domingo, 6 de março de 2011

Uma morfologia da História: as formas da História Antiga

Resumo do artigo de Norberto Luiz Guarinello

            Objetivos do artigo:
1-     Apresentar idéias particulares sobre o modo como os historiadores pensam o passado para conferir-lhe sentido e apresentá-lo aos leitores. Ênfase nas limitações inerentes a qualquer tentativa de entender e interpretar o mundo.
2-     Repensar a História Antiga e a artificialidade das fronteiras internas criadas pela História Científica.
História Científica = opera através de formas com as quais os historiadores tentam dar sentido ao passado, criando uma sensação de realidade e completude.
Modo como o historiador produz e escreve História: A História é vista como reconstrução do passado; no entanto o passado é inacessível; nosso único acesso a ele é através de vestígios (objetos, textos ou recordações). O universo destes vestígios constitui o passado realmente existente hoje. Mas os vestígios não são o próprio passado e só o representam de modo indireto, através de mediações.
Estas mediações são a Ciência da História; algumas delas são explicitas, como as teorias ou modelos. Outras, como as formas, são menos visíveis.
As teorias da História, enquanto ciência, pressupõem:
·        Ordem no passado: o acontecido é racional, as sociedades humanas são organizadas e seu desenvolvimento segue certos princípios.
·        Os documentos são o fundamento da reconstrução do passado, a base para negar/confirmar realidades e a prova da ordem que existiu no passado.

            Teorias e modelos transformam vestígios em interpretações do passado e propõem reconstruções da história humana, a partir de diferentes relações de causa e efeito (ênfases em fatos políticos ou econômicos determinarão diferentes seleções de informações e modos diferenciados de relacioná-los).
            Além da associação entre teoria, modelos e documentos há as formas.
            O passado pode ser visto como um fluxo contínuo de eventos infinitos. Mas os vestígios são descontínuos e desconexos; a relação que se estabelece entre eles parte do pressuposto de que fazem parte da mesma realidade.
            Esse processo de generalização (grandes contextos) é a forma.
            Assim, História Científica é um jogo interpretativo entre modelos, teorias e documentos com base em generalizações ou contextos (formas). O processo de generalização tem vários graus: definir um período é um deles; definir ou nomear uma sociedade, ou uma cultura, ou uma área cultural, são outros.
            Exemplo de contexto: agricultura romana.
            Os grandes contextos tornam-se entidades por si mesmas, quase naturais. São mais inteligíveis, porém são mais arbitrários.
            Exemplo: inventários da cidade de Santana do Parnaíba nos sec. XVI-XVIII; se relacionados com documentos da Província de São Paulo, vão informar sobre as características específicas da colonização naquela região; num nível mais abstrato ela se comunica com a História da Europa e da expansão do cristianismo.

História Antiga
            Idéia criada no Renascimento, pressupondo ruptura e recuperação. É uma idéia européia, particular, mas apresentada como universalista.
            Incongruências:
·        A História Antiga aparece nos livros didáticos como uma evolução cronológica do progresso, passando de uma civilização a outra.
·        Há falhas conceituais nas divisões: a História da Grécia é basicamente Atenas/ Esparta. A História de Roma vai da cidade ao Império ignorando tudo que está no entorno.
            Razões para as incongruências:
            O conjunto de obras que forma a Tradição Clássica, base da produção histórica dos séculos XVIII-XIX (período de formação dos estados nacionais).
            Duas noções problemáticas: civilização e progresso (legitimação da expansão européia).

Conclusão
            A História Antiga é ainda um recorte útil para o presente, desde que reconheçamos sua arbitrariedade; retrata uma rica tradição, berço da própria ciência, porém, devemos lembrar que ela é específica, não universal, e não há o sentido de progresso que lhe atribuem.
            Ela ainda pode espelhar nosso presente; ex: o mundo mediterrâneo visto como micro-globalização e ajudando a entender problemas de nossa época.