segunda-feira, 29 de novembro de 2010

História e Autoconhecimento

Hoje gostaria de falar um pouco sobre o projeto deste blog. Ele foi concebido com dois propósitos básicos: o primeiro é ser um espaço para compartilhar minha produção acadêmica da graduação de História e o segundo um ambiente para refletir a História enquanto ferramenta de busca do self, do si mesmo.
            Escrever bem demanda tempo e pesquisa, e tempo é algo que não tenho tido ultimamente. Então conto com a paciência do(a) amigo(a) leitor(a), o projeto está sendo implantado aos poucos, e espero que nas férias de fim de ano eu possa deixa-lo já com uma cara mais legal. Compartilhar os primeiros textos foi uma experiência linteressante, a demanda por resumos e resenhas de obras de historiadores tem uma enorme demanda na internet. História tem um enorme público, e é muito agradável perceber isso.
            Parte deste enorme sucesso dos assuntos históricos tem a ver com o segundo objetivo do projeto: a história enquanto busca de compreender o si mesmo olhando para o passado; não só coletivamente, como esforço para compreender a sociedade atual, mas na esfera individual. O indivíduo, ao mesmo tempo galho insignificante carregado pela poderosa correnteza do processo histórico, arrastado em meio às águas turbulentas das motivações humanas, e poderosa construção capaz de reter estas vagas e dar-lhe nova direção!

sábado, 20 de novembro de 2010

Pensando a Revolução Francesa - François Furet

    
      Resumo do livro Pensando a Revolução Francesa, de François Furet

“E a história que se escreve é também história dentro da história.”
Furet

1º. Biografias

François Furet (1927 - 1997): foi membro da resistência durante a guerra e membro do Partido Comunista por mais de dez anos, quando iniciou os estudos de história; rompeu primeiro com o stalinismo, e em seguida com toda a esquerda; a partir da década de 60 inicia os estudos da Revolução Francesa, e vai se converter num crítico ferrenho das interpretações marxistas e esquerdistas do fenômeno. Isso dará origem a um debate ácido em que será muitas vezes taxado de inconsistente.
 Aléxis de Tocqueville (1805 – 1859): escritor e historiador francês, célebre pela análise que faz da Revolução Francesa; oriundo de família aristocrática, seu avô foi guilhotinado durante o Terror  e sua família esteve exilada na Inglaterra. Foi deputado e em 1849 chefiou a pasta de Negócios Exteriores.
 Augustin Cochin (1876 – 1916), historiador vindo de uma tradicional família católica e pouco conhecido antes de Furet, faz uma análise histórico-sociológica da Revolução Francesa, usando conceitos de Durkheim; a maior parte de sua obra foi publicada postumamente, tendo ele falecido combatendo na I Guerra Mundial.
  
2º. Análise da Obra

            Como explica o próprio autor em seu prefácio, a obra é composta de duas partes: a primeira é uma síntese sobre como pensar um evento como a Revolução Francesa; na 2ª. Parte ele apresenta as etapas de sua pesquisa, sobretudo o estudo das obras de dois historiadores franceses, Aléxis de Tocqueville e Augustin Cochin, que ele considera complementares e na qual baseou seu sistema de interpretação.
             Furet é um crítico feroz da historiografia clássica da Revolução Francesa, sobretudo os chamados jacobino-marxistas; os historiadores marxistas do século XX , sobretudo, ao apontar a Revolução Francesa como o berço da Revolução de 1917, tornam-se teleológicos; a revolução deixa de ser um campo aberto de possibilidades, e o único futuro possível é a revolução soviética.
            Denuncia o que ele classifica de mito das origens, de ver em 1789 o ano zero da atual sociedade. Para Furet isso é resultado de uma construção ideológica dos próprios revolucionários, em busca de legitimar o movimento; eles se apresentam como as forças do futuro e da modernidade em ação.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Revolução Hispânica

Nação na América Espanhola – Questão das Origens
François-Xavier Guerra

            Dezenove nações saem de um mesmo conjunto político, a monarquia hispânica nas américas. Não há um movimento nacionalista antes da independência; a independência precede a nação e o nacionalismo.

Nação moderna:
  • Arquétipo de ordem ideal
  • Nova concepção de coletividade humana: novos laços sociais, estrutura, fundamento das obrigações políticas, relação com a história, direitos.

            A América no Antigo Regime é um mosaico identitário, apoiado na família, na raça e no local de nascimento.
            Duas dinâmicas: política e cultural
            Política:
            A base da estrutura política são as cidades; não há representação política fora dos cabildos municipais. Há uma concepção pré-absolutista do poder, visto como um pacto social com obrigações recíprocas.
            A crise é de origem externa, o vazio de poder provocado pela queda da monarquia; afeta o imaginário de pátria imperial (fidelidade do vassalo ao senhor, defesa da fé, preservação dos costumes). A necessidade de constituir uma nova unidade política esbarra na imensa fragmentação política baseada nas cidades. O que inicia como um movimento de união para defender o rei evolui rapidamente para um revolução por um novo modelo de sociedade; é a revolução no imaginário (1808). O modelo seguido nas américas vem dos liberais espanhóis (constituição de 1812).
            A origem da nação é essencialmente política; a esfera cultural será criada depois. Apenas reinos mais consolidados, como México e Chile, tinham uma identidade cultural anterior.

Chiaramonte: Origens da Nação Argentina

Povo:
Conjunto abstrato de indivíduos – igualdade política
No Antigo Regime: estamentos, corporações, estratificação (desigualdade política); população de uma cidade
Nação:
Identificada como expressão de nacionalidade a partir de 1830.
Ilustração, contrato social, população sujeita a um mesmo governante; sinônimo de Estado.
Estado:
Definição ambígua, devido à fluidez das fronteiras e indefinição da questão centralismo x autonomismo.
            A convocatória de 1810 é dirigida aos povos e cidades do Rio da Prata; não há ainda povo argentino; a pátria é a cidade, e a primeira representação do período de independência é o cabildo; a primeira identidade, a de americanos.
            O termo argentino é inicialmente usado para a cidade de Buenos Aires; usado para todo o pais a partir de 1826.

Cortez de Cadiz – Berbel

            Contextos de independência e debate parlamentar: EUA x parlamento britânico, Haiti x parlamento da Revolução Francesa.
            Cortes de Cadiz (1810-1814): o desaparecimento do rei faz o poder retornar ao povo; conflito entre colônias querendo maior autonomia x centralismo dos peninsulares.
            Exigências americanas:
  • Igualdade de representação nas cortes.
  • Inclusão das castas na participação eleitoral.
  • Autonomia administrativa para as províncias.
            As cortes rejeitam os pedidos americanos (agosto/1811); o caminho está aberto para a radicalização do discurso.
2ª. Revolução Liberal: em 1820 as cortes reuniram-se novamente; houve um esforça para formar uma commonwealth com o México, que fracassou; ele torna-se independente em fevereiro de 1822. Apenas Cuba, Porto Rico e Filipinas seguem ligadas à Metrópole.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

DONGHI, Tulio Halperin – A Crise da Independência

DONGHI, Tulio Halperin – A Crise da Independência

            A reforma bourbônica produziu reações adversas nas américas, sobretudo pelo aumento de impostos e o favorecimento de peninsulares na ocupação de cargos, mas não é causa imediata de ruptura. Os americanos querem na verdade negociar um novo pacto colonial. As rebeliões da época são basicamente contra os excessos da burocracia local; todas proclamam sua fidelidade ao rei.
            As rebeliões, mais que indicar a presença de novos elementos premonitórios da crise, revelam a persistência das debilidades estruturais.
            A circulação das novas idéias, sobretudo os novos conceitos republicanos, também prenuncia a crise. Mas é sobretudo no campo acontecimental que surgirão as motivações para a independência:

  • Revolução Francesa
  • Aliança entre Espanha e França; guerra com a Inglaterra; bloqueio inglês e liberdade de comércio com nações neutras.
  • Após Trafalgar, agravamento do bloqueio inglês; ataques ingleses no Prata, 1ª. Experiência de auto-governo em Buenos Aires.
  • França invade a Espanha; prisão do rei; aliança com a Inglaterra. O vazio de poder leva à formação das primeiras juntas

            Instalada a crise na Europa, as elites locais americanas buscam ocupar o vazio de poder que se produz, entrando em choque com a burocracia peninsular aqui instalada; governadores, cabildos e audiências disputam a legitimidade de governar as colônias. O aprofundamento do conflito entre criollos e espanhóis leva a acordos políticos em busca de apoio popular.
            Com a derrota da França e a restauração da monarquia tropas são enviadas para a América; reação legalista.
            A 2ª. Revolução liberal na Espanha (1820-1823) produz uma reviravolta na situação, diversos legalistas passam a apoiar a independência; as forças espanholas se enfraquecem. Inglaterra e Estados Unidos passam a apoiar abertamente as nações independentes.

Dinâmicas específicas:

Argentina: conflito entre autonomistas (Artigas) e centralistas (cabildo de Buenos Aires)
Colômbia/ Venezuela: reformismo moderado de Bolívar. Longa guerra civil agravada por conflitos raciais e interesses de elites locais.
México: diferente das outras regiões, onde a independência é patrocinada pelas elites, aqui a revolta parte de índios e mestiços e tem forte influencia religiosa. O partido peninsular alia-se às elites locais para derrotar a revolução popular. Com a revolução liberal na Espanha os monarquistas passam a apoiar a independência mexicana.