança com nações ocidentais para combater um pais muçulmano ficou conhecida entre os árabes como Al-Azma (A Crise), comparada em consequências à Al-Naqba (holocausto, a criação do Estado de Israel). A indignação dos fundamentalistas com a crescente influência norte-americana na região levou à formação da Irmandade Muçulmana Internacional (IMB) e à constituição de um braço armado do movimento; o Sudão alia-se ao Irã e Cartum torna-se peça chave das novas estruturas do terrorismo fundamentalista; campos de treinamento são organizados e as primeiras ações desenvolvidas são atos de sabotagem contra o regime de Mubarak no Egito. Em 1991 o presidente iraniano Ali Rafsanjani visitou o Sudão. Osama logo tornou-se figura importante do novo movimento, organizando a complexa rede financeira que permitia receber e enviar fundos para o mundo todo. Al Zawahiri começa a organizar a rede terrorista na Europa; na Bósnia houve treinamento de 4 mil combatentes. Osama assumiu ainda a construção de toda infraestrutura necessária para as operações, incluindo estradas, aeroportos e instalações de treinamento e armazenagem de equipamento. Em 1996 já havia 23 campos de treinamento no país. Desde 1991 há também um acordo que inclui apoio do governo líbio; treinamento é ministrado para grupos egípcios, o Hezbollah (Líbano) e o FIS (Argélia). A cooperação entre os diferentes grupos fundamentalistas aumenta; são organizados grupos xiitas na Tanzania, Quenia, Uganada, Burundi e Zaire. O plano é tornar o Sudão a nação dominante na região, incluindo o Chifre da África. Na Tanzânia é financiado o movimento separatista em Zanzibar. Os terroristas colaboram também na luta contra os separatistas cristãos do sul do Sudão.
           A ação fundamentalista aumenta a instabilidade política na África e o quadro de conflitos étnico-religiosos, como a luta de independência da Eritréia muçulmana (1993) e os conflitos étnicos na Somália. A intervenção da ONU e o envio de tropas americanas à região no final de 1992 aumentam o conflito; Sudão e Irã fazem um acordo para ações conjuntas que expulsassem os americanos; os grupos organizados para a operação receberam o nome de Al-Qaeda.
           O autor frisa que o Iraque colaborou ativamente com a resistência na Somália, e que teria enviado um grupamento de elite com 1.200 soldados para dar suporte a ações contra os americanos.
           Em 26/09 um helicóptero Blackhawk americano foi derrubado em Mogadiscio; em outubro mais três aparelhos foram destruídos numa gigantesca emboscada; houve 18 mortes e 78 americanos ficaram feridos. A humilhante retirada das forças americanas foi uma importante vitória para a Jihad fundamentalista. Em 1993 houve uma tentativa frustrada de atentado contra o World Trade Center, em Nova Iorque. Em 1994/95 o Paquistão intensifica o treinamento de terroristas; há comandos atuando na Chechênia, Bósnia, Filipinas e Ucrânia.  Em 1994 o Talibã assumiu o controle da região de Candahar, com apoio paquistanês; logo dominariam a maior parte do país. Osama e Al-Zawahiri estiveram na Europa, organizando a estrutura internacional de suporte à ação dos comandos. As ações dos comandos são iniciadas nas Filipinas, um avião é destruido; uma ação para matar o Papa quando estivesse no país é descoberta e abortada.
           Em 26/06/95 houve um atentado contra Hosni Mubarak em Adis-Abeba organizado pelo Al-Qaeda; em novembro houve atentados contra americanos na Arábia Saudita.
           Em abril de 1995, sob pressão americana, Benazir Bhutto ordenou a prisão de alguns oficiais do ISI ligados às ações terroristas. Era uma fachada, em novembro foi assinado um novo acordo de cooperação com a inteligência iraniana (VEVAK); os oficiais foram libertados pouco tempo depois. A ação americana no Paquistão produziu uma retaliação: uma bomba explodiu na embaixada egípcia em Islamabad, em 13/11/95.
           A ação mais ousada ocorreu em 25/06/96: um caminhão bomba explodiu nas instalações americanas de al-Khobar, na Arábia Saudita; 19 soldados morreram. No mesmo ano Al-Zawahiri organizou comandos na Bósnia-Herzegovina para atacar forças americanas da ONU (IFOR).
           Em junho de 96 Teerã criou uma coordenação de vários grupos terroristas, desde a Jihad Islâmica Palestina, Jihad egípcia, Hezbolah libanês, Hamas, etc.; era o Hezbolah Internacional; o comitê supremo, de 3 integrantes, incluia Osama Bin Laden. Em 17/07/96 uma bomba destruiu um jumbo da TWA na Inglaterra.
           A pressão americana sobre o governo sudanês obriga Osama a transferir sua base de operações para o Afeganistão; ele é agora reconhecido como emir e comparado a Saladino.
           Num raro relato sobre a atividade da CIA no período, o autor admite que houveram negociações com os jihadistas: os americanos ofereceram liberdade de ação para a derrubada de Mubarak em troca do fim das operações na Bósnia. A negociação vazou e abriu uma série crise com o governo egípcio.
           O endurecimento da política americana contra o Iraque aumenta a tensão; em agosto de 1998 bombas explodiram nas embaixadas americanas do Quênia e Tanzania numa ação coordenada; mais de 250 pessoas morreram. Também em agosto o Talibã consolidou o controle sobre o Afeganistão; fundos sauditas financiaram as operações militares. Bases do Talibã são bombardeadas em retaliação pela ação nas embaixadas.
           Em setembro há diversas ações de comandos no Kosovo. Bin Laden inicia um ambicioso projeto de reconstrução de Candahar, com fornecimento de eletricidade e água encanada.
           O autor cita com exagerado destaque um suposto convite de Saddam para que Bin Laden trabalhasse no Iraque; não são citadas fontes, tal como a suposta cooperação na Somália. A argumentação parece mais um esforço em incriminar o governo iraquiano.
           O livro, escrito em 1999, termina com reflexões sobre o rápido processo de talebanização do Paquistão, como a recente implantação de reformas no processo judiciário e adoção de leis islâmicas.

Comentários

           Yossef Bodansky nasceu em Israel e vive nos EUA; foi assessor do Congresso para assuntos de terrorismo e também prestou assessoria ao Departamento de Defesa; seu texto tem os vícios de sua posição política: é pró-Israel, e consegue escrever um livro de 500 páginas sobre terrorismo com menções completamente inócuas sobre Israel; o Mossad não é citado em nenhum momento! Há dois vilões claramente indicados: Irã e Iraque; são estados criminosos, simplesmente. Os Estados Unidos são o poço das virtudes; o único erro inocente foi querer negociar com os jihadistas para proteger o processo de paz na Bósnia; é uma cutucada delicada nos democratas, que aparecem na descrição como meio inocentes.  Oferecer a cabeça de aliados (Mubarak, no caso) como moeda de troca parece apenas um detalhe bobo da história. O fracasso na Somália surge sob novas luzes: os americanos estavam, na verdade, em minoria de contingente e recursos; metade dos mais ativos serviços secretos do mundo árabe estavam montando uma armadilha profissional para os pobres fuzileiros! Olhando assim não parece uma derrota tão humilhante...
           O livro também minimiza a participação da CIA no financiamento e treinamento dos mujahedins afegãos, com temerárias afirmações de que o Paquistão detinha o controle do movimento e uma política independente de uso de terroristas para atender seu projeto geo-político. Eu acredito que a obra de Yossef está inserida no esforço político de justificar a já projetada intervenção no Iraque. A estrutura do livro sugere de forma sutil duas dinâmicas: a rápida organização de um movimento internacional focado em combater os norte-americanos e a tímida reação do governo estadunidense até o momento; embora analise corretamente o crescimento da estrutura terrorista e suas motivações, o autor faz declarações descabidas, como a de que a al-Qaeda já estaria de posse de artefatos nucleares. É seguramente um fonte que deve ser lida com reservas, uma vez que está inserida no jogo de interesses que buscavam influenciar os destinos da política exterior dos EUA.

Um comentário:

  1. COMPREI ESSE LIVRO NA INTERNET A UM INTERNAUTA BRASILEIRO QUE VIVE NO BRASIL E COLOCOU UM ANÚNCIO PARA VENDA DESSE LIVRO USADO MAS SEGUNDO ELE EM PERFEITO ESTADO DE CONSERVAÇÃO.ESTOU A AGUARDAR QUE ELE ME ENVIE O LIVRO.EM PORTUGAL NUNCA ENCONTREI ESSE LIVRO PARA VENDA EM LUGAR NENHUM.

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