segunda-feira, 4 de julho de 2011

Carne e Pedra (Richard Sennet)

     O autor analisa o rápido processo de urbanização que ocorre na segunda metade do século XIX; na Inglaterra há um quadro social em que 10% da população detem 90% da riqueza, e metade da população mais pobre tem apenas 3% da riqueza nacional; e ele se pergunta: o que explica a falta de uma revolução ?
     Ele considera que um dos fatores é o espírito individualista que surge nas cidades: "Cada pessoa age como se fosse estranha À sorte dos demais. Nas transações que estabelece, mistura-se aos seus concidadãos, mas não os vê; toca-os, mas não os sente; existe apenas em si mesmo e somente para si mesmo. Assim, sua mente guarda um senso familiar, não um senso social". (Tocqueville)
     O individualismo traz a perda da noção de destino e compartilhado e apatia dos sentidos; são as características da modernidade: velocidade e individualismo.
     As cidades do século XIX são planejadas com ênfase para a livre circulação de multidões e mercadorias (largas avenidas para agilizar o transito) e buscam desencorajar a aglomeração de grupos organizados (praças concebidas como pulmões; espaço para vegetação dificulta a aglomeração).
     Na França de Napoleão III o barão Haussmann faz uma remodelação urbana; largas avenidas fracionam os bairros populares para facilitar o acesso de carroças militares; o centro urbano deixa de ser um local de moradia. O traçado das vias principais prioriza o transporte de mercadorias; o acesso dos bairros pobres ao centro é dificultado.
     O metrô opera uma revolução em Londres: as classes populares, antes precariamente instaladas em guetos próximos da área central, passam a morar em melhores condições em bairros mais afastados; os pobres agora só freqüentam o centro para trabalhar e fazer compras.
 CONFORTO
     O autor vê duas motivações na tecnologia do conforto: a busca de repouso para se recuperar da crescente fadiga produzida pelo trabalho industrial; e a individualização do repouso (móveis que outrora destinavam-se a atividades coletivas, como bancos e cadeiras, cedem lugar a móveis para repouso individual, como a poltrona). O ato de defecar, coletivo até o século XVIII (a latrina era conhecida como parlatório) torna-se individual e "confortável". Os transportes ferroviários, com bancos que deixavam as pessoas de frente umas para as outras, foram substituídos por bancos de sentido único.
     Há uma mudança social: o contato coletivo dá lugar ao resguardo da privacidade e ao silêncio.
     Os cafés, outrora espaços de intensa socialização e debate, dá lugar aos novos bulevares onde as mesas são postas na calçada e uma clientela de classe média consome tranquilamente seu café em silêncio.
 ANÁLISE
     O autor escreveu este capítulo baseando-se na obra Howards End (1910), de E. M. Forster, um romance que analisa as contradições entre cidade e o campo a partir da cidade de Londres durante o reinado de Eduardo VII.
     O destaque é para o triunfo do individualismo proporcionado pelo novo ambiente urbano ("juntar, apenas...") retratando uma comunidade que é coesa porque seus habitantes não mantém relações pessoais; vidas isoladas e mutuamente indiferentes garantem um equilíbrio social, porem infeliz.
     No romance as crises familiares são resolvidas num ambiente rural (a propriedade que dá nome à obra); a transformação do ambiente retrata o desenraizamento necessário para que surjam o colorido da vida e a percepção do outro.

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